A tradicional marca a fogo tem sido uma prática muito comum para a identificação do gado na fazenda. No entanto é ineficaz. Ela causa muita dor aos animais, pode levar a feridas e infecções, e, principalmente, pode levar a erros de leitura.
Um estudo feito numa propriedade apontou que a marcação por fogo levou a 18% de erros na hora de identificação dos animais.
O estudo foi coordenado pelo zootecnista Mateus Paranhos, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, em Jaboticabal (SP).
“As mudanças não são rápidas. É exigido um entendimento, um amadurecimento e depois uma preparação para se colocar na prática. Eu digo que são mudanças sustentáveis elas vieram para ajudar o pecuarista”, diz
A marcação a fogo é uma das principais bandeiras para Paranhos, que é uma das maiores autoridades no País quando o assunto é bem-estar animal (BEA).
Ele é coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Grupo Etco), diretor da BE. A iniciativa é disseminada pelo Projeto Redução da Marca a Fogo, em parceria entre a JBS-Friboi, MSD Saúde Animal e Allflex.
Mudança na identificação do rebanho
Paranhos foi um dos entrevistados do programa Giro do Boi desta terça-feira, 5. O objetivo foi justamente falar sobre a gradual mudança na forma como se identifica os bovinos no País.
Além dele, participou o engenheiro agrônomo Antony Luenenberg, coordenador técnico de Bem-Estar da MSD Saúde Animal.
“Toda mudança gera desconforto. Eu acredito que a pecuária tem mudado e tem mudado para melhor. Se no início o produtor leva um susto, depois, ele entende o processo”, diz Luenenberg.
A entrevista contou com participações virtuais dos pecuaristas:
- Túlio Ibanez, da fazenda Rio Corrente Agropastoril, no município de Coxim (MS);
- Antônio Campbell Penna, da fazenda das Palmeiras, em Ituiutaba (MG);
- José Eduardo “Dorico”, fazenda Cambury, Araguaiana (MT);
- e Carmen Perez, Agropecuária Orvalho das Flores, do município de Barra do Garças (MT).
Tecnologia de identificação
Ao invés da marca a fogo, o ideal é os pecuaristas apostarem cada vez mais na tecnologia para a identificação dos animais como brincos e bótons com chips eletrônicos.
A leitura é feita automaticamente e a ocorrência de erros é bem menor. Paranhos identificou que menos estes dispositivos geram menos de 1% na identificação do gado.
Isso pode até ser menor com a correta aplicação dos brincos dos animais.
“A única marcação obrigatória é da brucelose, que é feita na face do animal. Estamos estudando junto com o Ministério da Agricultura para rever isso. Antes, eram duas marcações. Com o nosso trabalho, abaixamos para uma, apenas”, diz Paranhos.
Pecuaristas contra a marca à foco
A redução da marcação a fogo tem ganhado cada vez mais espaço não só para a promoção do bem-estar animal, mas por também tornar o trabalho mais eficiente no campo.
“Nas fêmeas, saímos de oito marcações para apenas 1, que é da brucelose. As demais informações do gado são feitas por bóton eletrônico”, diz Ibanez.
Penna também conseguiu reduzir e muito as marcações feitas nos animais. Eram de nove a dez queimaduras feitas por animal.
“Era um procedimento trabalhoso e demorado, e com alto risco de acidentes. O maior inconveniente era a alta carga de estresse aos animais pela dor que eram subemtidos”, diz Penna.
Felizmente, o produtor está cada vez mais interessado em saber como adotar essas mudanças, refletindo um manejo mais tranquilo nos currais das fazendas, segundo a pecuarista Carmen Perez.
“Este trabalho começou em 2016 e em tão pouco tempo já tem ganhado muito espaço e muitos produtores mudando sua forma de pensar. Os produtores estão mais abertos para garantir o bem-estar ao seu rebanho”, diz Perez.
Confira no vídeo acima a entrevista na íntegra e conheça os detalhes para deixar a marca a fogo para a história.