Um dos destaques do Giro do Boi desta terça, 09, foi a entrevista com o novo presidente da Asbram, Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais, Daniel Guidolin, empossado em março. Ele tratou dos desafios atuais do mercado de suplementação, como a taxa de câmbio, falou sobre a cobrança da associação sobre a isenção do PIS/Cofins para indústrias de suplementação e a preocupação com a normativa do Mapa que diminui o rigor para pequenas empresas do setor conseguirem o selo do SIF.
“No momento o (preço do) suplemento, em linha geral, está muito alinhado ao preço do dólar e a linha de farelados vai muito alinhada aos preços de grãos. O setor de suplementação é um setor de margem apertada, então ele não consegue segurar muito esses preços, a não ser que tenha empresa com um estoque estratégico. […] Suplemento mineral, em geral, subiu em torno de 15% ao longo de dezembro para maio. Você pega o milho, por exemplo, no ano passado, em maio, ele estava (custando) no Cepea R$ 34,00. Esse ano já estamos falando em uma média de mais de R$ 50,00. Só que em dólar ele estava mais ou menos cotado na mesma casa, de US$ 9,50 a US$ 9,80 a saca. Esse preço realmente as indústrias de suplemento não conseguem segurar, houve esse repasse, vamos dizer assim, proporcional. A gente aperta mais a margem, mas a margem é muito pequena não faz tanta diferença”, disse Guidolin, atualizando o cenário econômico.
“Agora a gente tem que olhar para o lado bom também, porque a arroba nesse mesmo período (do ano passado) estava uma média de R$ 152,00 e hoje está em média de R$200,00, então a pecuária também subiu junto”, acrescentou.
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Guidolin lembrou que a pecuária entra agora em um momento crítico para a suplementação. “Nós vamos entrar no período da seca, período que o gado, se não der suplemento, perde peso. […] Se ele perder peso agora na seca, provavelmente o pecuarista vai ficar mais seis meses com o animal na fazenda. Então ele tem que olhar para esse momento de seca como um investimento para ele não ter que gastar mais seis meses, ou até um pouco mais, podemos falar de seis a oito meses, com o animal dentro da fazenda. Minha visão é que o pecuarista deve continuar fazendo a suplementação”, alertou.
O especialista elencou duas formas de o pecuarista otimizar os investimentos em suplementação. A primeira delas é evitar o desperdício. “Essa pandemia trouxe para a gente momentos de reflexão sobre despesas e desperdício. Nós vemos aqui no campo muito cocho mal feito, que tem vazamento de sal, que tem vazamento de suplemento. O próprio tratador, muitas vezes, não é treinado e isso gera desperdício, ele amarra o saco na sela do cavalo e rasga e isso vai vazando ao longo do caminho até chegar ao pasto, então também acho que é um momento de olhar para dentro da fazenda e ver o que de fato ele consegue economizar. Nós estamos falando que suplemento representa em torno de 20% a 25% do custo da fazenda e se a gente melhorar 10% que é possível em relação a desperdício, que é um número bem factível, são 2,5% do custo da fazenda”, estimou.
Outro ponto que o pecuarista pode trabalhar para economizar com a suplementação sem deixar de nutrir o gado adequadamente é mudar o formato de negociação. Ao invés de fazer as compras “picadas”, ele pode fazer compras de cargas fechadas no atacado e pedir prazo para o pagamento. “O produtor que tiver lugar para armazenar, que às vezes ele alongue a compra. Se não tiver caixa, que negocie prazo e consegue suplemento mais em conta e sem desembolsar na hora o dinheiro”, explicou. Para que a formação de estoque dê certo, então o produtor deve se certificar que a fazenda tenha estrutura, como um galpão sem umidade, livre de ratos e outras pragas, lembrou.
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Guidolin disse que, por sua vez, a Asbram luta nos bastidores para diminuir os custos de produção e consequentemente dos preços dos suplementos buscando a isenção do PIS/Cofins. “Essa é uma pauta que a associação vem lutando já faz tempo. Nós consideramos muito injusta a forma que é tributada tanto a pecuária quanto a indústria de aquacultura, de peixes. Nós pagamos em todas as matérias primas PIS e Cofins e quem paga, no final, é o produtor e até o consumidor final da carne bovina e do peixe. Num país onde a gente tem tantas pessoas que passam fome, você deixar o boi e o peixe sendo tributado para encarecer o custo da produção e, logo, da carne, é injusto”, sustentou.
O presidente da Asbram acrescentou que na comparação com as outras cadeias produtivas, como a do frango, a cobrança não encontra igualdade. “Isso cairia drasticamente o preço na ponta. Nós conseguiríamos ter uma evolução gigantesca de suplementação, logo aumento de produção de carne, de leite. A gente fala que não privilégios, só igualdade. É uma pauta que a gente pede para todos os pecuaristas ajudarem, porque às vezes ele conhece alguém, algum deputado com quem ele possa comentar. É muito injusto esse pagamento, que é 9,25%”, opinou.
“No caso da ureia, vamos falar, que tem PIS e Cofins, o preço dela é em torno de 25% mais caro que o da ureia agrícola. É injusto e desigual. Nós lutamos para que tenha, sim equidade. O milho que vai para uma granja não tem diferença do milho que vem para a pecuária”, completou.
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Guidolin falou ainda sobre a preocupação da Asbram sobre desburocratização pequenas empresas do setor obterem o selo do SIF. “Nesse período da pandemia houve um lançamento de uma nova normativa do Mapa para liberar SIF para fábricas de suplemento. Nós acreditamos que a pecuária está indo bem, o boi está sendo valorizado, nós estamos exportando então o momento agora é de atenção ao riscos. Então a gente tá falando de riscos sanitários, aos riscos de contaminação da carne, por exemplo. Ao liberar com pouco mais de facilidade, mudando os critérios, nós acreditamos que isso possa trazer um risco para a exportação e para a segurança alimentar grande. Nós pedimos e nós estamos nessa luta de tentar ter um controle maior porque hoje a gente já tem também fábricas com nível elevado de certificações, de qualidade, e em alguns estados, alguns locais, algumas fábricas que praticam pouco e têm um risco um pouco maior. Então nós queremos, primeiro, torná-las iguais e também que para entrar e produzir suplemento, ela consiga fazer um suplemento com segurança, que tenha garantias que não vai vir contaminado e gerar um problema na carne no futuro e, às vezes, travar uma exportação para o Brasil porque isso é caríssimo. Se isso acontecer, é um prejuízo enorme para a nação brasileira”, argumentou.
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Veja a entrevista completa com Daniel Guidolin no vídeo a seguir: