Com a mais nova marca-conceito “Carbono Nativo”, os pesquisadores da Embrapa estão elevando a régua dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O potencial pode chegar a 25 milhões de hectares no Brasil. Assista ao vídeo abaixo e confira os detalhes dessa novidade.
Quem deu detalhes desse novo projeto foi o biólogo e doutor em ecologia tropical Rodiney de Arruda Mauro. Ele foi um dos entrevistados do Giro do Boi desta quinta-feira, 20.
“O objetivo é certificar a carne produzida em pastagens arborizadas com árvores nativas, nas quais o carbono foi mitigado/neutralizado por meio da conservação das árvores existentes e/ou pela introdução das mesmas nos sistemas de criação, valorando os atributos extrínsecos e intrínsecos do produto”, diz Mauro.
Ele é pesquisador da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS), e compõe o time de cientistas da unidade que está construindo as diretrizes que compõem o Carbono Nativo.
Carbono Nativo integra os sistemas silvipastoris
Os sistemas silvipastoris (SSP) constituem uma modalidade de sistema agroflorestal, com base nos tipos de componentes, que combinam forrageiras, árvores e criação de animais em uma mesma área.
Isso se dá por meio da conservação e manutenção de árvores previamente existentes, pelo plantio de árvores ou pela condução da regeneração da vegetação natural.
Como surgiu a ideia do Carbono Nativo?
A valorização de árvores nativas passa a ser um componente que pode trazer ganhos importantes aos pecuaristas de todo o País.
Devido ao processo histórico de ocupação das terras no Brasil, da tecnologia empregada para a formação das pastagens, a quase totalidade dessas áreas são desprovidas de árvores.
No entanto, alguns pecuaristas, seja por consciência ambiental, conhecimento empírico, ou aspectos culturais, costumam deixar as maiores árvores comporem as paisagens agropecuárias, formando sistemas silvipastoris.
“Dessa forma, esses produtores estão a um passo à frente, e podem facilmente requerer a certificação de produção de gado no modelo de Carbono Nativo”, diz Mauro.
Plataforma Pecuária Baixo Carbono Certificada
Criada em 2019 pela Embrapa, a “Plataforma Pecuária Baixo Carbono Certificada” reúne as marcas-conceito que agem como selos de garantia para a comercialização da carne bovina e seus derivados.
Entre as marcas-conceitos já existentes estão:
- “Carne Carbono Neutro” (CCN), cuja certificação é focada na neutralização do carbono em sistemas com a presença de árvores plantadas, como os silvipastoris ou agrossilvipastoris (ILPF);
- “Carne Baixo Carbono” (CBC), elaborada com vistas a certificação de carne produzida em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) ou em pastagens bem manejadas, sem a presença de árvores;
- “Carbono Nativo” (CN), cujo objetivo é certificar a carne produzida em pastagens arborizadas com árvores nativas.
O potencial de implantação do Carbono Nativo
Considerando o Estado de Mato Grosso do Sul, o potencial de aplicação do protocolo “Carbono Nativo” pode chegar a 10 milhões de hectares.
Esse número leva em consideração somente as áreas de pastagens (13.870.530,07 ha) e formações savânicas (2.964.552,01 ha), o qual forma uma área de aproximadamente 17 milhões de hectares, segundo o mapeamento realizado pelo MapBiomas.
No Brasil, esse potencial é muito grande no bioma Cerrado. O bioma ocupa 203,4 milhões de hectares, o que corresponde a aproximadamente 24% do território nacional.
Em 2021, os dados foram de uma ocupação de 47 milhões de hectares de pastagens no Cerrado (29% do bioma). Isso faz com que cerca de 25 milhões de hectares sejam passíveis de aderirem a marca-conceito Carbono Nativo.