Cadeia produtiva da carne bovina mostrou capacidade de adaptação em meio à pandemia

Em entrevista ao Giro do Boi, diretor executivo de originação da Friboi Eduardo Pedroso destacou esforços da indústria para atender as novas tendências de consumo

O mercado é como o curso da água. Se a água encontra obstáculos, ela desvia e acha um novo caminho. E se forma o novo leito de um rio”, disse o zootecnista Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da Friboi em entrevista ao Giro do Boi desta terça, dia 15. O executivo usou a comparação para destacar a capacidade de adaptação da cadeia produtiva da carne bovina brasileira às novas tendências de consumo e desafios impostos pela pandemia em 2020.

“Existe um mix de produtos que precisa ser escoado e esse mix atende múltiplas demandas de diferentes canais de venda. Por exemplo, num ano de pandemia, um canal de venda que sofreu muito foi o food service global. Bares, hoteis, restaurantes, gastronomia em geral… Então a alta gastronomia de São Paulo, por exemplo, que é fortemente impulsionada pelo ambiente de negócios, os principais restaurantes, mais sofisticados, são pautados por reuniões de negócio, mas essas reuniões passaram a ser feitas virtualmente. […] Então o movimento dos restaurantes caiu muito durante vários meses do ano, ficaram fechados, isso aconteceu no mundo todo. Então imagine que os produtos premium começaram a migrar da demanda da gastronomia para o consumo doméstico”, ilustrou o executivo.

Assim está sendo o mercado da carne. A gente está aprendendo muito sobre novas maneiras de comercializar a carne, de chegar até a demanda do consumidor e, aos poucos, graças a Deus, isso está acontecendo”, afirmou.

Em sua participação no Giro do Boi, Pedroso comentou alguns dos principais acontecimentos da pecuária ao longo de 2020 e as ações da indústria que impactaram não somente os pecuaristas, mas a sociedade de maneira geral.

MERCADO DA PECUÁRIA

“O ano de pandemia mexeu bastante na dinâmica do escoamento, da curva de oferta e demanda. Nós estamos em meio ao ciclo pecuário de baixa, um ano que o Brasil abate entre 10,5% a 11% a menos de volume, segundo dados do IBGE, e um ano em que nós também observamos uma demanda maior na exportação, também na casa dos 10%. Isso deixou o mercado interno um pouco mais enxuto e, pela primeira vez, nós sentimos a força da elasticidade da oferta e demanda, onde houve uma tração muito forte. Praticamente o ano todo observamos uma forte alta significativa do preço do boi e que favoreceu milhares de produtores, corrigindo as cotações e os preços da pecuária em geral, permeando toda a cadeia produtiva, até o bezerro. Passamos agora no final do ano por um momento de acomodação de mercado, que é natural pela sazonalidade do escoamento da produção, mas ainda assim com os patamares atuais de preço superiores aos mesmos períodos do ano passado”.

EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA

“A pecuária brasileira é tão pujante e tem um potencial tão grande que a partir do momento que os principais canais de comercialização sinalizaram que o boi precisava ser jovem, que era uma premissa de acesso a esses mercados, nós passamos a assistir uma transformação brutal da produção em curtíssimo espaço de tempo. A tecnologia realmente está invadindo as fazendas na nutrição, manejo, gestão, bem-estar animal e isso tudo antecipando a idade de abate. Realmente é muito gratificante a gente poder presenciar dia após dia os currais cada vez mais padronizados com animais jovens, pesados e bem acabados”.

“Para acessar os principais mercados, o animal precisa ser jovem e para ele ser abatido jovem ele tem que ter tecnologia na produção, seja suplementação a pasto, seja no confinamento. Nisso o Brasil avança rapidamente, ano após ano. Quem já experimentou a aceleração da pecuária pelo acesso à tecnologia não volta mais porque encurtamento de ciclo traz faturamento constante na fazenda, é aumento de peso ao abate, aumento de rendimento ao abate, tem uma série de benefícios. A intensificação que a gente já assiste no hemisfério norte agora desce para o clima tropical, com inúmeras vantagens pelas janelas produtivas de você ter uma, duas ou três safras na mesma área, integração lavoura-pecuária”.

CIRCUITO NELORE DE QUALIDADE

“No Circuito Nelore deste ano foram 33 etapas, a maior parte delas nas unidades Friboi, e tivemos inclusive uma inovação, em que os participantes puderam acompanhar todo o abate técnico pelas telas do Webex (plataforma digital de transmissão), no conforto das suas casas. E foi um ambiente muito bacana de troca de ideias, técnicas e recomendações, um fórum realmente de bate papo com muita gente conhecedora do assunto que enriqueceu muito esse tour virtual por todas essas salas de abates técnicos. Todo mundo pôde assistir com máxima transparência e se atualizar, se informar, conhecer novas pessoas. Foi muito legal a introdução da videoconferência no acompanhamento online desses abates”.

PROTOCOLOS DE SEGURANÇA EM MEIO À PANDEMIA

“Por se tratar de uma indústria de carne, uma indústria de alimentos, a gente não pode parar nenhum dia sequer. Estamos aqui em verdadeiras batalhas diárias para que todas as unidades sigam alterando a sua capacidade plena para abastecer os diferentes canais de venda de produtos, de alimentos, porque a população segue se alimentando todos os dias. Então nos bastidores da fábrica nós tivemos a implantação de protocolos sanitários rigorosíssimos, ajustes de operação, uso EPIs desde o motorista boiadeiro até em todos os procedimentos fabris. São milhares de colaboradores por planta e que têm que mitigar zero risco de contágio. Graças a Deus, isso está sendo feito com maestria”.

“Temos o compromisso de seguir abastecendo os canais de venda, os clientes, produzindo alimentos para o Brasil e para o mundo”, reforçou.

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CAMPANHA FAZER O BEM FAZ BEM

Pedroso destacou os números expressivos da campanha de doações da JBS atendendo as principais demandas da sociedade em meio à pandemia. Mais do que ceder os recursos necessários, a empresa se comprometeu também com a operação e logística de entrega dos recursos.

Ao todo, foram construídos 2 hospitais permanentes, doadas 88 ambulâncias, 365 respiradores, 1479 monitores multiparâmetros, 18 milhões de EPIs, 40 fisioterapeutas pulmonares contratados, 1880 camas clínicas para UTI entregues, 15 obras de expansão, 1 milhão de litros de produtos de higiene e limpeza doados, contribuição para 39 pesquisas científicas e tecnológicas, 2 milhões de pessoas atendidas pelas ONGs beneficiadas e 560 mil cestas básicas distribuídas, conformes os números disponíveis pelo site oficial da campanha.

“Foi uma campanha que muito nos orgulhou, a todos os colaboradores, pela interação de todas as unidades com a sua comunidade local. […] São números impressionantes, realmente uma operação que mobilizou toda a comunidade da JBS capilarizada por todo o território nacional, fazendo chegar aqui a quem mais precisou o recurso. Então é muito mais do que o dinheiro, é a mobilização de milhares de pessoas para ajudar a trazer um pouco mais de conforto para a sociedade nesse momento de tanta necessidade”, celebrou.

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PLATAFORMA PECUÁRIA TRANSPARENTE

“A sustentabilidade da cadeia de valor depende de iniciativas que combinem conservação, recuperação de florestas, bem-estar das comunidades, geração de riquezas, respeito ao meio ambiente. E é assim que surge a Plataforma Pecuária Transparente, que pretende fazer o compartilhamento da inteligência de monitoramento, que já existe por mais de uma década na rotina da JBS, nas plantas localizadas no Bioma Amazônico, e vai democratizar toda essa tecnologia para que os nossos fornecedores possam também monitorar os seus fornecedores”.

“A ideia é que até o ano de 2025 todos os fornecedores diretos e os fornecedores dos fornecedores estejam plugados nesta Plataforma Pecuária Transparente para que toda essa carne seja absolutamente transparente do ponto de vista de compliance e que isso leve certeza aos consumidores de qualquer parte do mundo que, ao comer um bife produzido na Amazônia, ele vai estar fomentando a preservação do bioma porque ele vai estar sendo produzido em fazendas comprometidas e responsáveis com relação à natureza”.

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PROGRAMA JUNTOS PELA AMAZÔNIA

“O Fundo pela Amazônia (que, junto com a Plataforma Pecuária Transparente, integra o Programa Juntos pela Amazônia) nasce com o comprometimento da JBS de doar R$ 250 milhões de reais em seus primeiros cinco anos, podendo alcançar até R$ 1 bilhão de investimentos em doações, sendo que a JBS se compromete a igualar doações de outras empresas parceiras […] chegando a até R$ 500 milhões. O objetivo desse Fundo é o desenvolvimento sustentável do bioma, ampliar o reflorestamento e conservação da floresta, fomentar a pesquisa científica e tecnológica, o apoio às comunidades e projetos de geração de renda aos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, além de incentivo à bioeconomia. Ou seja, é um projeto que pretende proporcionar o escoamento competente da produção do Bioma Amazônico e, em paralelo, fomentar a sustentabilidade de toda essa biodiversidade e da comunidade regional. É um projeto bastante ousado, que está caminhando super bem, […] e que vai transformar a imagem da carne produzida no Bioma Amazônico para todo o Brasil e para o mundo”, projetou.

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Assista a entrevista completa com Eduardo Pedroso no vídeo a seguir:

Foto: Reprodução / Governo do Brasil