A história começou com a vinda de Paschoal Campanelli da Itália para o Brasil, se afastando da guerra para buscar um recomeço em um país com terras férteis promissoras. O imigrante se estabeleceu ao norte do estado de São Paulo, onde começou sua lavoura de café. Com o seu falecimento, em 1982, seus filhos tiveram que tomar uma decisão complexa: dividir o patrimônio ou buscar alternativa para gerar renda para os descendentes ao invés de torná-los sitiantes.
Nesta quarta, 30, as consequências da decisão da família Campanelli foram contadas em detalhes pelo neto de Paschoal, Victor Campanelli, em reportagem exibida no Giro do Boi. Ao invés de dividir o patrimônio em pequenas propriedades, reduzindo as possibilidades de negócios naquelas terras, a família tomou, no início de anos 80, uma decisão de vanguarda que é rara até os dias atuais, formando a partir da fazenda uma empresa agropecuária e transformando parentes em acionistas.
“Um negócio que começou com meu avô vindo da Itália. Começou como colônia de café. A região aqui norte de São Paulo teve muito café cem anos atrás. A essência da família sempre foi agricultura e em 1982, quando meu avô faleceu, foi fundada a Agropastoril Paschoal Campanelli, que foi foi uma ideia brilhante dos irmãos. Ao invés de todos virarem sitiantes, formaram uma empresa, que naquele momento não tinha o corpo que tem hoje, mas todo mundo preferiu ficar forte junto, foi até um desejo do meu avô. Até hoje é raro ver isso, e você volta no tempo, em 82 montar uma empresa agropecuária sociedade anônima então era algo à frente do tempo, sem dúvida nenhuma”, contou Victor Campanelli, atual diretor executivo do grupo.
“A gente continua junto, eu sou já a terceira geração e já tem pessoas da quarta geração trabalhando conosco. A gente tem uma tocada muito profissional, diretoria eleita por uma assembleia dos acionistas, prestação de contas para a família. É um jeito profissional de tocar negócios, a gestão profissional de uma empresa familiar. Profissional não quer dizer que não possa ser feita por familiares, mas esses familiares têm que ser profissionais”, acrescentou Victor.
O grupo está envolvido tanto na agricultura como na pecuária e aplica tecnologias em todas as etapas da produção. “Hoje a gente tem todas as tecnologias disponíveis que a gente acha factível e rentável pro nosso negócio. A gente não tem medo nenhum de investir, tanto na agricultura como na pecuária”, confirmou Victor.
Um dos exemplos vem da simbiose formada a partir da integração lavoura-pecuária. A partir da compostagem orgânica do esterco dos animais confinados, o grupo gera fertilizante para aplicar nas lavouras. “Se pôr na balança, a gente teve uma redução de mais de 50% da compra de adubo químico. São alguns milhões que a gente consegue economizar e potencializar o nosso solo”, explicou Ricardo Campanelli, o gestor de resíduos e fertirrigação da empresa.
No confinamento, a empresa espera engordar 75 mil cabeças em cocho em 2019 e aumentar para 100 mil animais no ano que vem, um processo monitorado por meio de uma central de comando com recursos que podem apontam com precisão quais ingredientes e em quais quantidades devem ser acrescentados à dieta.
Os paineis podem ser consultados tanto pelos gestores como pelos operadores das máquinas da fábrica de ração. “Nessa sala a gente consegue ver se deu algum problema em uma balança, se precisou arrumar, se deu algum problema em alguma rosca, já trava e a consegue arrumar tudo por aqui. […] Controle e redução de insumos, a gente sabe hoje exatamente o que está sendo consumido, o que vai ser consumido nas próximas semanas, então a gente tem até um planejamento de compra. É possível a gente planejar de uma forma tão exata que até se for preciso comercialização, aumentar o número de animais, é possível fazer isto”, enalteceu a zootecnista e analista de dados do confinamento da agropastoril, Valquíria Alencar Beserra.
Como a fazenda não trabalha com cria, formou um grupo de fornecedores de gado magro e criou um sistema de recria intensiva, um tipo de pré-confinamento, que acelera a adaptação e o período de engorda em cocho. “O animal já chega com um peso superior no confinamento, o tempo de adaptação dele é menor e consequentemente o período que eles vão ficar no confinamento é menor. Com isso também o desempenho é melhor porque o animal já está com o rúmen adaptado, habituado com a ida ao cocho, é mais familiarizado com isso, então fica mais fácil o processo no confinamento”, sustentou a zootecnista Marina Daciê.
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Com este sistema de adaptação, a propriedade aumentou a lotação para 3 UA/ha na seca e pôde dobrar o número de animais transferidos do pasto para o confinamento. O gado magro chega à propriedade com peso entre 380 a 420 kg e são enviados para abate com 570 kg, obtendo média de 57% de rendimento de carcaça após um tempo de 140 dias na fazenda, que são divididos entre cerca de 50 dias de pré-confinamento e 90 dias em cocho.
“Isso é tecnologia produzindo dados, que são interpretados e geram informação, que produz lucro, que produz desenvolvimento, novas tecnologias, manejos, processos. É acoplar tecnologia com dados e efetividade nas operações”, exaltou o gestor administrativo da empresa, Marcelo Campanelli.
Veja a reportagem completa pelo vídeo abaixo: