Raphael Houayek já é a quinta geração de produtores rurais dentro de sua família, mas a tradição não significou vida fácil quando ele precisou fazer a transição de uma carreira pública como advogado para ser administrador da Fazenda Esperança, em Alegrete-RS. Entretanto, a trajetória, repleta de dificuldades e ainda longe de um final -embora já possa ser considerada feliz – é motivo de orgulho para ele mesmo. Nesta quinta, dia 07, Houayek concedeu entrevista ao Giro do Boi para compartilhar sua história.
“Eu sou advogado, trabalhei dez anos no Ministério Público. Infelizmente eu perdi meu bisavô com câncer, meu avô materno teve dois tipos de câncer, meu pai e meu avô paterno estiveram internados juntos no mesmo hospital com o mesmo câncer e morreram com apenas uma semana de diferença. Depois morreu minha mãe e hoje restamos a minha avó, Iara, a grande guerreira, a minha irmã Eduarda, uma arquiteta incrível, e eu, advogado e produtor rural”, contextualizou.
Houayek contou que, assim como muitas empresas que passam pela sucessão, o processo também foi complexo em sua família. “É uma sucessão. Infelizmente uma parte da família resolveu vender uma parte da fazenda, mas eu decidi que eu daria sequência a esse legado de família, a essa empresa familiar que nos trouxe até aqui. Minha família tem história produzindo carne, produzindo arroz, enfim, produzindo alimento. E eu defini como novo propósito da minha vida, da Fazenda Esperança, democratizar, difundir a genética Braford, gerando, além de qualidade nos campos do Brasil inteiro, empregos, renda, fazendo um agronegócio mais forte através de pessoas mais fortes. A gente acredita nisso. A decisão não foi fácil, mas eu certamente tomaria várias vezes novamente até o final dos meus dias”, sustentou.
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Houayek ressaltou a importância de superar os obstáculos impostos pelas circunstâncias. “Importante é que isso não me paralisou. Eu sempre digo para os meus alunos, para todo mundo: chore, mas chore andando. E aqui andamos. Desde que eu assumi a fazenda há quatro anos eu promovi uma verdadeira transformação”, disse Raphael, ilustrando cinco mudanças positivas na propriedade em Alegrete-RS.
“Nós nos tornamos importantes vendedores de genética. Ano que vem, por exemplo, nós vamos comercializar 50 touros Braford de várias fêmeas de elite e plantel. Segundo, no ano passado a gente fez um remate em parceria com a Santa Camila, a quem eu agradeço muito, […] e nesse remate a gente fez história. No dia no remate, inclusive, chegamos a bater recorde de preço de uma fêmea na história da raça no Brasil. No outro dia, essa fêmea foi a grande campeã na exposição Bagé, então foi um sucesso. Terceiro, nós criamos uma central de distribuição de genética. Eu sempre tive vontade de ter um CD, um centro de distribuição. […] E hoje a gente tem mais de 20 doadoras nossas, temos em parcerias com terceiros, tem de terceiros dentro da fazenda que estão sendo coletadas e produzindo embriões para o Brasil inteiro. Só nesta estação, mais de 120 animais estão nascendo fora da Fazenda Esperança com genética da Fazenda Esperança. A gente tem um programa também em que a gente cuida do animal do parceiro dentro da fazenda para quem tem o sonho de ter uma cabanha, mas não tem estrutura. E a gente leva esse animal até a Expointer. Na última vez, fizemos isso para um parceiro do Nordeste, que teve uma terneira sagrada reservada grande campeã na Expointer. E no quinto exemplo, a Universidade Esperança, que é a minha menina dos olhos nesse momento, a nossa missão de inspirar e motivar profissionais a fazer a diferença nesse agro”, concluiu o produtor rural (foto acima à direita).
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Houayek, então, explicou como nasceu a ideia da Universidade Esperança. “Quando eu voltei para a fazenda, eu me exonerei no Ministério Público, eu tinha uma carreira pública estável e abri mão de tudo para voltar e assumir meu papel. Eu senti muito medo, mas eu, de fato, enfrentei. Mas quando eu cheguei, meu padrasto, que era quem geria a fazenda, não quis seguir porque não concordou com a contratação de consultorias, com inovações de gestão e eu me vi sozinho. Aquela coisa normal da sucessão – eu me vi sozinho com a equipe e com um estagiário, o Paulinho. E eu precisava treinar esse cara para que ele fosse meu grande braço direito”, recordou.
“O Paulinho, filho de um produtor rural, de um cabanheiro, de um trabalhador rural, que hoje felizmente é o nosso cabanheiro, tinha como meta de vida apenas ter uma carteira assinada. E eu comecei a implantar no Paulinho aquilo que sempre me norteou como profissional e como pessoa, que é posicionamento, diferenciação e desenvolvimento. Eu acho que quando a gente tem isso, a gente consegue ir muito além daquilo que nos dizem. E eu disse para ele que ele não ia ser apenas um gerente de fazenda. ‘Tu vai vai um grande consultor de fazendas’. E assim começa essa história”, remontou.
A partir do sucesso com o desenvolvimento do estagiário, o Paulinho, Houayek decidiu compartilhar o modelo de capacitação. “Eu decidi replicar isso. Eu desenvolvi um método, na verdade, que trabalha desenvolvimento e diferenciação na carreira. Eu pensei ‘Olha, que massa! Eu tenho um passo a passo aqui’. Na verdade, um treinamento online que hoje está em todos os estados do Brasil. A gente tem aluno até no nosso querido Acre e qualquer um pode acessar pelo celular, pelo tablet, pelo computador. É incrível!”, celebrou.
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Atualmente, mais de 2.000 alunos passaram pelo curso ministrado por Houayek. “Assim como o Giro do Boi, esse programa incrível que promove mudanças na vida de toda essa fazendeirada pelo brilhante trabalho de vocês, eu consegui difundir em muita gente. A gente está em vários estados. E assim surgiu o curso “Segredos da carreira de sucesso no agronegócio”. O primeiro curso absolutamente online, à distância, da Universidade Esperança”, esclareceu.
Em depoimentos exibidos durante a entrevista com Raphael, seus alunos atestaram o sucesso do método.
“Eu escolhi fazer o curso com o intuito de me diferenciar, mas jamais imaginei que conquistaria tanto em tão pouco tempo. Nele, aprendi sobre posicionamento, análise de mercado, como me preparar bem para entrevistas, como atender bem as expectativas de meus contratantes sobre marketing, vendas e inúmeros pontos que mudam o jogo. Sem sombra de dúvidas, o curso possibilitou a conquista da aprovação de uma vaga de estádio em uma multinacional”, reconheceu Julia, estudante de zootecnia.
Já o estudante de agronomia Hélder disse que está “muito feliz por estar aqui hoje, trazendo esse feedback positivo. […] Eu acredito que todo mundo aqui pensa assim. O que eu posso dizer é que já valeu muito a pena tudo que eu vi até o momento, tudo que eu aprendi”, sustentou.
Juliana, estudante de agronomia em Pelotas, destacou que encontrou o melhor caminho para a carreira, que estava em xeque, uma vez que não tinha conexões prévias com o setor. “O curso me abriu os olhos sobre a minha carreira porque eu estava muito perdida, estava muito indecisa sobre o que eu queria fazer. Eu faço agronomia na UFPel e não tenho família nenhuma envolvida no agro. Então eu sempre digo que caí de paraquedas no agronegócio. E eu estava muito perdida, não sabia o que eu queria fazer e o primeiro módulo, que fala muito sobre posicionamento, foi o que me deu uma visão diferente e que eu vi que ali eu tinha um rumo e que podia dar certo”, aprovou.
“O curso trouxe resultados instantâneos para mim, que entendi para onde planejar a minha carreira, como direcionar e achar meu norte. E, a partir disso, eu consegui colocações dentro de estágio, em que surgiram algumas oportunidades profissionais, dentro do PET, onde eu fui destaque, dentro da empresa júnior, onde todos gostam muito de mim e eu, felizmente, faço um trabalho com eficiência. Esses são alguns dos resultados que eu tive”, disse outro estudante.
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Houayek, que já planeja o lançamento de outros cursos na Universidade Esperança, salientou a relevância econômica do agro, o que possivelmente reforça a demanda pela mão de obra capacitada dos jovens dos cursos de ciências agrárias.
“O povo se deu conta de que o agronegócio é esse grande motor hoje da economia, esse grande condutor de um país que, felizmente guindado pela força do produtor, no dia a dia dessa empresa a ceu aberto, trabalha com as intempéries, com as dificuldades, com grandes problemas de instabilidade do mercado, mas com uma resiliência bárbara. Eu digo que se existe algum profissional exemplo de resiliência, esse profissional é o produtor rural que está lá batalhando para produzir comida para colocar no prato de todo mundo. Da mesma forma que hoje enfrentamos essa pandemia com essa classe tão vigorosa e tão corajosa que é classe médica, que faz com que a gente mantenha a saúde, o produtor rural também é uma classe importante porque mantém alimento na mesa de todo mundo, inclusive dos médicos para que eles possam trabalhar e nos dar saúde”, enalteceu.
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Informações sobre o curso e novas vagas podem ser obtidas pelo perfil da Fazenda Esperança pelo Instagram, disponível no link a seguir:
+ Fazenda Esperança – Alegrete-RS
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Assista a entrevista completa com Raphael Houayek pelo vídeo abaixo: