Na construção da saúde de uma fazenda de pecuária, o calendário sanitário é um dos pilares. Ele ajuda o produtor a distribuir o uso dos insumos que têm à disposição, mas existem outros pontos que devem estar bem focados pelo olho do pecuarista para que sua fazenda possa expressar todo o potencial produtivo. O médico veterinário João Drumond, gerente técnico da área de biológicos da MSD Saúde Animal, falou sobre o assunto em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, 03.
“Sanidade não é só calendário sanitário. Calendário sanitário é um um pilar, uma parte da minha construção de saúde”, opinou. Drumond destacou que para que se chegue a uma fazenda saudável, com um rebanho saudável, o pecuarista precisa combinar sua atividade de produção com os obstáculos que o ambiente apresenta.
“Quando a gente pensa em construir saúde na propriedade, o quanto antes a gente começar o planejamento, melhor, sem dúvida. Eu tenho mais tempo para identificar fatores de risco, eu tenho mais tempo para casar minha atividade comercial com os desafios do ambiente, com os desafios com os quais meus animais vão interagir. Eu tenho tempo de pensar em mão de obra, de realizar treinamentos, de qualificar a mão de obra e me preparar, me estrutura para aplicar os insumos. E aí seria o calendário sanitário”, especificou. “Então planejamento de sanidade, a construção de saúde vai muito além do que é o calendário sanitário. Por isso planejar é sempre muito bom e muito bem vindo”, reforçou.
Drumond alertou que conforme a atividade da pecuária vai se tornando cada vez mais intensiva, os riscos, inclusive sanitários, aumentam – e se diferem de uma propriedade para a outra. “Lembrando sempre que as fazendas não são iguais. Às vezes o pecuarista tem até mais de uma fazenda, mas elas respondem de maneira diferente. Será que um mesmo calendário que se adequa a uma fazenda serve para outra? Será que não cabe planejar melhor e identificar os fatores de risco e, aí sim, montar a minha estratégia sanitária? Eu acho que esse é o convite que eu faço para aqueles que estão planejando a sua construção de saúde na fazenda”, sustentou.
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Na conclusão de sua participação no Giro do Boi, o veterinário listou quatro pontos que devem estar no foco do pecuarista para a construção da saúde da sua fazenda. “Eu não sei se colocaria como desafios, mas como foco. Acho que o foco, cada vez mais, de uma maneira crescente, vai ser o bem-estar animal. Ainda a preocupação com a mão de obra, com o treinamento dos nossos colaboradores, capacitação de quem nos ajuda a ter uma pecuária tão pujante como a brasileira. Ao caminhar para a construção da saúde dentro da fazenda, é preciso identificar os fatores de risco, identificar o que eu posso fazer para mitigar risco, a saúde do pasto, a saúde da água, e aí trabalhar com os insumos (calendário sanitário). A gente tem uma ferramenta fantástica que são as vacinas, de uma maneira geral, e a gente não pode deixar de usar e fazer o bom uso para retirar o máximo que essa ferramenta pode nos dar de retorno”, apontou o especialista.
Drumond comentou em sua entrevista quais as categorias mais sensíveis aos desafios sanitários em uma propriedade. “A gente pode pensar na primeira infância até o desmame. Por que isso? Tem uma explicação biológica. A imunidade nossa é formada por duas importantes linhas de defesa: uma que a gente chama de imunidade nata, a gente nasce com ela, e a outra é a imunidade adquirida, ela é construída especificamente, ela depende de memória e de exposição. Então, à medida que o animal vai crescendo, vai ganhando dias de vida, vai vai sendo exposto aos desafios e vai adquirindo essa imunidade”, indicou.
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Na sequência, revelou qual a melhor maneira de reforçar a imunidade dessa categoria mais exposta aos riscos. “Os animais, quanto mais jovens, mais expostos. Lembrando da grande importância do colostro vindo da mãe. A vaca não passa anticorpos para o bezerro durante a gestação. Essa primeira imunidade, essa imunidade passiva, vem através do colostro. Então a construção de saúde bezerro começa desde o peito da mãe, na primeira hora depois do nascimento. E depois, ao longo da vida, entra o seu calendário sanitário na minha construção de saúde dentro da fazenda”, explicou.
O veterinário também citou a importância do colostro na imunidade do bezerro quando tratou do manejo sanitário da reprodução. “Para os dois casos (vaca prenhe ou vazia), a preocupação maior, visando sanidade, está muito ligado às doenças reprodutivas. Então se a vaca está gestante, a gente precisa trabalhar para manter essa gestação, para a gente ter o futuro da propriedade. Lembrar sempre que uma vaca gestante carrega o futuro da propriedade no ventre. Então a gente tem que ter todo esse cuidado. O foco nessas doenças, principalmente as reprodutivas, é não esquecer jamais do bem-estar animal porque a vaca é um animal que merece todo o nosso carinho, todo o nosso cuidado, todo o nosso respeito. E uma última ação é exatamente usar a mãe para já iniciar a proteção do filho que vai nascer. Já no terço final de gestação ou caminhando para o terço final, já se preocupar com a vacinação ou com o reforço de vacinação, visando uma boa quantidade de colostro para passar para esse bezerro que estará nascendo, para esse futuro da fazenda que está chegando. E aí a gente tem um ciclo contínuo, a gente pensa em saúde sem interrupção”, aconselhou.
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Confira pelo vídeo a seguir a entrevista completa com João Drumond:
Foto ilustrativa: Reprodução / Embrapa