Com preços dos grãos em alta, EUA podem bater recorde de área plantada

Especialista apontou que intempéries recentes não prejudicam o setor; “Perspectivas para o agro do Brasil e do mundo são muito positivas”, projetou

A nevasca que caiu sobre algumas regiões dos Estados Unidos nas últimas semanas não espantou o ânimo do produtor rural norte-americano, que incentivado pelos preços em alta das commodities pode até bater recorde de área plantada nesta safra.

Nesta quinta, 03, o chefe da mesa de commodities e gestor de riscos da JBS nos EUA, Marco Sampaio, apresentou um panorama do agro dos Estados Unidos em entrevista ao Giro do Boi.

Sampaio confirmou que as intempéries de inverno vistas recentemente não prejudicaram o setor. “Na verdade, o evento que aconteceu nas semanas anteriores foi algo muito pontual. O inverno tem sido muito ameno. Na verdade, está muito seco aqui nos Estados Unidos e não atrapalhou o agro porque a gente não está plantando nada ainda. Houve algum tipo de risco com relação ao trigo, mas para a camada de neve estar alta e o trigo estar em dormência, não teve nenhum tipo de perigo”, observou.

Em relação à produção de carnes, as indústrias sofreram algum impacto, mas logo reencontraram o equilíbrio em meio à situação. “No caso dos abates de bovinos e suínos, também teve algumas interrupções. A gente chegou a perder 10% do abate semanal de bovinos porque as fábricas no Texas não conseguiam rodar por problema logístico, falta de energia, e também a parte suína (foi prejudicada) porque não conseguia rodar. Mas o que aconteceu? Terminou trazendo um pouco mais de animais ficando mais no confinamento, por volta de 150 mil cabeças de boi que não foram abatidas naquelas semanas. Mas, em compensação, o preço da carne continuou subindo porque a demanda está muito boa. Então as coisas terminam se ajustando como sempre. Mas para o agro em específico não teve problema porque a gente nem começou a plantar a safra aqui. Foram problemas realmente de interrupção mais na parte de energia, de petróleo, etc. Mas, para o agro, não foi problema nenhum para a gente”, afirmou.

Os problemas pontuais não desanimaram o produtor. Sampaio apontou que, incentivados pelos preços das commodities, por sua vez sustentados por uma alta demanda chinesa, é possível que os produtores atinjam recorde de área plantada de grãos nos EUA. “A gente tem uma safra na América do Sul que ainda está sendo plantada e colhida – a safrinha está sendo plantada. Então qualquer risco na América do Sul pode refletir nos preços. E aqui na América do Norte, a gente tem que também ter uma boa safra, tem que ter um bom plantio. Com os preços nos níveis que estão, a gente deve ver uma área recorde aqui nos EUA. A soja hoje está sendo muito beneficiada, os preços da soja indicam que o produtor vai plantar o máximo possível e então a gente tem que ficar atento porque os preços vão continuar altos, tanto das carnes quanto dos grãos, da soja, o que vai ser muito bom para o produtor. Eu acho que esse patamar de alta vai perdurar por pelo menos um ano ainda, então as coisas vão ficar muito interessantes. Obviamente que a gente depende muito da China, tem que entender o que eles vão fazer, tentar entender o porquê. A gente tem que tentar entender a segunda, terceira variável da compra deles. E isso vai ser importante para que esse negócio continue sendo muito rentável para todos”, projetou Sampaio.

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“A China é o grande player desse mercado, comprando bastante carne, porco e frango do mundo inteiro, além de grãos, de soja. Então a China, que comprava menos de cinco milhões de toneladas de milho nos anos anteriores, agora está comprando 30 milhões de toneladas e no ano que vem vai comprar também. Então é tentar entender o que a China vai fazer, tentar entender […] se é para estoque estratégico, se é para consumo, se é porque está aumentando o rebanho e a produção de carne. Isso é muito importante. Os preços estão muito fortes, eu acho que os preços de milho e soja, com a situação de estoques finais relativamente apertados, a gente vai ver mercados em níveis mais altos que nos últimos dez anos”, analisou.

“Com os preços nos níveis que estão e deverão ficar, mesmo havendo quedas, que são normais, eu acho que o produtor vai continuar com muito incentivo de plantar o máximo que puder, ter uma rentabilidade e produtividade muito boa também. As perspectivas para o agro do Brasil e do mundo são muito positivas mesmo”, opinou.

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Confira a entrevista completa com Marco Sampaio pelo vídeo a seguir:

Foto: Reprodução / Prefeitura Municipal de Boa Esperança do Iguaçu-PR