Em entrevista ao Giro do Boi exibida nesta quinta, dia 02, o zootecnista Juliano Jubileu, diretor de exportações da Seara para a região da Eurásia, falou sobre os impactos da pandemia no consumo de carnes em geral e o que o pecuarista pode fazer para ajudar a impulsionar e retomar os índices de consumo pré-Covid-19.
Jubileu explicou que assim como a pecuária de corte, as outras cadeias produtivas também sentiram impactos do aumento dos custos. “Hoje na cadeia do frango a gente tem sentido muito o aumentos dos custos de produção, principalmente nos grãos. 70 a 75% do custo do animal vivo vem do grão e o milho que, como a gente sabe, dobrou de preço. E não só o milho, como o frete, embalagem… Então o desafio é grande”, comentou.
O especialista resumiu de que forma a pandemia impactou os hábitos do consumidor europeu. “Na segunda onda de Covid nós ficamos praticamente em lockdown de outubro de 2020 até junho (de 2021), então é um período grande, quando, por exemplo, o próprio food service ficou parado. Você tem boa parte do nosso produto, da carne bovina resfriada que vem e vai para o food service, vai para o horeca, que são hotéis, restaurantes e caterings (serviços de refeições coletivas), já que estava tudo fechado, e só estava movimentando o varejo. Então essa questão do lockdown forçou as pessoas a mudarem um pouco o consumo, consumirem mais produtos em casa”, informou.
“O próprio poder de compra do europeu mudou também, isso acho que no mundo inteiro, uma vez que a gente vê na Europa também que a taxa de desemprego aumentou, então o poder de compra das pessoas foi afetado. […] E uma vez que elas perdem poder de compra porque perderam emprego ou tiveram reajustes salariais, que seja, uma das coisas que são afetadas é o consumo. E as pessoas tendem a fazer uma mudança ou uma substituição de proteínas. Então esse é um caso importante, aqui, no caso da Europa, querendo ou não, de forma mundial, a carne bovina está cara em relação às demais proteínas e falando especificamente de Europa, a gente teve a carne bovina com preço mais alto, já o frango mais competitivo, o suíno muito mais competitivo”, destacou.
Jubileu explicou por que o suíno, de modo mais específico, ficou mais barato na Europa. “Em 2020, a própria China baniu a (exportação de carne suína da) Alemanha e a Alemanha é um grande produtor de suíno. E estando fora da China, a Alemanha deixou produto no mercado interno europeu. Então o preço do suíno baixou e você tem duas proteínas muito competitivas em relação a preço num cenário que é bem desafiador, principalmente em relação ao poder de compra. Não só isso também, mas falando daqui da Europa, a gente não pode deixar de lembrar do turismo, que reduziu muito. Ficou praticamente inexistente e o consumo do turismo é muito importante para toda a Europa. É uma grande fatia do que movimenta não só a carne bovina, mas todas as outras proteínas. Então o consumo deu uma mexida”, completou.
Para o pecuarista brasileiro estar atento ao processo e contribuir com a retomada, Jubileu reforçou a importância da qualidade da carne produzida para conquistar novamente os consumidores, como a terminação de gado apto para exportação via Cota Hilton. “Até maio (de 2021), a gente estava com 26% da cota (preenchidos). E o ano-cota termina em junho. […] A gente está muito além disso. Das dez mil toneladas a que a gente tem direito, nós fizemos só 2,6 toneladas”, salientou.
“A gente sempre falou muito nos programas da importância da Cota Hilton, que é uma oportunidade que a gente tem de agregar valor na ponta final, na venda da carne, é uma oportunidade que a gente tem de agregar valor aos animais. Eu acho que a indústria frigorífica hoje vem desenvolvendo um trabalho junto aos pecuaristas para que isso aconteça, para que tenha uma melhor remuneração. Em relação à Europa, é fundamental”, analisou.
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No vídeo a seguir é possível assistir a entrevista completa com o diretor de exportações da Seara, Juliano Jubileu: