Nesta segunda-feira, o pecuarista Hélio Corrêa de Assunção, criador pioneiro na seleção da raça Nelore Pintado no Brasil, contou a origem de seu plantel e alguns dos causos que colecionou ao longo de quase 50 anos dedicados à raça.
Assunção recordou que a seleção teve origem com um criador do Rio de Janeiro, um primo seu Leonardo Corrêa da Silva, e foi para Mato Grosso do Sul por meio de seu tio-avô, Autonomista Corrêa da Silva, com a aquisição do touro Pão de Ló.
“Ele trouxe para cá em 1966, por aí, […] E o meu avô, seo Otacílio Corrêa Borges, comprava touro dele. Aliás, esse Pão de Ló não dava muito vermelho pintado, mas os filhos dele começaram a ficar. E quando eu vim para cá em 1973, nós fizemos a agropecuária, eu e meus irmãos, o meu avô tinha pelo menos umas 150 a 200 vacas vermelhas pintadas, tudo oriundo do Pão de Ló. […] E aí eu comecei a fazer seleção, eu e meus irmãos, na nossa agropecuária. Depois eu fiquei com o gado e veio o registro do Nelore, da pelagem, se não me engano em 1982 ou 1983. Daí para frente veio essa ‘teimosia’. Essa persistência um pouco é teimosia, porque em um ano você quer melhorar a raça e acaba com a pelagem. Aí quer melhorar a pelagem, mas acaba a raça”, contou Hélio.
Veja a entrevista completa com Hélio Corrêa de Assunção, criador pioneiro na seleção do Nelore Pintado, pode ser vista pelo vídeo a seguir:
Desde então, lá se vão quase 50 anos de seleção do Nelore Pintado, sempre tentando combinar as características produtivas com a bela pelagem, o que nem sempre dá certo.
“Para melhorar esse gado que vem o problema. Você amarela um pouco o gado, aí tem que voltar para os vermelhos antigos, mas que não têm esse peso atual de hoje”, disse, revelando o principal dilema da seleção do Nelore Pintado.
A situação gerou até um dos “causos” vivenciados pelo pecuarista. “Um amigo meu outro dia disse que comprou um boi pintado de vermelho maravilhoso, mas ele dá muito pintado de amarelo. ‘Como que faz esse gado?’, ele perguntou. Eu respondi: ‘você vai pelejando, depois de uns 30 anos você vê me fala!’”, sorriu Hélio. “Genética é difícil. Você imagine eu ainda fazer qualidade com pelagem. Aí não é fácil”, observou.
O criador compartilhou outra história inusitada que ocorreu em meio à sua experiência como selecionador do Nelore Pintado. “Tem uma historinha minha verídica de uma exposição em Campo Grande (MS) em que um homem, um senhor da minha idade […], tirou o meu gado da cocheira para fotografar. […] E naquele tempo eu estava com meus primos […] e eu precisava vender o boi. Aquele tempo não tinha leilão. E falaram para mim: ‘corre lá que o homem quer comprar’. Eu fui e perguntei se ele tinha gostado. Ele falou: ‘é maravilhoso! Dá um tapete lindo!’. O homem não dava bola, não, mas ele achava que o boi era muito bonito. Eu fiquei rindo. O Antônio Carlos (primo) perguntou o que ele tinha falado e eu contei. Ele falou para a gente ir atrás dele e eu disse que ‘zebuzeiro não pode embrabecer’. E meu primo perguntou o que eu respondi. ‘Uai, você arrumou mais uma serventia. Se não gostar da qualidade, pelo menos um tapete dá!’”, contou o bem-humorado Hélio Assunção.
NELORE PINTADO X NELORE PADRÃO
O pecuarista também caracterizou o Nelore Pintado em sua comparação com o Nelore padrão. “Ele é idêntico ao Nelore branco. Demorou para chegar, mas hoje ele é produtivo, leiteiro. Tudo que se exige no branco, tem que exigir no pintado. Porém, tem que ter a pelagem”, especificou.
“Tudo que se exige no (Nelore) branco, tem que exigir no pintado”, afirmou selecionador.
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“Eu tenho boi de 1.200 kg a pasto que nunca comeu numa cocheira. […] Às vezes é difícil você acertar o boi, mas com os anos você acerta. Não pode dispensar as novilhas que nascem claras porque você volta o boi vermelho nela, aí ela começa a dar o vermelho. O que eu mais escuto no Brasil: Helinho, se põe vaca branca, dá Nelore pintado? Dá sim, mas precisa caprichar”, apontou.
Hélio disse também como faz para identificar os bezerros que vão continuar pintados quando adultos “Eles nascem bem pintadinhos, todos bem vermelhinhos. Aí você olha por dentro da mão e das pernas, se tiver pintado por dentro, se estiver colorido por dentro, vai continuar com a cor. Se for branquinho, ele vai ficar com aquela mancha d’água. [..,] Tem o cinza, que é registrado no Brasil e só eu tenho ele. […] Esse está difícil continuar […] porque não tem touro. Tem fumaça, mas aí a porcentagem abaixa muito, dá muito branco, muito pintado de preto”, acrescentou.
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