Nesta quinta, dia 02, o Giro do Boi exibiu entrevista com a pecuarista Carmen Perez, titular da Agropecuária Orvalho das Flores, localizada em Barra do Garças, no Vale do Araguaia mato-grossense. A propriedade, que trabalha focada na cria e comercialização de bezerros, recebeu uma visita da professora da Colorado State University Temple Grandin durante a passagem da pesquisadora norte-americana pelo Brasil.
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O roteiro da visita incluiu a observação da massagem nos bezerros ao nascimento, desmama feita no curral e apartação dos bezerros. “É um privilégio com muita emoção e aprendizado também”, resumiu Perez, que também é presidente do Núcleo Feminino do Agronegócio.
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Segundo a pecuarista, além de conhecimento, a pesquisadora também demonstrou muito ânimo em sua primeira visita a uma propriedade no Centro-Oeste brasileiro. “Ela pegou a bandeirinha e ficou lá atrás comigo no manejo o tempo inteirinho. Ela quis ficar lá. Teve uma hora até que chamaram e falaram: ‘Temple, você não quer descansar?’. Ela respondeu ‘Não, não, eu quero ficar aqui’. Então foi super interessante, ela é muito entusiasmada, tem muita energia”, recordou Carmen Perez.
A pecuarista assumiu a Agropecuária Orvalho das Flores há 16 anos e há cerca de 11 tomou uma decisão: teria que mudar a forma como os animais eram manejados ou venderia a propriedade. “O manejo me incomodava demais. Mais de onze anos atrás eu já não queria mais frequentar curral. Desmama, qualquer manejo, vacinação… Eu achava que era impossível ficar no curral. E eu fui em uma fazenda de um pecuarista chamado Helvécio Argeu, em São Miguel do Araguaia (GO) e eu vi um manejo muito harmonioso. Eu pensei que se existia isso, eu poderia aplicar na fazenda. Foi quando eu chamei o professor Mateus (Paranhos).”
Para a primeira primeira visita à fazenda do professor da Unesp de Jaboticabal-SP e coordenador do Grupo Etco, a produtora reuniu todos os seus funcionários, desde os peões até tratorista e salgadores, para passar o recado. “Vocês têm que estar abertos porque a gente vai mudar. Se a gente não mudar, eu não vou continuar a trabalhar nesta fazenda. A gente vai vender”, lembrou.
Desde então a fazenda passa por um processo lento e contínuo de melhoria de práticas que levam ao bem-estar animal. “Eu falo que o processo continua porque esse trabalho de boas práticas é um trabalho para sempre. As pessoas vivem de estímulo e a equipe precisa estar estimulada sempre. Tem que estimular a equipe, as pessoas e mostrar como se faz, como é feito, o porquê”, destacou.
Uma das estratégias para fazer com que sua equipe aderisse às novas práticas, segundo Carmen, foi estabelecer valores reais dentro da fazenda, que fossem facilmente absorvidos pelos colaboradores. “E a gente foi medindo também. ‘Vamos fazer esta desmama? Então vamos pesar’. Pesamos antes, passou sete dias, vamos pesar de novo. O gerente ligou e falou ‘Carmen, os bezerros ganharam peso! Ganharam 15 kg de média!’. Então tudo isso foi medido para que existisse uma prova daquele resultado. Com isso eles foram percebendo a diferença do trabalho”, detalhou a produtora rural.
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Além de tranquilizar os animais com as novas práticas, a qualidade de vida dos integrantes da equipe da fazenda também evoluiu, e o curral não é mais um ambiente de estresse. “Eles perceberam que aquilo era bom pra eles também, para a equipe era muito mais seguro. Foi caindo índice de mortalidade, isso reflete também em índice de prenhez, tudo isso foi transformando ao longo de todos esses anos”, mencionou.
Quem também se beneficiou com estas transformações foram os clientes da Agropecuária Orvalho das Flores, atestou Perez. “Eu tenho já meus clientes que são fixos há muitos anos e o que eles sempre me falam é que eles ficam muito impressionados com os nossos bezerros porque eles são muito calmos, muito fáceis de serem manejados. O gado manso ganha peso!”, enalteceu Carmen.
A pecuarista contou ainda que toda esta evolução aconteceu com poucas modificações de estrutura. O curral, ainda que antigo, tem serventia para uma boa condução de trabalhos, o que foi aprovado pela própria Dra. Temple Grandin. “Ela consegue enxergar detalhes que a gente não enxerga, e nós falamos bastante de estrutura porque o nosso curral é antigo. E ela falou que, mesmo sendo antigo, o manejo é muito bom. Na verdade, ela acha que é muito mais uma questão de a equipe saber trabalhar com calma e em silêncio do que ter um curral com muita tecnologia, mas sem uma equipe adequada, destreinada”, esclareceu.
Durante a entrevista, Carmen Perez ainda se surpreendeu com a resposta de Temple Grandin quando foi questionada, durante entrevista exclusiva concedida ao Giro do Boi, sobre qual a imagem mais bonita que lhe vem à cabeça quando o tema é bem-estar. A pesquisadora afirmou que foi o pôr-do-sol da Fazenda Orvalho das Flores, do qual tirou diversas fotos (veja no vídeo abaixo a fotografia). “Tudo na vida faz sentido quando existe um propósito. Eu sou muito grata ao meu trabalho, sou muito apaixonada pelo que eu faço, especialmente com essa causa do bem-estar animal, porque eu acho que faz sentido para mim. E ter a Temple lá foi um grande presente para mim, para a equipe e todos que estavam ao redor”, exaltou.
Confira a entrevista na íntegra clicando no vídeo abaixo:
Foto: Enilton Arneiro