Uma reportagem da série especial Embrapa em Ação exibida no Giro do Boi desta quinta, dia 1º, mostrou qual é o impacto do sombreamento proporcionado pela ILPF em rebanhos leiteiros, e que pode ser também uma boa alternativa para o gado de corte. Um estudo feito pela Embrapa Cerrados mostrou que a produção leiteira das fêmeas Gir e Girolando cresceu 22% e 24%, respectivamente, em piquetes sombreados quando comparada à produção em manejo tradicional. Além disso, o rendimento do leite também é maior por conta de um aumento da quantidade de sólidos, que evoluiu 6%. Foi a médica veterinária e doutora em zootecnia Isabel Ferreira, pesquisadora da Embrapa Cerrados, quem falou sobre o assunto em entrevista à equipe de reportagem do Giro do Boi.
A especialista apresentou a área em que os números estão sendo levantados e analisados. “É uma área de integração lavoura-pecuária-floresta. São oito hectares de área experimental. Hoje estamos com oito anos de avaliação, o eucalipto plantado em 2013 junto com o sorgo e, na sucessão das culturas, veio pastagem, depois veio a soja e, depois que retirou a soja, a gente plantou o Mombaça para fazer avaliação experimental. […] Então o experimento começou em 2013, a partir disso o Mombaça com as árvores de eucalipto, hoje a gente tem árvores com altura de até 30 metros com diâmetro à altura do peito também de 28 a 30 cm, numa densidade de 130 árvores por hectare. No início era maior, com as árvores plantadas a cada metro e meio e 25 metros entre os renques. Isso dava uma densidade de 260 árvores, mas depois foi feito um desbaste de metade das árvores para aumentar a incidência luminosa. No decorrer desse experimento, essa (130 árvores/ha) foi a densidade que deu um equilíbrio maior entre a produção de madeira, de forragem e de leite das vacas”, detalhou.
Um dos impactos positivos do sombreamento dos eucaliptos foi na parte reprodutiva das matrizes leiteiras. “A sombra tem impacto e muito na parte reprodutiva. Foram três anos de avaliações das vacas Gir e Girolando. Nas vacas Gir Leiteiro, mesmo sendo consideradas adaptadas ao calor, a gente identificou uma melhor qualidade dos embriões e das células germinativas das vacas, os ovócitos. Eles têm mais qualidade e uma maior quantidade também. Chegou a dar quatro vezes mais embriões nas vacas Gir que estavam sob sombra quando isso era comparado às vacas que estavam no sol. Então é muito impactante e às vezes o produtor não percebe. É uma coisa que ele não percebe que está perdendo e não oferecer a sombra para a vaca. A vaca tem que parir um bezerro por ano e quando ela sente calor, ela não dá o cio ou às vezes emprenha, mas perde o bezerro, e isso impacta grandemente na produção de leite”, anunciou.
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Isabel explicou que a produção de leite aumenta porque a vaca deixa de investir energia para equilibrar a própria temperatura. “Vacas são homeotérmicas, como os seres humanos, ou seja, a temperatura do corpo delas é mantida fixa independente se está frio ou calor. Se está muito calor, ela precisa gastar energia dela para manter a temperatura do corpo, o equilíbrio. E ela gasta essa energia para manter a temperatura do corpo e deixa de gastar para produzir leite ou para manter a reprodução. Isso é uma coisa que a gente não percebe visualmente, mas a vaca está perdendo dinheiro para a fazenda porque está consumindo forragem, concentrado e não está convertendo em bezerro e leite. Então o sistema com a sombra é interessante por causa disso, ele favorece manter bons índices reprodutivos com qualidade do embrião. Aqui a gente fez por fertilização in vitro, mas com monta natural e inseminação também se identifica essa mesma resposta das vacas sob sombra, principalmente na nossa região tropical. Por exemplo, aqui em Brasília, nos meses de agosto, setembro e outubro é muito quente, muito seco e um faz maior número de horas de calor. Isso impacta muito porque mesmo a noite sendo mais fresca, a vaca não responde, não consegue descansar, digamos assim. E em regiões muito quentes, que a noite também é muito quente, aí que é pior o estrago”, alertou.
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A pesquisadora confirmou então o impacto do sombreamento da ordenha de leite. “No caso das vacas Gir, a produção de leite ficou 22% maior quando comparado às vacas em pleno sol. Então impacta bastante. A questão da literatura, a gente sempre lia sempre em torno de 10% a mais quando a vaca tem acesso à sombra, então no nosso caso aqui, as Gir Leiteiro produziram 22% a mais. E as vacas Girolando, no período da seca, chegaram a até 24% a mais, então realmente impacta muito”, ressaltou.
O sombreamento melhorou também a qualidade do leite. “Aumentou a quantidade de extrato seco desengordurado, um aumento de 6%. Isso é uma maior quantidade de sólidos, digamos assim. Para quem faz queijo, manteiga, aumenta o rendimento”, relacionou.
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“Por que a vaca dá mais leite? Além do conforto térmico e bem-estar que ela tem, a gente também mediu a qualidade do pasto. Aqui é um pasto de Mombaça em pleno sol e ele tem 30% a mais de proteína. Aqui tem uma ciclagem maior de nutrientes, então aumenta a proteína e a vaca rumina mais, ela passa 30% do tempo a mais ruminando quando ela está aqui. Assim os nutrientes do pasto ficam mais disponíveis para a vaca que está sob sombra. Isso favorece o aumento da produção de leite junto com o conforto das vacas. É uma combinação, um casamento perfeito. E num sistema de integração onde tem árvores, o produtor ainda pode usar a madeira, tem uma alternativa, uma segunda fonte de renda além do leite para o sistema”, lembrou.
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Mais do que benefícios para dentro da porteira, o sombreamento também é capaz de surtir efeito no mercado consumidor, que demanda cada vez mais rastreabilidade para a fonte dos seus alimentos. “A questão do bem-estar hoje é muito falada e tem que ser realmente executada no campo. O consumidor hoje está preocupado se vai tomar um leite de uma origem definida, qual a rastreabilidade deste produto – como a fazenda está inserida, como é o animal que está produzindo esse leite que eu estou consumindo no café da manhã, o queijo…. A sociedade científica que estuda o bem-estar animal tem muitas premissas e uma delas é manter o comportamento natural do animal. Um dos comportamentos naturais, por exemplo, é o animal se coçar. A árvore proporciona isso. A questão do descanso, poder deitar onde ela quer, deitar sob sombra, além disso, dentro do bem-estar animal, tem que ter oferta de alimento e água, o animal não pode ter fome, não pode ser ter sede, e expressar seu comportamento natural. Num ambiente onde se tem árvores, se proporciona isso. O bem-estar do animal, o bem-estar físico, a questão da temperatura, de ele não sentir calor, e o bem-estar comportamental, porque ele consegue se expressar. A gente aqui observa muito uma vaca lambendo a outra, que é um comportamento da espécie, uma espécie que precisa estar agregada entre vários indivíduos, as vacas não podem estar sozinhas, elas têm uma hierarquia […]. Então isso a gente observa quando faz os estudos de comportamento que fica aqui avaliando os animais”, concluiu Ferreira.
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A reportagem completa sobre o impacto do sombreamento do pasto no bem-estar e na produção pode ser vista pelo vídeo a seguir: