Pode parecer contraditório, mas, manejar o boi mais lentamente no curral pode significar um trabalho bem mais rápido, no final do dia.
Quem explicou isso foi a engenheira agrônoma Maria Lúcia Pereira Lima, uma das grandes especialistas em bem-estar animal (BEA) no País.
Ela participou do programa Giro do Boi desta terça-feira, 26. A pesquisadora, assim como o pai dela, Fausto Pereira Lima, é uma das maiores especialistas na área de bem-estar animal (BEA).
Maria Lúcia também é mestre em nutrição e produção animal, com pós-doutorado em BEA pela universidade do Colorado nos Estados Unidos.
Manejo cronometrado no curral
A pesquisadora já cronometrou isso. Uma simples operação de coleta de sangue que levava exatos 1 minuto e 42 segundos, passou para apenas 1 minuto.
No caso de uma vaca que simplesmente deitou no curral. A operação que peões fizeram para levantar o animal levou cerca de 15 minutos a 40 minutos.
Nesse caso, a melhor opção era esperar o animal e fazer outra coisa. O animal vai levantar sozinho.
“Quanto mais devagar você chegar no curral, mais rápido você sai. Quanto mais lento foi o manejo, menos o animal briga”, diz Maria Lúcia.
A questão de visão dos bovinos
Uma das grandes chaves é o pecuarista e os peões da fazenda observarem o mundo sob o ponto de vista do próprio bovino.
No livro “Nelore e outros zebuínos: avaliação visual, criação e manejo”, de 2020, escrito pelo pai dela e com sua colaboração, a pesquisadora fez questão de por imagens que ilustrassem a visão de bovinos.
A visão dos animais é diferente. É a partir dela que grande parte dos problemas de manejo acontecem.
Um exemplo clássico é o momento de fazer os animais atravessarem uma porteira no curral. Dependendo da visão dos animais, eles não vão enxergar uma ‘passagem livre’.
“Fazemos a instalação para nós usarmos, mas a vaca é um usuário do curral também. Se fizermos o Curral e as instalações de forma que os bovinos enxerguem, eles conseguem transitar melhor no curral”, diz Maria Lúcia.
Bem-estar animal e para o bolso
A adoção de técnicas de BEA não só trazem a melhoria para eficiência do trabalho na fazenda como também vão significar maiores ganhos econômicos para o fazendeiro.
“O pecuarista gasta com creep feeding, inseminação, IATF e depois mata o bezerro no manejo? Isso é inadmissível. A única forma de mudar isso é com o conhecimento”, diz a pesquisadora.
Confira os detalhes da conversa com a especialista e saiba os aprendizados que ela teve com a americana Temple Grandin, uma das figuras internacionais mais importantes na área de bem-estar animal.