“Sempre é detalhe, é no capricho. Pecuária é muito mais jeito do que força”, classificou o zootecnista e mestre em produção animal Antonio Chaker, diretor do Inttegra, ao apresentar a 8ª edição do Benchmarking da pecuária, desta vez referente à safra 2019/2020. Ele esteve no Giro do Boi desta quinta, 08, para apresentar os números lançados oficialmente na última terça-feira. Participaram do levantamento dos dados nesta temporada 447 fazendas que detém um rebanho total de 1,5 milhão de cabeças em todos os estados brasileiros, além de Paraguai e Bolívia.
Chaker destacou a diferença de resultado das fazendas menos lucrativas para as de melhor resultado. “Por que será que um ganha R$ 290,00 e o outro ganha R$ 1.000,00 com a mesma pecuária, no mesmo Brasil? Quando você compara ainda os níveis mais altos, chega a oito vezes a diferença dos top para os piores”, revelou.
Para o consultor, o pecuarista deve sempre produzir muito, mas produzir de um jeito certo. Chaker explicou: “Ao longo desses anos medindo fazenda, e a gente mede fazenda há 20 anos – com estatística há oito -, uma coisa nós aprendemos. Somente produzir muito não garante o resultado, mas todo mundo que tem resultado produz muito. Por outro lado, produzir pouco é a melhor forma de ter prejuízo. Ou seja, produzir muito não garante o resultado, mas produzir pouco com certeza vai empurrar a fazenda ladeira abaixo. Precisa ousar”, sustentou.
Na última safra, 25% da amostragem global das fazendas tiveram prejuízo, ao passo que apenas 23% chegaram ao nível mínimo de rentabilidade considerado satisfatório pelo consultor, de R$ 600,00. Dentro desta faixa, somente 9% atingiram o potencial verdadeiro de resultado da pecuária, de cerca de R$ 1.000,00. Segundo o especialista, o cenário mostra que mesmo em um ano de preços favoráveis para a arroba do boi, o volume expressivos de propriedades que perderam dinheiro confirma que “resultado, mais uma vez, é feito da porteira para dentro e não da porteira para fora”.
“Onde nós devemos chegar? 21% de resultado sobre o que vale o rebanho! Que negócio dá 21% ao ano no Brasil? A pecuária dá. As melhores fazendas esse ano ganharam 21% sobre o que vale o gado, que é o ativo de alta liquidez, 4% sobre o que vale a terra, e eu lembro que a terra deu 4% líquido mais a valorização média histórica acumulada que sempre supera a inflação. E R$ 900,00 por hectare. Quando você vê esse cenário aqui do potencial dos top 30, não tem mais aquela discussão se pecuária pode ser melhor que agricultura, se pode ser melhor que arrendamento de cana porque naturalmente a gente tem uma série de possibilidades muito importantes aqui”, confirmou.
O consultor fez ainda um alerta para os pecuaristas que pensam, de certa forma, em ‘folgar as rédeas’ na gestão da fazenda pelo bom momento de preços vivido na atividade. “Em anos posteriores a grandes aumentos, é muito comum aumentar o nível de prejuízo das fazendas porque a turma acredita que porque aumentou o valor da arroba agora, a pessoa desliga o que nós chamamos de modo crise. E começa a gastar, não gasta certo, se distancia da fazenda porque acredita que o mercado sozinho vai fazer as coisas acontecerem. Isso, infelizmente, é colhido no ano seguinte como uma baita reviravolta no resultado, o que piora muito”, advertiu.
O consultor deu um conselho ao pecuarista que quer tornar definitivo os últimos ganhos que obteve. “Esse é o momento, estrategicamente, para que os produtores que foram profissionais e ganharam dinheiro preparar a fazenda para produzir mais barato. Quando eu falo produzir mais barato não significa gastar menos. Produzir mais barato é ter uma estrutura de cerca, de pastagem, de cocho e de equipe que aproveite melhor o serviço das pessoas, fazendo que a propriedade possa, ano após ano, ser mais eficiente. Investimento em infraestrutura que impacte diretamente na produção para poder reduzir o custo nas próximas safras”, especificou.
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Veja no quadro abaixo as relações de desembolso das fazendas mais lucrativas no levantamento do Benchmarking 2019/2020:
“O que significa? Que todo gestor interessado em ter aqueles 20% ao ano sobre o que vale o patrimônio deve criar um orçamento com teto de limite. Do mesmo jeito que a dona de casa, o assalariado tem um teto e ele precisa usar a criatividade, precisa usar a disciplina e o foco. Na cria e na engorda, deve-se gastar, no máximo, 0,6 arroba para cada arroba produzida. E no caso do ciclo completo, gastar 0,7 arroba para cada arroba produzida. E baseado nisso, você opera a sua fazenda”, resumiu.
O zootecnista observou que, com base neste perfil desejável de gastos, não há justificativa para o pecuarista querer economizar com mão de obra, que corresponde a apenas 10% do custo da pecuária. Chaker citou que em outros setores, como indústria de medicamentos, a fatia chega aos 40%. “O que, em hipótese alguma, justifica o empresário querer pagar pouco para o funcionário.[…] O bom vale e o ruim custa”, reforçou.
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Chaker salientou aquele que é, para ele, o principal indicador da cria. “Você pega o total de quilos de bezerros que foram desmamados […] e divide pelo total de matrizes que entraram em reprodução 20 meses atrás. No final médio, é o índice mais importante. Se eu tivesse que usar um só indicador para a cria seria quilo de bezerro desmamado por vaca exposta. Esse índice deve ser justamente o alvo de todos os pecuaristas que têm matrizes na fazenda. 119 kg para o prejuízo e 163 kg para o resultado. Ou seja, eu tenho que desmamar muito bezerro e tenho que desmamar bezerro pesado. ‘Mas como que faz isso, Antonio?’ Com a matriz ganhando condição corporal durante a monta, com um capataz, um campeiro caprichoso, com protocolo da IATF bem estabelecido, com reprodutores geneticamente superiores, com tudo aquilo que nós chamados de arroz e feijão bem feito”, orientou.
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Veja os quadros abaixo:
SUSTENTABILIDADE
O expressivo faturamento total de R$ 2,3 bilhões, somando os valores das 447 fazendas que integraram o levantamento, surpreende por um dado implícito, trazido à tona por Chaker. “São propriedades que faturaram 2,3 bilhões. Essas propriedades têm 30,7% de (área de) reserva, que são mais ou menos 500 mil hectares de mata preservados, o que significa um investimento desses produtores aqui na casa do R$ 9 bilhões em preservação ambiental. Muitas vezes a pessoa fala que não come carne porque carne destrói o meio ambiente. Puxa vida, o faturamento foi R$ 2,3 bilhões, mas o que preserva foi R$ 9 bilhões”, reconheceu.
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Por fim, o consultor opinou qual deve ser a postura do produtor que busca trilhar o caminho para o sucesso na pecuária de corte. “Intensifique o seu conhecimento com foco no resultado, nós aprendemos sobre pastagem, gestão, sobre gente, então trabalhe pensando no resultado, e pensar no resultado fazendo o certo. O que o Inttegra defende? Você não precisa, nesse ano, conquistar todos esses números, mas queira ser melhor do que o ano passado. Perseguir. Melhorar sempre é que o que vai fazer diferença pra você. A pecuária é uma atividade maravilhosa, que realmente recompensa os profissionais”, concluiu.
+ Baixe a apresentação completa do Benchmarking 2019/2020
Veja a entrevista completa com Antonio Chaker – e a apresentação do Benchmarking da pecuária safra 2019/2020 – no vídeo abaixo:
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