“É um mercado que vem crescendo a passos largos”, afirmou em entrevista ao Giro do Boi desta quinta, 04, o médico veterinário José Rodolfo Sabadin, gerente de embriões da Alta Genetics, sobre o uso de embriões como biotecnologia da reprodução bovina no Brasil. O País responde por cerca de 67% do total mundial de embriões produzidos in vitro, de acordo com o relatório mais recente da Sociedade Internacional de Tecnologia de Embriões.
“O mercado de embrião, de FIV, vem crescendo em torno de 30 a 40% ao ano nos últimos anos. Então é a prova que essa biotecnologia está mais confiável, mais acessível. Hoje ela é aplicada a rebanhos em larga escala, a rebanhos que têm por objetivo repor matriz, tem por objetivo produzir animal de nível genético, tem por objetivo produzir touros, doadoras. É um produto que consegue abranger uma gama muito grande de mercados e de perfis de pecuaristas”, enalteceu Sabadin.
De acordo com o veterinário, o modo cada vez mais viável com que a tecnologia é aplicada em rebanhos não só de elite, mas comerciais, é mola propulsora desse crescimento. “Essa foi a grande virada de chave desse mercado de FIV e embriões. Foi quando essa biotecnologia passou a ser aplicável para o pecuarista de larga escala, para aquele pecuarista que também tem rebanho comercial e visa produzir seus próprios touros, que visa produzir seu próprio rebanho genético. E, de alguns anos para cá, com esse ágio da arroba, esse alto preço da arroba e a valorização da carne nacional, combinado com a dificuldade de reposição de matrizes, essa biotecnologia está cada vez mais aplicável também para reposição de matrizes comerciais”, analisou.
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“A gente precisa entender o passado para saber onde nós vamos chegar no futuro. Nós viemos de uma biotecnologia que, num primeiro momento, poucas pessoas conheciam no Brasil. A gente tinha pouco conhecimento de bons resultados, de técnicas a serem aperfeiçoadas. E ela se aplicava realmente a rebanhos de elite por conta desse alto custo. Ao longo dos anos, essa tecnologia veio mudando, se aperfeiçoando. No Brasil formaram-se mais profissionais especialistas, ou seja, a disponibilidade de mão de obra aumentou e, com isso, nós conseguimos atingir os rebanhos comerciais, os rebanhos de larga escala e os rebanhos de fêmeas melhoradoras. Nesse sentido, hoje é uma biotecnologia que em 90% dos casos se aplica para o pecuarista que, de fato, vive da comercialização de animais”, complementou.
Sabadin calculou o custo de uma bezerra fruto da biotecnologia e comparou com o preço médio de uma novilha de reposição para ilustrar a viabilidade da operação. “A gente tem uma estimativa, por exemplo, que uma bezerra produzida por embrião (FIV/TE), de alto valor genético, proveniente de doadoras com DEPs muito fortes para fertilidade, ganho de peso e conversão alimentar, desde o nascimento até a desmama custa aproximadamente R$ 2.500,00. E a gente vê leilões por todo o Brasil que uma bezerra comercial é vendida por R$ 2.800,00 a R$ 3.000,00. Então nós estamos num momento de muito equilíbrio, onde se justifica demais você fazer reposição de matrizes através de embriões de alto valor genético”, sustentou.
O especialista respondeu também se o uso da biotecnologia se sustenta também para a reposição de touros. “Sem dúvida nenhuma. O segredo da coisa é você acertar na genética. Eu costumo dizer que as decisões de genética tomadas são permanentes na fazenda. Para você mudar é muito difícil. Então elas são muito importantes dentro de um planejamento, uma decisão correta sobre qual é o plano genético que a fazenda tem. Porque uma vez determinadas quais vão ser as doadoras de embrião e usando as ferramentas que nós temos no mercado, como genoma e os programas de avaliação e seleção, que a gente tem no Nelore e em outras raças, você detecta as melhores doadoras, que têm características de impacto econômico mais fortes, mais exacerbadas, e produz embriões delas. Com certeza, o nível genético dos touros que você vai produzir é muito mais alto e a porcentagem de aproveitamento de indivíduos que vão virar touros é muito maior utilizando a biotecnologia casada com os programas de seleção”, ressaltou.
O veterinário acrescentou, entretanto, que a FIV e a TE servem como mera ferramenta para a reprodução e que devem estar inseridas em uma estratégia de seleção e melhoramento genético para que tenha impacto na evolução de um plantel. “O importante é frisar: a FIV é um processo de aceleração do melhoramento genético. Ela precisa estar casada com as ferramentas de seleção genética que nós temos em vários programas, em vários rebanhos. Esse casamento fornece um ganho genético muito grande e um ‘custo x benefício’ muito interessante para essa biotecnologia”, ponderou.
Sabadin comentou também a respeito da evolução da criopreservação de embriões, tecnologia que apresenta resultados de patamares cada vez mais similares à transferência de embriões a fresco e que pode contribuir para a popularização da técnica no Brasil.
“Nós temos duas situações. A primeira é que o embrião a fresco se aplica a diversas ocasiões, fazendas de projeto de larga escala, fazendas que estão próximas aos laboratórios e etc. E, de fato, hoje, dentro do nosso cenário atual, ele é ligeiramente melhor nas taxas de concepção. Mas nós temos uma biotecnologia paralelamente crescendo de maneira vertiginosa, que é o embrião congelado. O embrião congelado, hoje, tem taxas de concepção ligeiramente inferiores em comparação com o embrião a fresco, porém ela permite que você atenda fazendas que estão longe dos laboratórios, permite que você leve genética de outras fazendas com anos e anos de seleção para criadores que estão iniciando e querem dar o salto genético”, explicou.
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“Quais as vantagens do congelamento de embrião? Primeiro é chegar em qualquer lugar do país, independente do volume. Trabalhar com embriões a fresco em alguns lugares do país, por conta de volume, distância e logística, torna mais difícil o atendimento. Com o embrião congelado você mitiga isso, você consegue atender todos os lugares. Outro ponto importante é que o embrião congelado te permite uma pressão de seleção e melhoramento genético maior porque ao longo do ano você pode ir congelando embriões daquelas doadoras de maior valor genético e, com isso, você produz mais produtos a partir delas. Ao longo da estação você poderia, talvez, coletar três ou quatro vezes, mas você conseguiu coletá-las dez, 12 vezes ao longo do ano. Então você potencializou o aceleramento genético daquele negócio, daquela fazenda”, salientou.
O veterinário especificou a diferença entre as opções e projetou até números cada vez mais próximos com os obtidos via IATF. “Nós tivemos um momento que essa taxa de concepção do embrião congelado era zero. Hoje nós estamos em 37%, 38% (de sucesso na prenhez via embrião congelado). E com certeza nós vamos chegar cada vez mais próximos aos índices da IATF. E eu volto a falar: as duas biotecnologias se complementam demais porque, dentro de uma mesma fazenda que faz IATF, onde você tem um plano genético de produção de bezerro de maior qualidade, de melhoramento de matrizes, você pode perfeitamente encaixar a transferência de embriões sem mudar absolutamente nada na estação de monta e produzir fêmeas de maior valor genético. Com isso, em quatro ou cinco anos, você renova praticamente 100% do seu plantel de fêmeas, utilizando doadoras com mais força para as DEPs de fertilidade, precocidade, qualidade de carcaça e até conversão alimentar, por exemplo”, exemplificou.
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Confira pelo vídeo a seguir a entrevista completa com o médico veterinário José Rodolfo Sabadin: