Já são mais de 20 anos de desenvolvimento da técnica no Brasil, conforme lembrou o médico veterinário e mestre em reprodução animal João Barbuio, gerente técnico da MSD Saúde Animal, falando sobre a IATF – inseminação artificial por tempo fixo – em entrevista ao Giro do Boi desta quarta, 21. “Esse desenvolvimento se iniciou lá pelo ano de 1995 ou 96 e, de lá para cá, foi evoluindo o processo de modo que hoje nós já sabemos os pontos de estrangulamento, ou seja, são fatores que, se bem controlados, nós teremos o sucesso da técnica em todas as situações”, assegurou.
Em sua participação, o especialista elencou quais são estes seis fatores que interferem no resultado da IATF nas fazendas que utilizam a técnica em suas estações de monta. Confira abaixo:
Para o veterinário, o domínio da técnica explica o seu crescimento no Brasil. “Por volta de 2006 ou 2007 nós inseminávamos com IATF ao redor de 100 a 200 mil vacas e no ano passado nós nos aproximamos de 18 milhões de vacas inseminadas com a técnica de IATF. É uma técnica que cresce na ordem de dois dígitos ano a ano, sempre com um crescimento acima de 10%. Na nossa opinião, por que ela cresce tanto? É porque é uma técnica que facilita o processo de inseminação artificial e traz mais eficiência reprodutiva para a fazenda, seja induzindo ciclicidade nas vacas paridas, por exemplo, seja permitindo com que elas tenham mais tempo de concepção ao longo da estação de monta. Então é uma técnica que não é mais moda. A gente considera hoje uma ferramenta de manejo indispensável para fazendas que procuram auto eficiência”, comentou.
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Dentro da aplicação da técnica, Barbuio ressaltou a importância do cuidado que o criador deve tomar com certas categorias em sua propriedade. “As vacas multíparas são as que mais emprenham facilmente. Quando a gente considera as outras categorias nesse slide (veja abaixo), principalmente novilhas e primíparas, que são animais muito mais exigentes do que uma vaca multípara, que ela já está estabilizada no seu crescimento, por exemplo. O desafio aumenta nestas duas categorias: novilhas e primíparas. Até mesmo as vacas solteiras. Nesse contexto, é importante nós direcionarmos mais atenção nessas categorias mais jovens, principalmente, porque elas estão em crescimento ainda. E se faltar comida para esses animais, vai interferir no desenvolvimento e, consequentemente, no desempenho reprodutivo delas”. ressaltou.
Sobre o manejo alimentar, Barbuio esclareceu que não basta ter pastagem à disposição, mas que é imprescindível que o piquete seja bem manejado. “Essa foto (abaixo) traduz a importância de nós termos não só pastagens de qualidade, mas também uma boa qualidade de água e mineralização. Na verdade, não só a presença do pasto, como também o manejo de pastagem é importante. Quando a gente vê essa foto, se nós considerarmos manejo de pastagem, do lado direito da cerca, ele está errado porque deixou o gado bater muito tempo. Do lado esquerdo, embora haja abundância de pasto, também não está correto porque o gado tinha que ter entrado antes desse momento desse pasto ficar tão alto. Então a gente chama atenção nesse caso porque não basta só ter o alimento, mas sim saber trabalhar bem com o manejo de pasto para que a gente consiga uma nutrição adequada para que as vacas desempenhem como o esperado”, indicou.
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Com relação ao escore corporal, Barbuio foi taxativo. “Para nós começarmos o processo de IATF, é importante que haja uma deposição mínima de gordura na carcaça desse animal, que está diretamente relacionada ao melhor desempenho. Esse slide mostra, do lado esquerdo, duas vacas, uma com condição 3 e outra com condição 4, que seria o ideal, mas que nem sempre nós encontramos em condições brasileiras. Quando nós olhamos as vacas do lado direito do slide, a de cima no canto superior direito é uma vaca 2,5, que é muito comum encontrarmos durante o processo. E esse seria o ponto limite mínimo estabelecido para que a gente tenha sucesso. Mesmo assim, a gente já pode ter algum certo comprometimento nos resultados quando a vaca estiver 2,5. Nesse contexto é importantíssimo a utilização de Folligon ECG porque é ele que vai trazer o resultado. Agora se a vaca estiver nesse quadrante inferior direito, com uma condição corporal 2, aí a gente espera problemas de resultados de concepção no processo de IATF. Preservar bem essa condição corporal é fundamental para o sucesso”, frisou.
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Sobre a aplicação do protocolo, Barbuio destacou a solução que permite a realização da IATF em três manejos apenas. “Dia 0 é o início do protocolo. Nesse dia 0, nós inserimos o implante intravaginal Fertilcare, no nosso caso nós temos até o monodose ou multiuso, são duas opções, e fazemos uma injeção de benzoato de estradiol, que é o início do processo de sincronização do cio do ciclo estral da vaca. Nesse dia 0 nós recolhemos todos os animais no curral e iniciamos através das administrações do implante e do benzoato de estradiol Fertilcare sincronização”, detalhou o primeiro manejo.
O especialista também resumiu o segundo manejo. “É uma complementação do que começou oito dias atrás. Todos esses fármacos, todas essas aplicações vão trazendo o período do ciclo estral das vacas um muito próximo dos outros, de modo que a hora que elas ovulam, elas ovulam muito sincronizadas com as outras, o que permite a inseminação em tempo fixo”, sustentou.
“No dia 10 a gente realiza a IATF. É importante nós salientarmos que este é um protocolo que foi desenvolvido nos últimos 20, 22 anos pela MSD, em conjunto com universidades idônea, e eu posso te assegurar que foram centenas e centenas de trabalhos científicos buscando desenvolvimento e a nossa linha de pesquisa sempre visou o mínimo de manejo possível. Então é por isso que os protocolos sugeridos pela MSD são de três manejos, que nós já temos a certeza depois de tantas décadas de trabalho que ele entrega o mesmo resultado quando comparado a protocolos de mais manejos”, valorizou.
Mais do que aplicação do procotolo para emprenhar a vaca, Barbuio ressaltou a importância do uso de produtos veterinários para garantir a saúde das matrizes e de seus bezerros, garantido que eles estarão saudáveis seja para a desmama, seja para a estação de monta seguinte no caso da fêmea. “Nós não podemos esquecer que neste processo de emprenhar a vaca, nós não podemos enxergar como o final do processo, mas sim como o início para o meio do processo. Fazer a vaca conceber é o início para o meio. O que a gente tem que manter a partir daí é essa manutenção dessa gestação até o nascimento do bezerro e também manter a vida desse bezerro até a desmama, que é o período mais crítico. Nesse contexto, é importante nós lançarmos mão de um calendário sanitário adequado que ele cubra os principais riscos, por exemplo, de aborto das vacas, relacionado às doenças reprodutivas, como IBR, BVD, leptospirose, brucelose. É importante nós vacinarmos as vacas para que a gente mantenha essas gestações, nasça o bezerro e após o nascimento desse bezerro, que a gente continue com um calendário sanitário eficiente, até que ele consiga desmamar saudável, desempenhando e trazendo lucratividade para as propriedades”, exaltou.
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Veja no vídeo a seguir a entrevista completa com João Barbuio:
Foto: Rafael Rocha/ Embrapa