por Renato Costa, presidente da JBS Carnes Brasil
A nossa pecuária tem grande capacidade de renovação. Ao longo da história ela mudou de perfil e indicadores, evoluindo até se tornar referência em sustentabilidade e caminhando para ser exemplo em produtividade e qualidade.
Os desafios estão interligados. Quanto mais aumentamos nossa produtividade, mais precoce é o gado abatido e mais características desejáveis o produto terá, como maciez, sabor e suculência.
Quem impõe esses limites a serem superados é quem paga a conta da cadeia produtiva: os consumidores brasileiros e de mais de 150 países. Conquistar estes paladares não tem sido tarefa fácil. A educação sobre o consumo de carne arrocha a cobrança sobre o que produzimos.
O mercado interno, depois de anos de aumento de renda, reluta em baixar a qualidade do que consume, ainda mais em tempos em que a tendência é o consumo doméstico de pratos gourmet. O volume, no entanto, é afetado. A quaresma, a inflação alta e a competitividade de proteínas concorrentes resulta em um acúmulo de estoques perigoso.
Nas exportações, as recentes aberturas de mercado ainda precisam valer na prática. A China, que reabriu suas fronteiras para a nossa proteína em 2015, tem demanda incerta. A retomada de embarques de carne in natura para os EUA ainda não aconteceu, pois estamos esperando o fim dos trâmites burocráticos.
Até lá, o que podemos dizer é que onde houver uma boca para alimentar com carne bovina, a indústria brasileira irá atrás do canal de venda adequado para atendê-la. É o que está acontecendo neste 1º trimestre, quando nossa equipe já passou pela Rússia em visita à feira ProdExpo e pelos Emirados Árabes Unidos, para a Gulfood. Também fomos à China para validar novas vias de escoamento.
Esta é a mais recente reinvenção da pecuária brasileira. A educação comercial. Isso porque oportunidade existe, mas a cobrança chega à mesma proporção. À medida que a nossa carne alcança a novos e potenciais consumidores, nosso modo de trabalhar se ajusta, seja da indústria até o varejo, seja da fazenda para o frigorífico. Estamos trabalhando para tornar cada vez mais dinâmicas estas relações.
*Publicado originalmente no caderno especial Giro do Boi na edição 134 (março/2015) da revista Dinheiro Rural – Editora 3).