A princípio, ainda tem “muita coisa errada” sendo feito com relação ao bem-estar animal de bovinos nas fazendas brasileiras. Foi o que alertou em entrevista ao Giro do Boi nesta quarta, 17, a engenheira agrônoma e analista de sementes da Soesp, Andreza Cruz. A especialista compartilhou com o pecuarista cinco dicas para começar a praticar – e melhorar – o trato dos animais dentro da porteira.
A analista destacou que o manejo de pasto, por exemplo, é algo que impacta diretamente as fazendas brasileiras dentro do tema. Tem muita coisa errada (sendo feita) e cada propriedade tem sua prioridade. Uma coisa que eu ainda fico muito chocada é o animal passar fome”, lamentou.
Conforme argumentou Cruz, a falta de planejamento forrageiro é responsável pelo problema. “Existem diversas estratégias para não deixar o animal passar fome e perder peso”, lembrou.
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A fome é um dos componentes do modelo de cinco domínios de bem-estar animal (veja mais pelo link a seguir). “Para mim isso é o mais chocante”, opinou a agrônoma.
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Mas além disso a especialista sustentou que é preciso mostrar aos pecuaristas, inclusive com índices zootécnicos, o quanto eles ganham com a evolução do bem-estar. “A gente precisa muito dar esse toque para os produtores e mostrar sempre o quanto eles vão ganhar”, ressaltou.
De acordo com Andreza, o pecuarista precisa mudar porque o bem-estar de bovinos não é mais uma opção ou algo extraordinário. “É exigência. E o mercado vai mudar de forma que ele não vai mais estar inserido (sem práticas de bem-estar). A gente está dando um toque que é para ele entender o quanto ele precisa mudar para se manter na produção, e não para ter um extra no final”, comentou.
Em suma, a agrônoma resumiu em cinco passos como o pecuarista começa a praticar o bem-estar animal de bovinos dentro da propriedade. As dicas foram publicadas originalmente no artigo “Conhecer o comportamento dos bovinos é fundamental para alta produtividade”, pelo Portal DBO.
Mudanças de forma lenta
Antes de mais nada, é preciso calma para começar a praticar o bem-estar, recomendou Andreza. “Esse ponto é importante desde o começo da vida do animal. Não adianta nada você querer que uma carne no frigorífico seja de qualidade se você vai ser penalizado porque o transporte foi ruim. Mas por que o transporte foi ruim? Porque lá atrás você não ensinou o boi a ser calmo, que o homem não é um predador”, ilustrou.
Iluminação da área de manejo
A especialista lembrou que o boi pode se assustar, por exemplo, quando uma luz de intensidade diferente entra no curral. “Então se tem uma tábua quebrada e o boi está no caminho e vem do nada uma luz ou uma sombra, ele se assusta. Na verdade, é um sistema de defesa da presa. Ele vê algo diferente no ambiente e diz ‘opa, isso aqui mudou e eu tenho que saber o que está acontecendo. Alguma coisa vem me pegar?’”, alertou Cruz,
Primordialmente o vaqueiro deve entender que a força, neste momento, não adianta o manejo. “E na hora que ele para, você tem que saber o que fazer para ele andar. Não adianta você bater nele porque ele não vai sair dali. Você só vai machucá-lo se bater nele. Então você tem que saber como lidar”, sustentou.
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Evite ruídos muito altos
Assim como bater não resolve qualquer problema, os gritos pioram a reatividade. “O boi tem uma audição muito mais aguçada do que a nossa. Então é que nem cachorro. Se você grita aqui, ele escuta muito mais forte”, orientou.
Nesse sentido, a lubrificação de porteiras e a retirada de correntes do curral de manejo ajuda. “(Elimine do manejo) Tudo que tiver barulho, que pode dar susto no animal. A gente tem que lembrar que o bovino é uma presa fácil na natureza, então ele está sempre de olho em quem vai pegar ele. Ele está sempre alerta. Então se ele ouvir um barulho, ele já assusta. […] Evite bater as porteiras”, destacou.
Convivência em grupo
Juntamente com as boas práticas, o bovino deve ser livre para expressar o seu instinto natural, lembrou a agrônoma. Neste caso, a referência serve para que o lote de manejo possa manifestar seu comportamento gregário, ou seja, formar grupos e seguir um líder.
“O lote sempre tem um líder e o boi é um animal gregário. Então ele sempre tem o líder e todo mundo o segue. Se você pega confiança no líder, o rebanho vai junto, vai atrás. E aí também tem a questão de hierarquia no confinamento, por exemplo. Quem é o líder vai comer primeiro e os outros virão depois. Se você não der espaço para todo mundo, o último vai ficar sem alimento. Quanto à água, se você deixa o bebedouro muito longe no pasto, o líder vai tomar água e os outros vão atrás. Na hora que o líder for embora, se o último não tomou água, ele não vai beber, ele vai atrás do líder. Ele não vai ficar sozinho, ele vai ficar sem beber água”, alertou.
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Treinamento contínuo
Por último, Andreza exaltou que importância de manter a equipe alinhada, bem treinada e capacitada. “Essa é a parte mais essencial. Não adianta nada a gente falar tudo isso, trazer todas essas experiências […] se o produtor não faz uma reunião com todo mundo e explica porque eles estão fazendo isso e o que vão ganhar com isso. […] Se não está todo mundo junto nessa, a fazenda não vai para frente”, analisou.
Seja como for a forma como a propriedade conduzia o manejo do gado antes de implementar boas práticas, o reforço deve ser sempre positivo. Andreza apontou que não se deve apontar culpados por falhas anteriores uma vez que a equipe esteja começando a receber treinamento.
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A entrevista completa com a engenheira agrônoma e analista de sementes da Soesp, Andreza Cruz pode ser vista pelo player a seguir: