Os dois maiores custos variáveis do confinamento – alimentação (19,03%) e reposição (65,08%) – correspondem por quase 85% do total, conforme apontou em entrevista ao Giro do Boi a mestre em zootecnia Letícia de Souza Santos, analista de produtos Minerthal, empresa voltada para a nutrição animal.
Em sua participação no programa, Letícia deu dicas para os produtores potencializarem os impactos positivos destas variáveis no resultado da operação de engorda em cocho.
Independente do resultado, a especialista apontou que a falta de mensuração e gestão é uma grande lacuna a ser preenchida na intensificação da atividade. “Como em todas as vertentes da pecuária, e o confinamento não é diferente, tem gente que está tendo prejuízo, tem gente que está deixando de ganhar dinheiro e que poderia estar ganhando mais. Mas o que mais me preocupa, o maior problema são aqueles que não mensuram, aqueles que não tem na ponta do lápis todas as contas do confinamento. Esses não sabem se estão ganhando, perdendo e eles não conseguem nem identificar algum problema para ser melhorado e conseguir ter lucro”, advertiu.
“Confinamento conta com muitos custos quando é comparado a uma terminação a pasto. No confinamento a gente tem um pouco mais de custo, o que nos deixa com a margem bem apertada. A gente precisa de uma estrutura mais elaborada, a compra dos animais onera bastante, temos esse custo e temos custo com alimentação. O investimento tem que ser feito de forma adequada na alimentação. Temos o custo com treinamento de mão de obra porque precisa ter um rotina mais estabelecida. Todos esses custos deixam a nossa margem mais apertada mesmo”, alertou Letícia.
A profissional destacou como o produtor pode otimizar a compra da reposição para impactar o resultado final da engorda em cocho. “A gente viu que o investimento, o custo do animal de reposição é o que mais onera os custos variáveis. A gente pode pensar que, além de buscar um animal mais barato, o que está mais complicado agora, a gente precisa investir num animal que vai dar retorno com essa alimentação que a gente vai fornecer. Não adianta comprar um animal um pouco inferior, para o qual a gente vai investir muito em alimentação, e ele não vai dar o retorno que a gente procura”, ressaltou.
A profissional comentou que é desejável, caso tenha a possibilidade, o produtor priorizar a compra de animais cuja genética indica mais eficiência alimentar. “Se ele tiver condição, sim, eu oriento porque a gente sabe que é uma das partes que mais onera é a alimentação e se a gente consegue um animal com a maior aptidão para comer menos e engordar o mesmo tanto que outro animal, é o ideal”, opinou.
Portanto, além do preço, Letícia salientou a importância de conhecer o perfil do animal de reposição. “Esse é um ponto muito importante de a gente pensar. Tem que investir num animal que dê retorno, não adianta só comprar barato. Comprar barato é bom, mas não adianta comprar barato sem qualidade”, sustentou.
Na sequência dos custos variáveis de maior impacto, Letícia comentou a relação da nutrição com a produtividade do pecuarista. “Falando em alimentação, a gente viu que ela onera nos custos do confinamento, ela tem o segundo maior custo. Porém é a partir dela que eu consigo aumentar a produtividade e diluir um pouco os custos. A gente precisa investir numa alimentação que traga retorno”, reconheceu.
No intuito de reduzir custos com a nutrição, Letícia revelou a popularização do uso de subprodutos e coprodutos das indústrias. “A gente tem utilizado muito subprodutos e coprodutos na alimentação animal, como casca de soja, polpa cítrica, gérmen de milho, caroço e farelo de algodão. Todos esses alimentos nos ajudam a buscar uma diária alimentar mais barata”, informou.
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Segundo a doutora em zootecnia, a alimentação deve ser parte expressiva da gestão diária de um confinamento. “Eu acho que se falando de alimentação também, a gente pode pensar que, além de investir nos ingredientes, a gente precisa monitorar a dieta. A gente planeja a dieta e depois, na época do confinamento, é bom avaliar o que estou oferecendo ao animal e o que o animal está deixando no cocho. Isso é muito importante também porque quando eu olho a dieta que eu ofereço, eu consigo ver se a mistura está sendo bem feita, se os ingredientes são de qualidade, eu consigo ver o tamanho de partícula do volumoso, afinal a gente precisa de um volumoso que ajude a mastigação, a saúde ruminal. Então eu consigo ver isso tudo e eu preciso avaliar. Não é só comprar, investir na alimentação, mas avaliar como ela está sendo feita”, sugeriu.
“Avaliar sobras é uma prática muito importante porque você consegue ver se o quanto o animal está comendo e o que ele está deixando no cocho, se ele está selecionando alguma coisa, então eu acho que falando de alimentação a gente tem que pontuar isso também”, acrescentou. “Sobra no cocho é algo que acontece, o rejeito do cocho e a sobra dos alimentos do cocho. Por isso é bom monitorar e fazer o ajuste de consumo de matéria seca diariamente para a gente evitar esse desperdício”, lembrou.
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Letícia valorizou também o uso de aditivos, incluindo protocolos de acréscimo de aditivos na dieta de cocho. “A gente investe muito nos alimentos, que é a maior parte da dieta, mas na alimentação a gente precisa investir nos aditivos também, que estão nos ajudando a ter um melhor resultado financeiro. Eu tenho gostado muito de utilizar, ultimamente, protocolos de aditivos. A gente utiliza no começo do confinamento algum aditivo mais específico para aquela fase de adaptação, que é uma fase mais difícil, depois a gente pode alternar para outro aditivo que possa ser utilizado no meio do confinamento, na dieta de crescimento, e aí no final, quando a dieta já é mais desafiadora, tem uma densidade energética maior, a gente pode ainda alterar para outro aditivo. Eu acho que essa é uma dica boa e que faz a gente maximizar cada dieta que a gente está fornecendo”, propôs.
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A zootecnista ilustrou uma situação de confinamento em que o manejo é ajustado de tal forma que mesmo com um GMD menor, o resultado financeiro pode ser maior.
“A gente exemplificou, tornou um pouco mais real essas contas que a gente fez. São dois confinadores, com animais com pesos de entrada semelhantes, dias de confinamento e consumo de matéria seca semelhantes também. O que diferiu foi que um deles utilizou casca de soja, gérmen de milho, milho e farelo de algodão e outro só milho e farelo de soja. A ureia, o núcleo e o volumoso foram semelhantes. O que a gente conseguiu perceber? Que o custo da diária alimentar deste confinador que usou os subprodutos foi menor, então a gente consegue confirmar a premissa de que é bom utilizar com cautela os subprodutos, procurando um GMD a um custo alimentar da arroba produzida melhor”, ponderou.
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Para escolher a formulação ideal da dieta, além de verificar se ela cumpre as necessidades do gado em cocho, Letícia ressaltou também a disponibilidade regional de ingredientes variados. “Olhar a região, buscar todas as alternativas presentes na região para a gente tentar diminuir esse custo da diária alimentar”, frisou.
“No confinamento a gente tem que colocar tudo na ponta do lápis, conseguir mensurar tudo, desde o planejamento até o final. Depois que abater, a gente precisa avaliar todos os custos. É bom avaliar também o rendimento de carcaça, a eficiência biológica, que a gente tem falado muito ultimamente, que é quanto ele come de matéria seca para engordar uma arroba. Então é preciso planejar. A gente não pode deixar de planejar e é preciso avaliar. No final do confinamento, eu tenho que saber quanto custou uma arroba produzida e eu tenho que saber todos os outros custos para eu entender se eu consegui ou não ter sucesso nesse ano, nesse giro de confinamento”, concluiu.
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Assista a entrevista completa com Letícia de Souza Santos, mestre em zootecnia e analista de produtos Minerthal: