Uma parceria público-privada entre a unidade Pecuária Sul da Embrapa e Associação Brasileira de Angus firmada em junho vai ajudar na seleção de um tipo de ‘Angus 2.0’, mais adaptado para o uso nos trópicos brasileiros, valendo-se da genômica como ferramenta para encontrar os reprodutores que carregam a genética mais adequada para este fim.
Nesta terça-feira, 25, o chefe adjunto de pesquisa da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Flores Cardoso, médico veterinário, zootecnista e pós doutor em ciência animal pela universidade de Michigan, nos Estados Unidos, falou sobre o assunto estabelecendo uma comparação com a indústria automobilística para facilitar a compreensão dos criadores.
“E eu uso um exemplo. O melhoramento é como na indústria automobilística, cada ano tem um modelo novo e a gente tem que identificar entre todos aqueles que surgem no mercado qual o melhor. Então a cada ano a gente tem que testar e identificar quais são realmente os melhores reprodutores para eles irem para o mercado e multiplicar a genética que vai trazer maior lucratividade, maior produtividade lá na ponta final para o produtor comercial”, simplificou Cardoso.
“A gente acaba de fechar uma parceria com a Associação de Angus para trabalhar neste sentido – fazer a seleção de animais mais adaptados à produção tropical. A gente falou até agora da qualidade da carne, da produtividade e eficiência, mas esses animais são de origem do clima temperado, então eles têm mais dificuldade de adaptação ao calor e aos trópicos, principalmente aos ectoparasitas, em que o carrapato é o principal problema”, ponderou o pesquisador.
No Brasil, a estimativa é de que os carrapatos causem prejuízos anuais na ordem de US$ 3,22 bilhões à pecuária, segundo estudo divulgado no artigo “Reavaliação do potencial impacto econômico de parasitos de bovinos no Brasil”, publicado na Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária em 2014.
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No entanto, de acordo com o médico veterinário, o Brasil tem a oportunidade única de selecionar animais que sejam resistentes aos ectoparasitas por ter rebanhos consolidados dentro de programas bem estruturados de melhoramento, o que pode ajudar a criar uma população de referência.
“Vamos poder montar esta que a gente chama de população de referência, que vão ser animais com contagem de carrapato, com medida do pelo, com outras características de qualidade de produção, de qualidade de carcaça e usar isto para montar uma base para que se permita a seleção de animais mais resistentes ao carrapato, de pelo mais curto e também mais produtivos, mas com este diferencial que só nós podemos gerar aqui, que é esta adaptação ao clima tropical. E aí […] vamos poder tanto oferecer touros mais adaptados, que possam ter uma vida mais longa e uma maior produtividade no ambiente tropical como também oferecer […], via inseminação artificial, os reprodutores mais adaptados”, projetou.
O convênio, que termina em 2022, terá investimentos privados da Associação Brasileira de Angus, e públicos, via Embrapa, além de contar com a participação de criadores que vão inserir seus rebanhos na iniciativa, comprometendo-se com a contagem de carrapatos e demais mensurações inerentes à seleção. As características produtivas e de qualidade de carne, como área de olho de lombo e gordura intramuscular, por exemplo, também serão contempladas para manter o diferencial da raça. Assim, os pesquisadores vão combinar as características com os marcadores moleculares para achar 1.500 reprodutores e replicar a sua genética, posteriormente valendo somente da genômica.
Segundo consta em material de divulgação da PPP (parceria público-privada) no próprio site da Embrapa, “para entrar no projeto, a (Associação Brasileira de) Angus ingressou com aporte de R$ 198 mil entre recursos diretos e mão de obra especializada, de um total de R$ 498 mil estimados como custo total”.
O objetivo é aumentar a participação da genética nacional do Angus no mercado, utilizando animais mais condizentes com as condições de pecuária tropical. “O mais importante é que a gente vai poder testar nos nossos rebanhos e escolher os melhores animais para serem usados no ambiente tropical, para serem oferecidos para centrais de inseminação e isso, claro, vai ser um grande diferencial. A genômica acelera o processo de melhoramento genético e a gente tem uma maior precisão para selecionar os animais jovens”, justificou Fernando.
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“O que a gente espera ao final deste trabalho é que a genômica esteja integrada nos programas de melhoramento e a gente tenha gerado informação consistente em animais mais adaptados aos trópicos. Esse é o grande diferencial que a gente busca para seleção de genética taurina e sintética, principalmente das raças de origem britânica, que produzem carne de maior qualidade. Então a gente quer, ao final do projeto, ter esses animais já identificados e já prontos para serem usados no mercado para multiplicar a genética mais adequada”, finalizou.
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Veja a entrevista completa com Fernando Flores Cardoso no vídeo a seguir: