Livrar-se de fêmea pode ser um baita negócio, na opinião do médico veterinário José Bento Ferraz, doutor em genética e professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), do campus de Pirassununga da Universidade de São Paulo (USP). O Giro do Boi desta terça-feira, 17, exibiu uma entrevista feita com o pesquisador, que é uma das grandes personalidades da pesquisa de genética de bovinos de corte no País.
A opinião de Ferraz se encaixa muito bem no próprio momento de mercado e traz mais ganhos para as fazendas. Primeiro, porque, com a inversão do ciclo pecuário, já há uma tendência natural do mercado para o descarte de fêmeas, e segundo, porque com o descarte também se vão da propriedade animais animais improdutivos, que não estão dando bezerros e que só aumentam os custos do produtor.
Neste sentido, o pesquisador faz um alerta aos pecuaristas: cuidado com as compras de fêmeas, pois é fácil comprar “gato por lebre”. “Dependendo do uso desses animais, como para matrizes, por exemplo, elas podem vir com doenças reprodutivas que vão trazer mais prejuízos para a propriedade”, diz Ferraz.
Pé no acelerador
Durante a entrevista, o pesquisador também falou dos avanços da produção de gado como a criação do “Conceito do Boi 7.7.7”, desenvolvido por pesquisadores do Polo Regional de Alta Mogiana, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que fica no município de Colina, na região de Barretos (SP). Este conceito tem servido como referência para estimular a aceleração da produção de carne bovina, o qual o animal vai para o abate antes dos dois anos de idade, com peso na casa das 21 arrobas, e bem acabado.
O sistema é chamado de ‘7.7.7’ porque são sete meses de desmama, sete de recria e sete para a engorda, ganhando em cada período 7 arrobas de carne. Mas o conceito não parou no tempo. Há quem já fale em boi ‘8.8.8’ ou até 20.20, no qual o animal ganhe 20 arrobas em até 20 meses, segundo
“Estamos numa fase extremamente propícia para o entendimento dos conceitos de melhoramento animal”, diz Ferraz.
Para ele, a atividade pecuária está cada vez mais acelerada, mudando seus conceitos e, o melhor desta história, é que o próprio pecuarista está acompanhando essas mudanças no mesmo ritmo. Segundo Ferraz, foi justamente na pandemia do novo coronavírus, o período que forçou o produtor a ficar mais em sua propriedade, onde ele começou a perceber a realidade de sua produção.
“Ele começou a ver com mais clareza os erros e acertos dentro da propriedade, e fez com que ficasse muito ligado na correção dos rumos de sua fazenda”, diz Ferraz.
A aceleração de conceitos como este já martelam na cabeça do pecuarista para poder tirar cada vez mais cedo sua produção da fazenda. Segundo o pesquisador, um dos grandes divisores de água foi justamente o conceito do boi China, animais abatidos por até 30 meses e que tem se tornado um tipo de animal cada vez mais demandado.
Distinção entre propriedades
Uma das coisas que também mudou foi a compreensão do pecuarista quanto a distinção entre as propriedades. Segundo Ferraz, um dos grandes benefícios foi ele perceber que não é possível comparar os resultados de propriedades diferentes, pois cada qual possui índices de fertilidade e condição de solo distintos, por exemplo.
“O pecuarista está aprendendo a identificar essas diferenças e, com isso, ele começa a não comparar laranja baiana, com laranja lima, com laranja pêra, que são coisas bem diferentes”, diz Ferraz.
Genética
O especialista também vê um grande avanço do trabalho do pecuarista com a adoção de metodologias modernas para o melhoramento genético do rebanho, que atualmente no Brasil não perde para nenhum outro lugar no mundo.
Segundo Ferraz, o criador começou a aprender a olhar o catálogo de touros, então ele já sabe que, quando escolhe um reprodutor, ele não não está comprando a genética do animal em si, mas o reflexo que esse animal terá nos filhos que virão.
Confira no vídeo abaixo a entrevista na íntegra: