Até 90 gramas a menos de ganho de peso todos os dias. É a diferença que beber água suja pode fazer no desempenho do gado de corte. O médico veterinário Fernando Loureiro fez o alerta em participação no Giro do Boi, em que comentou gráfico de um estudo que comparou os efeitos nos animais da água suja e da água limpa vindo de bebedouros artificiais.
“A única diferença foi essa, a forma de se fornecer água para os animais. Os animais eram da mesma categoria, da mesma raça, da mesma idade, peso, eram equilibrados e em pastagens semelhantes, mesmo tamanho e lotação. A diferença foi só na água. E vocês veem que, em um ano seco, em que o açude seca demais e concentra esta sujeira, os animais apresentaram uma perda de peso diária na ordem de 80 a 90 gramas. E no mesmo período, na mesma época, os animais que estavam em bebedouro apresentaram um ganho de peso de 700 gramas. É uma diferença muito grande e esta diferença, em ganho de peso, traduz em rentabilidade para a fazenda”, detalhou Loureiro. Veja na imagem a seguir:
Fonte: VEIRA, D. M. Livestock Water: Impact on production and behavior. Western Range Science, Seminar at Medicine Hat, Alberta. 2003.
O alerta de Loureiro foi para responder uma pergunta de pecuarista de Apuí, município do Amazonas. O produtor informou em mensagem ao Giro do Boi que tem pequenos açudes em sua fazenda e quer saber se consegue exercer algum controle sobre a qualidade da água, se há algum método ou produto que purifique o líquido.
“A grande vantagem dos açudes, que são utilizados para fornecer água para bovinos no Brasil todo, é a sua facilidade de captação de água de chuva. Os açudes ficam em locais mais baixos nas pastagens e captam, no período chuvoso, esta água para servir durante o ano inteiro. Mas nem tudo são flores”, apontou o veterinário.
Entretanto, a forma com que a água é captada também serve para levar diversas impurezas a esses tipos de reservatórios naturais, o que deixa o líquido sujo, sobretudo na época da seca, quando a sujeira fica ainda mais concentrada, tornando a água muitas vezes imprópria para o consumo dos bovinos.
“Na época de estiagem, na época de inverno, quando tem menos chuvas, os açudes tem o problema de começar a secar. Eles diminuem de volume porque ocorre evaporação pela insolação, pelo vento e até mesmo pela infiltração no solo. E aí vai concentrando os sólidos totais, sujeira do açude. Lama, lodo, algas, restos de animais mortos, esterco dos animais… tudo isso se concentra numa lama e o animal se vê obrigado a beber aquilo. Os animais bebem menos, bebendo menos eles têm um desempenho pior porque eles também vão comer menos e ficam muito mais expostos a doenças, a contaminações. Se concentra ali a ação de bactérias, de protozoários, de vírus, de verminoses, então tem este problema”, relacionou Loureiro.
O veterinário sugeriu que atitude o produtor pode tomar para resolver a situação. “No açude a gente não exerce o controle. A grande vantagem de controle, de gestão, é no bebedouro artificial. Se você tiver um bebedouro em que você encanou e captou esta água do açude, levando até o bebedouro, os animais já não entram na água, eles não revolvem o fundo, não vão estercar lá dentro. E tem a facilidade do pessoal de apoio na fazenda, os peões, fazerem a limpeza frequente. Aí, sim, podem ser usados produtos como cloro. Existem hoje produtos probióticos, detergente para lavar o bebedouro. No açude, você não tem o controle da quantidade de água, da capacidade de água que tem ali. Em alguns períodos os açudes vão ter mais água, pode estar numa época chuvosa. Em outros, estará mais seco e este volume vai estar muito pouco. Até mesmo estes produtos, por exemplo, a cal virgem, que é utilizada para sedimentar a sujeira que está em suspensão, levar para o fundo, ela tem uma ação de efeito muito curta, não tem efeito duradouro, então teria que repetir e, na nossa concepção, não seria viável economicamente”, apontou.
Assista a participação completa do veterinário no Giro do Boi pelo vídeo a seguir:
Foto: Reprodução / Facebook