Um dos principais produtores agrícolas de todo o mundo, o Brasil não ficou de fora da modernização das relações comerciais do setor. A partir dos recentes avanços tecnológicos e também comportamentais, o País tornou-se referência também na utilização do e-commerce do agro. Em entrevista ao Giro do Boi desta segunda, dia 16, a presidente do Comitê de Líderes do E-commerce, maior grupo de empreendedorismo, networking e aceleração do comércio eletrônico no Brasil, Helenice Moura, falou sobre o tema.
“Que bom que a gente está transformando, acelerando, o mercado e o mundo inteiro. E é muito legal ver o Brasil à frente desta transformação digital, os agropecuaristas à frente também desta transformação”, reforçou Helenice.
Moura recordou a origem da chegada da internet no campo e como a tecnologia evoluiu de lá para cá. “Agora chegou o nosso momento. Quando a gente fala de 15 anos em ambiente digital, isso é muito tempo. A gente viu a primeira onda de voz por IP, que era um projeto super secreto e hoje todo mundo troca áudio no Whatsapp. A gente viu a primeira onda daquela internet – quem no campo tinha aquela StarOne, que era uma antena ‘desse tamanho’ que entregava uma conexão que não dava nem para baixar um e-mail. E aí você investia caríssimo, os agropecuaristas todos tinham aquelas StarOne grandonas, e agora você tem na palma da sua mão, no campo, em qualquer lugar que você vá, o alcance da rede. Acho que esse é um dos privilégios da vida, saber que a gente levou a transformação digital, a internet a todos os cantos”, reconheceu.
A especialista comentou como que o ambiente virtual passou a fazer parte de vida do produtor rural. “Não só os leilões. Surgiram com os leilões virtuais em vários aplicativos, mas agora serve para compra de insumos, para cotação de máquinas. A gente vê grandes players se mobilizando para isso. Quem não viu recentemente um dos maiores bancos do país lançar um marketplace de máquinas agrícolas? Então a gente tem toda uma transformação e o agropecuarista está à frente disso, ele vai o tempo todo orçar máquinas, faz consultas, avalia produtos, insumos, procura insumos novos, muito mais do que os outros lá de fora, de mercados que a gente dizia que eram mais amadurecidos. Agora o Brasil está na frente e acho que isso é bacana de a gente sentir o quanto esta transformação digital está chegando a todos os cantos, está chegando no campo, na lavoura, para quem é pecuarista, para quem é agricultor”, destacou.
Helenice opinou porque o Brasil, além de destaque na produção agrícola, virou uma referência também no e-commerce para o setor. “Muito por conta dos players que entraram. Então você tem aqui grandes indústrias que fomentaram esse processo… Muito por conta também das nossas dimensões! O Brasil é um país de dimensões mais que continentais e o acesso físico, às vezes, é mais distante. E também a troca de gerações do campo. Essa nova geração que está buscando tecnologia, buscando se informar e usar a tecnologia para otimizar os seus processos. A gente cada vez mais tem ganhos de produtividade, acelera essa transformação e isso vai também para o ambiente online”, comentou.
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Conforme projetou a profissional, o crescente uso das plataformas de e-commerce não substituirá o relacionamento presencial, mas poderá incorporar novos hábitos ao processo de tomada de decisão. “Nada vai substituir esse tête-à-tête, essa coisa de ir tomar um cafezinho, de ir conversar. Mas a recompra e os processos de otimização já estão acontecendo online” frisou.
“As pessoas estão pesquisando na internet e negociando e entendendo. Às vezes, só finaliza no físico, mas toda negociação acontece pelos sites, pelo Whatsapp, pelos aplicativos de leilão e toda essa transformação é muito similar à que acontece com a gente na vida real”, comparou.
“Quando você chegava para comprar um carro, antes você ia na concessionária e a pessoa da concessionária é quem falava sobre o carro e você se informava. Hoje não. Pense bem como você vai comprar um carro hoje: você chega na concessionária e você já sabe mais do que o vendedor sobre o próprio veículo. Você já estudou bastante! A mesma coisa com maquinário agrícola, com defensivos. A mesma coisa com esses processos todos aqui, porque a gente está se informando online. Hoje a gente usa o Whatsapp, a gente usa o celular o tempo todo e isso faz com que a gente vá fazer pesquisas online”, observou.
Helenice confirmou a tendência com um dado expressivo. “A gente já tem uma pesquisa recente que fala que 33% dos agricultores e pecuaristas já estão dispostos a comprar insumos online nas próximas duas safras. Então não é uma coisa para daqui a cinco ou dez anos. E algo que está acontecendo agora!”, enalteceu.
“A pandemia acelerou muito esse processo, com certeza, porque hoje as pessoas preferem fazer isso de casa e a segurança digital é a maior preocupação de todos nós”, ponderou.
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Helenice confirmou que a segurança no processo de compras online é um dos gargalos a serem priorizados para a contínua evolução do setor. “A segurança quando você vai transacionar um gado, trabalhar com altos valores online, é sempre um risco muito grande. Mas de um lado a gente tem um preocupação com a segurança digital, por outro lado a gente tem grandes investimentos para garantir essa segurança, para garantir que você vai receber no prazo, afinal ficar sem insumo no campo é uma tristeza, a gente não pode correr o risco”, salientou.
“A tecnologia está evoluindo nesse sentido para garantir que essa primeira experiência de compra do agropecuarista seja boa. Tem muita gente fazendo essas primeiras compras agora em função dessa pandemia e conforme a gente vai sentindo confiança […] conforme mais experiência quem está do lado de cá do balcão entrega para o agropecuarista, mais ele vai se sentir confortável em comprar e transacionar online”, estimou.
Helenice indicou quais onde o produtor deve prestar atenção no ambiente digital para verificar a segurança da plataforma. “É super simples! Quando você olha um site, por exemplo, no rodapé ele tem todos os meios de segurança, informe se ele tem sistema antifraude, se ele tem algo que protege seu e-mail, se ele tem um protocolo seguro de navegação e isso é bem tranquilo de você identificar quando está navegando em um site. E um outro ponto importante é a gente pensar que toda essa transação tem uma garantia. Quando você vê grandes bancos, como indica o movimento hoje, entrando para vender online maquinários e peças, toda a segurança criada por trás disso também é um legado para a internet. Porque isso é criado para um grande banco, mas os pequenos também podem utilizar esta tecnologia. Então a segurança digital em todos os meios é muito importante e no agronegócio ela é ainda mais valorizada por contas dos valores transacionados. Tem grandes companhias envolvidas no processo e todas elas trabalhando muito, como Google, Facebook, outras companhias de otimização de compra”, assegurou.
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“Um exemplo recente aqui: alguns players de peças usadas venderam mais de R$ 5 milhões em três meses online. Máquinas, implementos, máquinas antigas, jogos de máquinas que em alguns estados já estão defasados, mas que em outros locais podem ser bem utilizados. Você tem todo um movimento que antes era difícil. Quando que uma pequena cooperativa do interior da Bahia, por exemplo, poderia adquirir um maquinário que já está defasado no interior do Paraná? Como eles iam fazer essa conexão? Agora fazem online!”, ilustrou.
A especialista deu conselhos a empresas que desejam ingressar no e-commerce do agro. “Todo mundo fala que o e-commerce, que loja virtual é um assunto muito complexo, mas na verdade é muito mais simples do que a gente pensa. Conte com uma consultoria especializada que vai te ajudar a entender um pouco de como entrar nesse caminho. Mas saiba que é da porteira para dentro que você pode otimizar os seus processos. Aprender e ensinar o seu time sobre programação digital, sobre e-commerce, é devagarzinho, mas a gente vai aprendendo, otimizando e crescendo porque a transformação digital tem pressa. A gente fala muito no agronegócio que ‘quem chega primeiro bebe água limpa’ e a gente tem essa oportunidade, esse privilégio de estar em um mercado que deslancha, que cresce o tempo todo. E vocês que já trabalham em um segmento que é tradicional. Se você pensar, o agronegócio, a pecuária é um segmento super tradicional. Vir para o e-commerce, vir para esse movimento de transformação digital não é fácil, às vezes assusta, mas é muito mais simples do que a gente pensa e a gente já usa mais as tecnologias digitais do que a gente pensa. Quando você faz transação online, faz uma transferência, um pagamento, você já está online. A diferença agora é que a gente vai fazer isso num ecossistema seguro. Quando a gente transaciona, às vezes faz um pedido no Whatsapp não tem muita segurança. Mas quando leva para o marketplace, para um site em que você vai colocar os seus dados, a gente cresce e todo mercado ganha muito”, concluiu.
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Veja a entrevista completa no vídeo a seguir: