A semana começou com uma sessão de tira dúvidas no Giro do Boi desta segunda-feira, 2. Com o tema cruzamento industrial, diversos telespectadores tiveram suas perguntas respondidas sobre os tipos de cruzamento ideal para sua produção de gado de corte na fazenda.
Os esclarecimentos ficaram a cargo de um dos grandes nomes do time de especialistas do Giro do Boi, o zootecnista Alexandre Zadra, autor do blog “Crossbreeding” e supervisor regional comercial da Genex para os Estados do Acre, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia, além de consultor, escritor e pecuarista. Confira abaixo algumas dúvidas que surgiram no programa:
- Touro Senepol em vaca Nelore
A dúvida do pecuarista do triângulo mineiro, Paulo César Navarro, foi sobre o uso de touros Senepol em vacas Nelore.
- É possível aproveitar essas F1 para voltar a inseminar com nelore, para aproveitar as fêmeas desse segundo cruzamento para futuras matrizes?
Resposta: Sim, é possível, segundo Zadra. A fêmea é muito boa, tropical, cruzada e cruzando com outra raça sem pelo, o produtor fará um animal totalmente tropical novamente. “O zebu sobre uma F1 que não tem cupim, só temos de ter cuidado que seja uma animal de parto fácil, ou seja, vamos recomendar que esse touro Nelore seja provado para que não dê problemas de parto, porque todo zebu na barriga de uma F1 que não tem cupim, ele fica mais tempo na barriga dela, e pode nascer mais pesado”, explica o especialista. Além do touro Nelore sobre a fêmea F1, podem ser utilizados touros bimestiços como Brangus, Braford, Canchin e Santa Gertrudis, ou como inseminação com sêmen de reprodutores europeus de grande porte como Black Simental ou Charolês.
- Hereford e meio-sangue Red Angus
Da região do meio-oeste catarinense, o pecuarista Jeferson Candiago pergunta a respeito de cruzamento de touros Hereford com novilhas meio-sangue Red Angus:
- Estou com problemas de parto com esses animais. Quais seriam as causas?
Resposta: Segundo Zadra, infelizmente o problema não tem a ver com o cruzamento em si, mas pode ter sido ocasionado por problemas individuais dos animais. “Quando se usa um Hereford que normalmente gera animais não pesados ao nascimento. Então pode usar essa raça nas suas F1, sim. Só tome cuidado para que esse touro venha de linhagens de parto fácil, que seus antecedentes não tenham problema de parto”, diz Zadra.
Charolês x Devon
Também de Santa Catarina, da cidade de Concórdia, a Gabriela Peruzzo Kaiser pergunta:
- Pode-se cruzar fêmeas Charolês com touro Devon?
Resposta: Sim, pode-se cruzar, sim, porque as vacas Charolês são grandes e o Devon é outro britânico e não gera problema de parto, segundo o consultor do Giro do Boi. “Pode resultar numa heterose muito boa, mesmo os dois sendo europeus”, diz Zadra.
- Touro Tabapuã em fêmeas Nelore/Angus e Nelore/Simental
O pecuarista José Edmilson, do sul de Minas Gerais, quer iniciar uma criação de bezerros e pensa em cruzar touro Tabapuã em fêmeas F1 Nelore/Angus e também em matrizes Nelore/Simental. Ele perguntou:
- Este cruzamento é bom?
Resposta: Sim, este cruzamento é bom.
- Há riscos de distocia, ou seja, qualquer perturbação no bom andamento do parto?
Resposta: Sim, há riscos de distocia, porque todo o zebuíno utilizado em novilhas F1 sem cupim pode gerar problemas de parto pelo fato dessa produção ficar cerca de dez dias a mais na barriga da vaca. “O recomendado é utilizar touros Tabapuã com DEP para facilidade de parto, ou seja, que gere bezerros leves ao nascimento”, diz Zadra.
- Raça Tropicana
A dúvida sobre a raça Tropicana veio do pecuarista, Moacir Netto, da região central de Goiás.
- Qual a melhor opção para inseminação de vacas filhas da raça Tropicana desenvolvida pela Embrapa para criar gado a pasto?
Resposta: A raça Tropicana é o cruzamento de Blonde d’Aquitaine com Caracu. “Essas fêmeas são muito boas, adaptadas e bem rústicas. É uma raça meio-sangue tropical, então o pecuarista pode usar um touro bimestiço como o Brangus e Braford, que vai muito bem”, diz Zadra.
- Touro Senepol em vacas meio-sangue Angus
Evaldo Custodio Lourenço, de Tupaciguara (MG), diz ter comprado 35 vacas meio-sangue angus e que foram paridas por touro Senepol por inseminação
- As crias foram excelentes. Posso cruzá-las com Nelore?
Resposta: Segundo o Zadra, o único ponto de atenção é sobre possíveis problemas com parto, utilizando touros zebu em fêmeas que não tem cupim, já destacada em dúvidas anteriores. “Novamente essa F1 é uma fêmea de menor porte, portanto, não se recomenda um touro que não tenha DEP para parto fácil”, diz o especialista.
- Vai dar um bom resultado?
Resposta: Para o consultor, se o produtor tiver um zebu com DEP de parto fácil, o resultado vai bem. Caso contrário, ele pode utilizar touros bimestiços como Bonsmara ou Caracu, que vai muito bem.
- Touro Canchim em Nelore ou F1 Senepol/Nelore
O produtor Johnson Silva, de Pontes e Lacerda (MT) perguntou sobre alguns tipos de cruzamento ideais para sua região, que é bastante quente:
- Gostaria de saber como seria o resultado do cruzamento do Canchim com Nelore?
Resposta: O Canchin no Nelore gera uma fêmea bem rústica, adaptada, sem pelo que vai muito bem se você usar novamente um taurino adaptado como Bonsmara, Caracu, Senepol.
- Qual o resultado do Canchim em F1 Senepol/Nelore?
Resposta: Quando se fala em touro Canchim em F1 Senepol/Nelore, o pecuarista faz um animal bem rústico. “Então ele pode manter o mesmo cruzamento como Bonsmara, Caracu, Brangus, Bradford e Santa Gertrudis sobre essa fêmea”, diz Zadra.
- Santa Gertrudis e F1 Angus
Da região de Presidente Prudente (SP), o pecuarista Santos Teixeira diz que vê um bom resultado de touro Santa Gertrudis em F1 Angus e pergunta:
- Será que vou colher bons resultados?
Resposta: Sim, dessa cruza sairá bons resultados, de acordo com Zadra, que explicou que esse cruzamento é a base do Red Norte, que foi criada com a ajuda do médico veterinário Armando Leal Norte. “Então neste cruzamento de Santa Gertrudis na F1 Angus vai muito bem e você fará uma cruza de animais que se complementam, porque o Santa é grande porte e a meio-sangue é de um tipo britânico. O Santa Gertrudis é o bimestiço mais antigo do mundo, formado em 1940 no King Ranch, e é a base de formação de todos os bimestiços”, diz Zadra.
- Nelore x Guzerá
A dúvida de Ricardo Lazzarini Garcia, criador da região do extremo norte de Mato Grosso, em Guarantã do Norte, é sobre as matrizes Nelore/Guzerá. Ele pergunta:
- Qual seria a melhor touro para cruzar com essa Guzonel?
Resposta: O Guzonel traz a habilidade materna do Guzerá e a carcaça longelínea do Nelore, com úbere e teto corrigido, fazendo com que esse animal seja muito produtivo, fazendo uma carcaça forte, de alto rendimento por conta do Nelore. A utilização de touro Nelore com altíssimo potencial de ganho de peso ou com alta DEP para a característica que você procura.
- Em algumas F1, voltei ao cruzamento com o Nelore. Isso é ruim?
Resposta: Não, de forma alguma. O cruzamento com o Nelore é muito bom entre zebuínos, segundo Zadra. Para ele, é preciso deixar claro que a cruza entre raças zebuínas é uma forma de o pecuarista aumentar a produtividade na fazenda.
- Heterose
- Qual a recomendação entre as linhagens do touro Ludy de Garça, que é um dos genearcas de linhagem bem distante no Nelore?
Resposta: A base era visual. Então você tinha sempre touros como Gim, Karvadi e Visual. Estes eram os cruzamentos que eram tradicionais. Então cruzávamos animais de ótima pigmentação, como do animal Karvadi para produção.
- Catálogos de touros
A dúvida trazida por Samuel Passarela, de Tubarão (SC) é sobre a dificuldade para entender melhor os catálogos de touros melhoradores.
- Quais dicas de como ler corretamente as informações do catálogo para melhor saber qual sêmen comprar e não errar na aquisição?
Resposta: O primeiro é definir a raça que o produtor quer trabalhar e qual sumário se quer dar foco. Por exemplo, a raça Angus tem seu sumário Promebo, sumário americano, sumário com provas argentinas. “Depois de escolhido o touro e o sumário, você parte para as características que você quer melhorar no seu gado, e aí se utiliza a DEP com a melhor que existe”, diz Zadra.
- Nelore x Hereford
O Marcelo Crozatto, de Colorado do Oeste-RO perguntou:
- Gostaria de saber se vacas Nelore apresentam dificuldade de parto no cruzamento com Hereford?
Resposta: Segundo Zadra, não há problemas de parto com essa opção e, por isso, é um cruzamento que pode ser utilizado tranquilamente.
- Tabapuã
O pecuarista Jonas Bach, de Clevelândia (PR), perguntou:
- Qual touro é indicado para vacas Tabapuã?
Resposta: Angus, Black Simental, Hereford e Bonsmara.
- Cria de animais meio-sangue
O produtor Elias Fernando, de Pedralva (MG), perguntou:
- Vou gastar muito para ter matrizes F1?
Resposta: Não vai gastar mais para isso, além de acelerar a produtividade da fazenda, segundo Zadra. “Eu costumo dizer que a melhor forma de aumentar o rebanho rapidamente é fazer a F1 cruzada de europeu com o Nelore porque ela entra no cio cedo e você tem um bezerro muito antes do que uma fêmea que não é cruzada”, diz o especialista.
- Touro Brahman em F1 Caracu/Nelore
O pecuarista Jonas Peixoto, de Cristalina (GO), diz que está entrando na pecuária agora quer criar vacas para cria de touro Caracu em vacas Nelore, e com essas F1, a intenção é colocar um Touro Brahman. Ele pergunta:
- Vai dar certo esse cruzamento do touro Brahman em F1 Caracu/Nelore?
Resposta: Para Zadra a opção dará bezerros excepcionais e pesados na desmama, no entanto, o pecuarista deve se atentar, novamente, para reprodutores com DEP de facilidade de parto.
- Raças para o Semiárido
O pecuarista Eduardo Veiga de Porangatu (GO), que possui fazendas na Bahia, perguntou:
- Qual a melhor raça para criar no Semiárido e fazer carne de qualidade?
Resposta: “A base tem de ser zebuína, ou com animais adaptados 100% tropical como o Senepol e Caracu, e aí se insemina essas vacas com raça europeia de bom mármore tipo Angus que tem DEP de mármore para fazer essa carne diferenciada”, diz Zadra.
Confira no vídeo abaixo a entrevista na íntegra.