Casal de veterinária e zootecnista indica caminho para o sucesso da pecuária em família

Fazenda Santa Lúcia, em Ribas do Rio Pardo-MS, é exemplo de sucessão familiar, manejo de pasto, reposição e alta produtividade em solos arenosos

Nesta quinta-feira, 30, o Giro do Boi recebeu em estúdio a médica veterinária e pecuarista Carla Marcussi, proprietária da Fazenda Santa Lúcia, no município de Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, e o zootecnista Leonardo Batista de Oliveira, seu esposo, que juntos administram da fazenda.

Em destaque estiveram os segredos produtividade da fazenda localizada em terras arenosas, já que a propriedade foi um dos destaques da última etapa do Circuito Nelore de Qualidade 2019, que ocorreu na capital do estado, Campo Grande, abatendo na competição um lote de 150 bois dentes de leite que pesaram em média 22@, acabamento de gordura mediana e uniforme (3 e 4) e mais de 55% de rendimento de carcaça.

“Campeonato brasileiro” da raça Nelore chega ao final

Na entrevista, o casal de produtores destacou a importância do critério na seleção dos fornecedores de bezerro para o sucesso da fazenda. “Há anos a gente já vem fazendo essa seleção dos fornecedores para chegar a esse resultado. Tudo começa lá na compra do bezerro, na verdade. A gente trabalha com a recria, a gente compra a desmama, recria na nossa propriedade e engorda no confinamento. E tudo começa na seleção, na genética, que é na seleção do fornecedor lá da compra do bezerro mesmo. A gente vem firmando parcerias com fornecedores que investem em genética, que têm uma seleção genética para dar um animal com melhor resultado, estes animais precoces, com acabamento ideal, com a idade ideal e ter os resultados que a gente pretende”, apontou Carla.

“Nós temos uma carteira de fornecedores de gado magro que a gente foi filtrando de acordo pela rastreabilidade. Como é uma fazenda que está inserida dentro do Sisbov, a gente consegue monitorar o desempenho destes animais da chegada deles na fazenda até o gancho, então a gente tem rastreado ali quais são os nossos melhores fornecedores. E a gente faz de tudo para todo ano estar renovando com estes fornecedores desta matéria prima”, reforçou Leonardo.

A valorização da cria, na percepção da veterinária, tem se tornado parte importante para incentivar os produtores de bezerros e aumentar a oferta de bons animais. “Esse criador de bezerro está cada vez mais se conscientizando de que é melhor para ele fazer um bezerro de qualidade, pesado, porque a tendência hoje é a compra no quilo do bezerro, não na perna, como era antigamente”, lembrou.

Pecuarista compartilha os segredos da produtividade em terras arenosas

Ao chegar na fazenda, os animais são avaliados para que seja feita a apartação por lotes, passam por rigoroso protocolo sanitário, com vacinas, entre elas para pneumonia, o que acabou fazendo grande diferença na produtividade dos animais, e são rastreados. A rastreabilidade tanto agrega valor na comercialização do gado quanto serve como ferramenta de gestão, para que a fazenda acompanhe o bezerro desde sua chegada até o abate e valide a sua qualidade e a qualidade de seu criatório.

Uma inovação dentro da fazenda para o ciclo 2019/20 foi o sequestro do gado magro para reforçar a produção da alimentação mais barata, o capim. “O ciclo 19-20 foi o primeiro ano que a gente usou esta estratégia e a gente teve resultados bastante positivos”, aprovou Leonardo Oliveira. “Tinha estudos que mostravam que, ao tirar o animal do pasto nas primeiras chuvas, você tinha um incremento de 30% da capacidade de suporte da fazenda e esse ano, no ciclo 19-20, a gente pagou pra ver isso. A gente tirou os animais do confinamento, que foram abatidos, no caso, e a nossa estrutura de confinamento estava ociosa, então nós folgamos o pasto”, explicou o zootecnista.

Creche de bezerros prepara animais de cria para a engorda e a reprodução

Desta forma, permite-se que o pasto fique com seus brotos, que seriam naturalmente consumidos pelos animais se o piquete não fosse vedado. A formação dos brotos reforça a fotossíntese da forrageira e a renovação da pastagem. “Aquelas primeiras folhas emitidas geralmente são as mais ricas em fazer fotossíntese e aumentar a produção do pasto. E o que acontece geralmente quando você está com o animal em cima quando sai o broto? O animal vai lá e come aquela folha que era rica. […] O melhor adubo é a veda, e um pasto que já é corrigido, já é calcariado, tem adubação de base já corrigida, quando você dá esta condição de manejo para ele, ele responde muito rápido”, indicou Leonardo. Segundo o zootecnista, são necessários cerca de 15 a 20 dias de veda para retornar os animais para o piquete.

Aprenda a fazer adubação de pasto

Na etapa seguinte, a engorda em confinamento, o planejamento na Fazenda Santa Lúcia é primordial. Isto porque junto com a terminação mais intensiva, vem também o aumento dos custos, por isso uma análise do cenário de preços dos insumos é determinante para saber se é mais vantajoso reforçar a produção de arrobas a pasto antes de fechar no cocho, ou o contrário.

“A gente faz todo esse planejamento buscando ali a nossa margem. Quando o produtor faz um (boi a) termo, ele tem que ter muito fino na mão dele os custos de produção, esta eficiência dentro de sua fazenda, saber realmente quanto ele vai gastar para cada arroba engordada, cada arroba produzida dentro fazenda. Feito isto, ele faz cálculo ajustado de quantas arrobas vai produzir e, no valor de venda que tem às vezes disponível, pode fazer uma trava. E aí, quanto de margem deixou? Se aquela margem é aquilo que o pecuarista está desejando dentro daquele ciclo, ele realiza”, resumiu o zootecnista. O sucesso do modelo e as boas decisões tomadas permitiram à agropecuária planejar o aumento da capacidade do confinamento, que atualmente é de 2.500 cabeças, para 5.000 cabeças, onde deverão ser engordados 10.000 animais em dois giros anuais.

Carla frisou que como a propriedade é uma empresa familiar, as decisões importantes são sempre tomadas após reunião e consenso. “É tudo muito conversado, a gente não faz nada sem trocar ideia. Acho que tudo tem que chegar num acordo, e aí a gente conversa entre a gente em primeira mão, depois chama o meu pai pra conversar, chama meus irmãos, a minha mãe, pergunta o que acham, é tudo muito familiar mesmo. A gente nunca faz nenhuma ação dentro da propriedade sem o consenso de todos, então a gente sempre chega no denominador comum e os atritos acabam se encerrando logo”, apontou.

Sucessão familiar no campo em três ações

Os colaboradores da propriedade também são parte importante das tomadas de decisão, e Leonardo revelou que reuniões em grupo e individuais são ferramentas utilizadas com frequência para que o grupo se manifeste e se sinta motivado. “No nosso time hoje a gente faz de tudo para manter os colaboradores motivados. Nós damos condições para eles trabalharem bem e eles nos respondem com uma performance de excepcional qualidade”, sustentou Leonardo.

Veja pelos vídeos abaixo a entrevista completa de Carla Marcussi e Leonardo Oliveira:

PARTE 1

 

PARTE 2