Pastejo rotacionado pode aumentar em até 15x lotação das fazendas brasileiras

Veja quais são os benefícios e as exigências em estrutura e mudanças de manejo que decorrem da implantação de um sistema rotacionado de pastejo

Ainda um pouco distante da realidade brasileira, mas um número possível – passar da lotação média nacional de 1 unidade animal por hectare para 15 UA/ha. Este é o potencial da produtividade à disposição do pecuarista com o sistema de pastejo rotacionado. No Giro do Boi desta quinta, 05, o zootecnista Diogo Rodrigues, representante da Soesp, falou a respeito do assunto em entrevista.

“É um número que impressiona bastante, sobretudo se a gente comparar a uma média nacional tão baixa. Porém o que os dados nos mostram é o potencial de produção que a gente tem à frente. Obviamente que aumentar em 15 vezes a taxa de lotação atual exige um nível de tecnificação e investimento que talvez esteja ainda um pouco distante da nossa realidade, porém o Brasil é um país privilegiado em termos de extensão territorial e clima predominantemente tropical, que favorece a produção de pastagens. Portanto a gente acredita que, com a adoção de técnicas mais assertivas em manejo de pastagens, a gente possa aumentar essa taxa de lotação em pelo menos duas ou três vezes”, ponderou Rodrigues.

O especialista apontou que a divisão dos piquetes para o rotacionado proporciona maior controle sobre o estoque de forrageira disponível, otimizando sua colheita e consumo pelo animal, e daí derivam os benefícios.

“Do ponto de vista de maior controle e eficiência na produção e na colheita da forrageira, na prática o pastejo rotacionado tem se mostrado como a melhor alternativa. […] É comum observar em áreas em que se adota largas extensões de pastejo contínuo em que os animais pastejam em excesso em determinadas áreas e em outras áreas eles não pastejam. Isso causa uma grande desuniformidade do pasto, aumenta as perdas de produção e como não se tem o controle eficiente desta produção e desta colheita da forrageira, isso acaba inclusive afetando a taxa de lotação dessas áreas”, apontou.

Esta falta de controle, além de impedir que a forrageira vire proteína, também aumenta o custo do produtor com o manejo. “Esse crescimento desigual da área de pastagem muitas vezes faz com que a gente tenha que lançar mão de custos. Por exemplo, quando se tem um excesso de crescimento em determinadas áreas em que os animais não pastejam mais, nessas áreas é muitas vezes necessário fazer então a roçada para que esse pasto tenha condição de rebrotar e vir com melhor qualidade, porque os animais simplesmente já não pastejam mais ali”, acrescentou.

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Por isso, de forma geral, o zootecnista comentou que a lotação é menor no pastejo contínuo em comparação com o rotacionado. “Em razão dessa desuniformidade, como a gente tem uma área muito grande em relação aos animais, os animais não conseguem manter esse capim em altura uniforme ao longo de toda a sua área e aí acaba afetando, inclusive essas perdas acabam afetando inclusive a taxa de lotação”, frisou.

Por outro lado, para que o pecuarista desfrute dos benefícios do pastejo rotacionado, ele deve estar atento ao manejo forrageiro que deve ser mais intenso. “Com isso, com esse maior controle, acaba havendo uma necessidade de haver uma fertilização mais precisa, uma fertilização mais pontual desse solo”, ilustrou.

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Além da fertilização, há um aporte inicial de recursos para implantar o sistema na fazenda. “Como há necessidade de piquetear, então a gente pega aquelas grandes áreas em que se adota o sistema de pastejo contínuo e a gente vai piquetear em vários piquetes para que se tenha um maior controle nessas áreas menores. É necessário, sim, um investimento maior em cercas, bebedouros e cocho”, listou.

Dentro desta adaptação física, o especialista observou que há maneiras de aproveitar melhor as novas estruturas. “Em relação aos bebedouros e cocho, o pessoal, para facilitar e diminuir um pouco o custo, coloca nas intercessões dos piquetes ou também constroem praças de alimentações para facilitar e trazer um pouco mais de economia”, sugeriu.

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PASTEJO ROTACIONADO NA ILP

Diogo respondeu a um telespectador que comentou que quer implementar um piquete de pastejo rotacionado em consórcio com milho.

“Em relação ao número de piquetes, ele vai conciliar com a quantidade de animais que ele tem. Não necessariamente quanto menor, mais animais. Mas quanto menor, mais controle tem dessa produção forrageira e colheita. […] A prática de integração com outras culturas tem sido bastante utilizada nos últimos anos e a gente tem observado um aumento, dadas as vantagens que ela traz, inclusive a questão de reciclagem de nutrientes, a própria questão da forrageira trazendo também incrementos na cultura, como aumento na produção, enfim, são vários benefícios que a gente observa nesse consórcio”.

CULTIVARES PARA O PASTEJO ROTACIONADO

“É importante que se diga que o pastejo rotacionado a gente consegue fazer com qualquer cultivar. As peculiaridades que vão existir nesses sistemas estão mais relacionados com a cultivar de forrageira que se escolheu do que com o próprio sistema de pastejo. A dinâmica do pastejo rotacionado basicamente é a mesma: rodar os animais em diferentes piquetes por um determinado período de tempo. Agora se a gente vai escolher uma Brachiaria ou se nós vamos escolher um Panicum, essa decisão vai passar primeiramente pelo nível de fertilidade do nosso solo. Se o nosso solo tem alta fertilidade, nós podemos posicionar então as plantas de maior exigência e, consequentemente, as que têm mais capacidade de produção. Se nós temos um solo de menor fertilidade, então a gente pode posicionar braquiárias ou outras cultivares menos exigentes. E obviamente que se nós vamos buscar uma cultivar que tenha maior produção, visando uma maior taxa de lotação, o nível de fertilização, o nível de reposição de nutrientes dessas cultivares vai ser um pouco maior”.

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ALTURAS DE ENTRADA E SAÍDA

“Em se tratando de altura de entrada e saída, cada cultivar tem a sua recomendação estabelecida, por exemplo, pela Embrapa. E quando a gente fala de altura de entrada, a gente está falando que cada capim tem uma altura onde ele atinge o pico de produção de folha. Essa altura já foi estudada ao longo dos últimos anos e determinada para cada espécie.

Quando a gente fala altura de saída, está relacionado à perenidade do pasto, porque se a gente colocar os animais e não tirar dentro da altura de recomendação de saída, a gente começa a comprometer não só a perenidade desse pasto, como também o retorno, o tempo que essa pastagem vai necessitar esperar para chegar novamente na altura de entrada.

Então cada cultivar, seja ela Brachiaria ou Panicum, nós já temos estabelecidos esses números – qual é a altura recomendada qual a altura recomendada para entrada e saída dos animais. Os Panicuns, por exemplo, como eles têm uma faixa maior de utilização, eles acabam necessitando muitas vezes de um período de descanso um pouco maior do que aquela que tem uma faixa de crescimento um pouco menor”.

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TEMPO DE PERMANÊNCIA NO PIQUETE

“O tempo de permanência dos animais no piquete, por exemplo, se for um tempo muito longo, pode inclusive afetar a uniformidade do pasto. A recomendação é que se use um período de ocupação de três a quatro dias com alta taxa de lotação para que os animais tenham condição de baixar de maneira uniforme esse pasto até a altura de saída. O tempo de repouso vai depender muito da região e do clima, mas nós temos números que variam de 25 a 35 dias de repouso, dependendo da cultivar e do clima, mas em média é essa a recomendação que a gente tem passado a campo”.

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IMPORTÂNCIA DA ESCOLHA DA SEMENTE

“Se a gente quer ser cada vez mais dedicado e buscar excelência na produção, a gente já não pode começar escolhendo errado. Então na hora de formar essas áreas, é interessante que essa semente tenha alta qualidade para que não se prolongue o período de formação desse pasto e não atrase a entrada dos animais. Imagine, nos dias de hoje, com o valor da arroba do boi, com esse preço, e você ter um atraso na entrada dos animais de 10 a 15 dias, considerando o ganho que eles vão estar tendo diariamente ali? Então esse é um prejuízo que muitas vezes não é tão visível, às vezes o produtor acaba escolhendo por um material que está ali um pouco mais barato, mas o tempo de formação dessa pastagem vai compensar o investimento”.

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PASTEJO ROTACIONADO NO BRASIL E NO MUNDO

“Os primeiros estudos com pastejos rotacionados já não são tão recentes, mas a aplicabilidade dele é recente. Os primeiros estudos, se eu não estiver enganado, foram feitos em torno 1770, na Alemanha. Depois partiu para a Inglaterra e, ao longo dos anos, agências fomentadoras de pesquisa, como a Embrapa e instituições de ensino, começaram a avaliar esses sistemas de pastejo. E no último século tem sido mais adotado aqui no Brasil.

Os neozelandeses também são bastante eficientes na prática do pastejo rotacionado sobretudo por ser um país com bastante limitações climáticas e menos áreas agricultáveis do que o Brasil, dada a sua localização e suas características de relevo. Portanto, desde muito cedo eles tiveram que se tecnificar e aumentar a eficiência de produção para que pudessem viabilizar sua pecuária.

No Brasil, nesses últimos anos, nós temos observado uma maior pressão para produção cada vez maior em áreas cada vez menores. Isso ocorre em razão da valorização da terra, como também questões ambientais e a própria concorrência com outras grandes culturas. Então, assim como os neozelandeses, nós precisamos nos especializar cada vez mais para aumentar a nossa capacidade de produção pecuária, com técnicas mais eficientes, mais assertivas de manejo de forrageira, por exemplo, como também o incremento de novas tecnologias”.

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Veja a entrevista completa com o zootecnista Diogo Rodrigues no vídeo a seguir:

Foto: Reprodução / Embrapa