Em novo patamar da engorda intensiva, pecuaristas combinam semi e confinamento; veja como funciona

Em entrevista, idealizador do Manual de Semiconfinamento deu detalhes sobre aquela que é, em sua opinião, a grande evolução no sistema de terminação

Já se foram dois anos desde que o médico veterinário e professor Guilherme Vieira, criador das plataformas Farmácia na Fazenda e Semiconfinamento.com.br, lançou o seu Manual de Semiconfinamento. E como a pecuária de corte brasileira anda tão acelerada em todos os sentidos, o sistema já ganhou adaptações e evoluções país afora. Em entrevista ao Giro do Boi desta quinta, 05, o consultor destacou o próximo patamar da intensificação da engorda a partir do semiconfinamento, que é sua combinação com o próprio confinamento.

Vieira contextualizou o cenário em que lançou seu manual em 2019. “Nós lançamos o nosso manual de semiconfinamento porque a gente via o pessoal dar muita pedrada no semiconfinamento. Primeiramente, eu queria explicar para o telespectador que o semiconfinamento é uma produção intensiva de engorda de boi em que você utiliza o pasto e você fornece ração para o boi engordar. […] Então nós estruturamos esse manual de semiconfinamento, já foram 400 pessoas que compraram e o feedback é fantástico”, celebrou Vieira.

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DÁ PARA CHEGAR A 1,3 KG DE GANHO MÉDIO DIÁRIO NO SEMICONFINAMENTO?

Como a ração bem balanceada e ajustada para os animais em terminação, o fator limitante do desempenho no semiconfinamento, inclusive sendo fundamental na redução do custo do sistema, é justamente o pasto.

“A base do semiconfinamento é um bom pasto de qualidade. […] E é um problema sério: apenas 2% de todo adubo produzido no Brasil vai para a pecuária, tanto de corte como leite. É muito pouco! […] Então a base está em você tratar bem o pasto. […] Quando o boi vê um pasto muito bom, ele acaba esquecendo da ração porque o pasto está excelente. […] Um amigo meu da Universidade do Novo México veio ao Brasil e falou ‘Guilherme, I love grass! Eu amo capim, vocês são ricos e não sabem’. O boi é um animal tão fantástico que transforma capim em carne e leite. Então a base de um semiconfinamento é um bom pasto. Fez o trato cultural, que a gente chama de pastagem diferida, e logo depois a gente coloca uma ração. Com uma genética boa, aí explode, aí não tem jeito. A gente está engordando no nosso modelo, 1,3 kg por dia no auge, no pico. Isso é engorda de confinamento”, enalteceu Guilherme.

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Enquanto o desempenho se aproxima cada vez mais do obtido na engorda em cocho, o semiconfinamento também tem um ponto forte na outra ponta, no custo. “Sem você ter aquele custo adicional com investimento em instalações. Você faz no pasto, você tem que ter um cocho, bebedouro, água de boa qualidade… O pessoal tem que entender que com água de qualidade, mais água ele consome e tem mais consumo de matéria seca e consequentemente ele engorda. Então esse é o processo. Você perguntou, a base é essa”, confirmou.

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3 UA/HA COM GMD DE 1,3 KG CONSUMINDO 1% DO PESO VIVO

O consultor projetou também qual a produtividade média que uma propriedade pode obter a partir do semiconfinamento. “Os 5 UA/ha a gente está usando muito na recria turbinada, principalmente aquela boiada que sai de 12@ e a gente prepara para ir para um semiconfinamento ou confinamento. A gente coloca uma taxa de lotação de 5 UA/ha. No semiconfinamento, nós trabalhamos sempre com 2 UA/ha, mas com a pastagem de boa qualidade, nos últimos ciclos no ano passado, sobrou pasto. Então a gente vai fazer teste agora com 3 UA/ha em um lote que vai entrar agora para pegar o pico da arroba do boi no final do ano. A gente vai entrar com 3 UA/ha tranquilamente, já está tudo medido, organizado para ganhar 1,3 kg por dia com uma boa ração a 1% do peso vivo”, revelou.

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O PRÓXIMO PATAMAR

Duranta a entrevista, Vieira revelou qual a grande evolução da engorda intensiva que utiliza o semiconfinamento, integrando o sistema ao confinamento. “Essa é a grande evolução, motivo para a minha vinda a programa aqui hoje. Você pergunta o que evoluiu nesses dois anos? Nós temos cinco clientes que são engenheiros – eu adoro trabalhar com engenheiro porque ele trabalha em cima de planilha – […] que chegaram para mim e perguntaram: ‘Professor, por que a gente não coloca do semiconfinamento no confinamento?’. Eu falei que precisava testar. Então vamos testar! A gente pega aquele boi que tem entre 15@ e 17@, que está no semiconfinamento, ele já montou toda a estrutura para produção e distribuição de ração […] e o que a gente faz? Nos 30 dias finais, a gente prende ele no confinamento. Ele já está com rúmen trabalhado, já está adaptado no grão e vai embora”, contou.

“O negócio é bom mesmo! Então essa é a grande evolução, você pode fazer, sim, e chegar naqueles resultados que são mostrados aqui no Giro do Boi. Nós estamos conseguindo isso com pessoas que nunca fizeram, estão fazendo e com excelente resultado”, afirmou.

Além de servir ao pecuarista, o modelo pode trazer também o agricultor para atividade de bovinocultura de corte, viabilizando o aproveitamento de cada janela entre as safras de grãos. “Confinamento para pecuarista e agricultor, por que não? É possível você produzir as boiadas que todo dia o Giro do Boi mostra. Basta trabalhar!”, estimulou.

A entrevista completa com Guilherme Vieira e os exemplos de animais frutos do sistema de engorda intensiva pode ser vistos a partir do player abaixo: