Em uma entrevista dupla com o presidente da Associação Brasileira de Brangus, Ladislau Lancsarics Júnior, e com o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Marcos Yokoo, zootecnista e pós-doutor em genética e melhoramento animal. Os especialistas falaram sobre a parceira da associação com a empresa pública de pesquisa que está avançando no uso da genômica para aumentar a acurácia da seleção da raça, sobretudo para características de difícil mensuração e herdabilidade baixa.
PROJETO DE LONGO PRAZO
“Esse trabalho é um projeto antigo que a gente já tem aqui na Embrapa há mais de dez anos e o produtor começou a enxergar ele de um tempo para cá. De uns três ou quatro anos para cá ele vem utilizando essas DEPs genômicas para auxiliar na seleção de animais melhoradores, para que possam acreditar melhor, que possam ter um resultado melhor na seleção daqueles animais por meio do incremento da acurácia”, comentou Yokoo.
De acordo com como o presidente da associação, são esses os avanços que deram chancela para a criação do um projeto especialmente voltado à genômica aplicada à seleção Brangus. “Em 2011 a Embrapa Pecuária Sul começou a pesquisa com dados genômicos e a associação encampou esse projeto com a Embrapa numa parceria há quatro anos. E está lançando o programa da associação chamado Brangus_, que é um programa de melhoramento genético com foco em avaliação de carcaça e DEPs genômicas”, revelou.
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POTENCIAL
Yokoo projetou como o programa vai contribuir para o melhoramento genético. “Consiste em produzir para o criador de Brangus uma DEP, uma ferramenta de seleção em que ele vai ter mais possibilidades de aprimorar o seu rebanho utilizando a DEP genômica. A Associação teve a iniciativa de tentar juntar os diversos programas de melhoramento genético do Brangus que existem no Brasil e na América Latina para poder reunir todos esses dados, os rebanho, e fornecer àquele criador que quer desfrutar dessa genética Brangus uma DEP de qualidade e única, juntando todos esses dados. Esse vai ser o benefício para a pecuária nacional”, opinou.
Segundo o presidente da associação, o principal benefício do trabalho é aumentar a confiança na seleção da raça. “Qual é a grande facilidade da DEP genômica? Tem uma maior acurácia. É muito mais fácil, a assertividade é maior. A chance de errar com avaliação genômica é muito menor”, comentou.
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CARACTERÍSTICAS DE DIFÍCIL SELEÇÃO
Conforme ilustrou Yokoo, a genômica está contribuindo para destacar características especiais nos reprodutores, que são de dificil mensuração e de baixa herdabilidade, como resistência ao carrapato, temperamento, consumo alimentar residual – CAR, maciez da carne, retenção de água e até resistência a verminoses.
“Existem características de difícil mensuração, que o criador comercial dificilmente iria conseguir conduzir em um programa de avaliação genética. Por exemplo, uma característica de contagem de carrapato, o criador ia ter que desafiar esse animal, correr o risco de perder esse animal porque o carrapato traz outras consequências, como a morte. Então com a DEP genômica, o criador, coletando uma amostra biológica, genotipando esse animal com uma amostra de pelo, por exemplo, de sangue ou de sêmen do touro, ele consegue ter essa DEP genômica com uma boa acurácia para poder fazer seleção do seu rebanho para carrapato, temperamento e até verminose. A gente tem já uma DEP de verminose, que é contagem de ovos por grama de fezes. Então essas características de difícil mensuração ele vai ter essa oportunidade de selecionar”, projetou.
PRECISÃO NA SELEÇÃO DE REPRODUTORES
O pesquisador salientou que a precisão para selecionar características como essas podem aumentar expressivamente. “Em estudos preliminares verificou-se que, ao utilizar a DEP Genômica (DEPG – Diferença Esperada na Progênie com Auxílio da Genômica), o incremento na acurácia pode variar de 33% até 84%. Variação que é explicada devido às diferenças em cada tipo de programa, como por exemplo na sua população de animais”, consta em conteúdo divulgado pela assessoria da marca Brangus HP.
No entanto, o pesquisador ponderou que embora haja o aumento da acurácia das características analisadas, cada produtor deve ponderar a viabilidade econômica desta seleção.
“A gente sempre tem um estudo relacionado com a economia do sistema. Isso pode trazer um ganho de 33%, mas economicamente é viável? Vale a pena? Se não vale a pena, a gente continua com a seleção tradicional. Se vale a pena, a gente vai para a seleção genômica, em que o ganho genético vai ser maior, e o ganho financeiro ou vai ser igual ou maior. Isso tem que trazer um benefício. A mesma coisa de a gente genotipar o rebanho inteiro. Não quer dizer que a gente precisa genotipar todo o rebanho. A gente já tem estudos de quais animais são candidatos à genotipagem porque é um custo muito alto e esse determinado número de animais vai me trazer o benefício do melhoramento genético do meu rebanho inteiro com o lucro financeiro. Então é dessa maneira que o produtor tem que se conscientizar em como utilizar essa ferramenta”, concluiu.
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Pelo vídeo a seguir é possível assistir as participações de Ladislau Lancsarics Júnior e Marcos Yokoo no Giro do Boi desta segunda, dia 25:
Foto ilustrativa: Keke Barcellos / Reprodução Embrapa