O cultivo está sendo feito desde 2017 no Brasil com bons resultados para os produtores. As características do sorgo gigante boliviano, ou sorgão, como seu volume de produção, que alcança mais de 100 toneladas de matéria verde por hectare em dois cortes por ano, bom enraizamento, o que o torna mais tolerante à estiagem, e alta palatabilidade chamaram atenção dos pecuaristas. Entretanto, é importante que o produtor saiba quais são os pontos de atenção para produzir a silagem do modo adequado.
As dicas sobre o manejo da cultivar foram passadas pelo diretor executivo da Latina Sementes, Willian Sawa, em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, 06. “É um híbrido de sorgo que nós trouxemos ao Brasil em 2017, então já está disponível há três safras. O Centro-Oeste brasileiro já está mais acostumado a produzir porque ele encaixou perfeitamente no sistema de produção. No período das chuvas ele é produzido para ser usado no período da entressafra”, ilustrou.
Mas além do Centro-Oeste, outras regiões já estão validando o sorgo gigante boliviano como alimento alternativo para o gado. “O Sul sempre teve muita oferta de volumoso, porém, com essas situações climáticas que vêm acontecendo nas últimas safras, principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que se intensificaram muito esse ano também, o produtor tem que começar a se organizar para ter uma gestão de volumoso na propriedade. A gente costuma dizer que quem tem dois pode ter um um e quem tem apenas um pode não ter nenhum. Então o sorgão, o sorgo gigante boliviano, se encaixa perfeitamente nessa primeira opção, de o produtor ter três opções de volumoso da propriedade”, sustentou.
O que faz do sorgão uma boa opção de volumoso para o gado é sua resistência aos veranicos por conta de seu sistema radicular. “Ele tem uma estrutura de raiz de aproximadamente quatro metros e é muito efetivo”, destacou Sawa.
A variedade também apresenta boa palatabilidade aos animais. “Ele é um híbrido de sorgo moderno, então ele vem com muitos açúcares, de 12 a 14% de açúcares. Isso auxilia muito na fermentação da silagem. Uma fermentação de qualidade é fundamental para uma boa silagem e esses açúcares também trazem mais palatabilidade para o animal, que dificilmente vai refugar”, observou.
Mas o manejo do sorgão tem suas nuances para que a silagem atinja o ponto certo de consumo. Começando pelo plantio. “Nós estamos orientando fazer um primeiro plantio no verão, na época das chuvas. E ele está sendo plantado do Rio Grande do Sul ao Ceará. O primeiro corte varia de 95 a 125 dias. Então planta-se no verão, faz o primeiro corte, faz o manejo e gera um segundo corte. Então você corta safra e safrinha com um único plantio”, revelou. O volume dos cortes, somados, podem passar das 100 toneladas por hectare ao ano.
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O especialista contou como o produtor pode saber o ponto certo de colheita. “O ideal é você cortar no momento certo. O que nós temos recomendado? O mercado está acostumado a cortar o sorgo pela emissão da panícola, o terço médio do grão. Mas como no verão ele não emite panícula, não emite grão, já que ele é só um volumoso, você tem que cortar ele pela massa seca. Aí tem que fazer o corte da planta e a medição de massa seca no microondas. Muitas fazendas já fazem isso com milho e com outros volumosos antes de fazer as ensilagens. E nesse caso também. Tira a amostra, faz secagem no microondas, a desidratação da biomassa e, quando ele estiver com 24 a 30%, você entra cortando”, indicou.
O executivo alertou o que pode dar errado no caso de o produtor errar na hora de cortar o sorgão. “Como ele é um sorgo que tem muito volume, você tem que preparar o equipamento, tem que ajustar as máquinas, afiar as facas da ensiladeira. O manejo em geral no momento do corte passa a ser muito importante. Se cortou muito cedo, você vai ter muita água. Se cortou muito tarde, pode aumentar muito a fibra. Então o ideal é cortar com 24 a 30% de massa seca”, esclareceu.
“Já o segundo corte vai estabelecer com outro ciclo de 95 a 125 dias. Você corta entre dezembro e janeiro e vai fazer outro corte entre abril e maio”, completou.
Segundo Willian, é importante também estar atento ao tamanho da partícula da silagem, que pode ser fator limitante de consumo pelos bovinos. “(O animal) Pode refugar se você errar no corte da silagem, no tamanho da partícula. Muito pequena ou muito grande, o gado refuga. […] É importante o tamanho da partícula para o animal ter melhor acesso e também a taxa de passagem no rúmen no fluxo normal. Muito importante atentar para isso”, frisou.
Sawa advertiu para erros comuns dos produtores que podem desencadear em problemas no cultivo do sorgo gigante boliviano: profundidade da semente no plantio, quantidade de sementes por hectare e uso de sementes piratas.
“Ele é um híbrido moderno. Para você ter alto potencial de produção com uma ferramenta dessa, você tem que ter o manejo adequado. O produtor, às vezes, usa achando que é só plantar e deixar, mas não. Você tem que cuidar no plantio, da profundidade da semente, que é um fator essencial. O ideal é plantar com de 1,5 a 3 centímetros – não pode deixar superficial, mas também não pode enterrar muito a semente. Outro detalhe também importante é a quantidade de semente, nós temos uma taxa de uso de semente muito baixa, usa-se apenas 4 kg de semente por hectare. O mercado está acostumado com sorgos antigos tradicionais no mercado, que precisam de 8 a 12 kg por hectare. Então o produtor compra, acaba plantando e se ele usa uma taxa maior é um problema. Outro grande problema que a gente está tendo também é a questão de que nosso sorgo boliviano está muito famoso no Brasil e temos um caso sério de pessoal se passando pela nossa semente. Isso é algo muito grave no mercado. A gente sabe que tem empresas que não tem essa ética e que estão se passando pelo nossos produtos. O produtor compra achando que é, planta e se frustra e isso acaba prejudicando a cultura do sorgo no Brasil. Prejudica a imagem e a cultura do sorgo porque o manejo é diferente, nosso manejo é específico”, alertou.
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Para evitar algumas destas situações, a empresa está prestes a lançar um sistema de produção exclusivo para o sorgo gigante boliviano, através do qual capacitará os produtores que pretendem melhorar a produtividade da cultivar em suas fazendas. “Nós estamos lançando um sistema de produção, inclusive, denominado ‘Sistema Diamantino’, que nós vamos lançar em breve e que ensina como fazer esse manejo de consórcio de panicuns e braquiárias com o sorgo gigante boliviano”, adiantou.
O especialista avisou também os interessados no produto quais as principais pragas para prestar atenção. “As pragas estão nacionalizadas. Hoje as duas que mais atacam o sorgo, desde o seu desenvolvimento inicial até os 40 dias, principalmente, são as lagartas e o pulgão. Então é recomendado hoje pela nossa equipe técnica que você faça o tratamento de semente e o manejo na fase inicial”, expôs.
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Ainda de acordo com Sawa, não há grandes restrições sobre regiões mais recomendadas para o plantio. “Ele vai bem em solos como o de Cascavel (PR), que é um latossolo super estruturado, assim como ele está indo muito bem em Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde que você está a 40 km do litoral com alta taxa de areia. Então ele vai muito bem. O segredo é que você tem que ter um solo corrigido e com uma fertilidade de reposição porque como ele tem uma estrutura radicular intensa, ele vai formar muito volume de massa e você tem que fazer a fertilização de reposição. Você tem que repor nutriente, ele não vai crescer num solo onde você não tenha um mínimo de fertilidade ou de correção”, orientou.
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Veja a entrevista completa com Willian Sawa pelo vídeo abaixo: