No Giro do Boi desta quarta-feira, 30, a engenheira ambiental Aline Maldonado Locks, CEO da empresa Produzindo Certo, foi convidada especial. A especialista apresentou o trabalho da companhia, que reúne em sua plataforma cerca de 1.500 propriedades em 14 estados, totalizando uma área de cinco milhões de hectares, que são monitorados em busca da inclusão dos produtores nos debates sobre sustentabilidade, buscando equilíbrio entre produção e gestão de recursos naturais e humanos.
A companhia nasceu da ONG Aliança da Terra e, com a consolidação da plataforma Produzindo Certo, transformou-se em empresa independente.
Conforme explicou Aline, a ONG tem a missão de levar ao produtor – que já leva em consideração o tema sustentabilidade dentro de seu sistema produtivo – informações que por vezes passam despercebidas, como mudanças na legislação. A tarefa é importante, uma vez que produtores rurais nem sempre são incluídos nas discussões sobre o tema, mas em sua propriedade já trabalham com práticas de conservação de solo, de nascentes e têm preocupação com a questão social de seus colaboradores.
“E a gente viu a necessidade de ser um pouco mais agressivo, no bom sentido da palavra, em tentar valorizar essas adequações, tudo isso que o produtor já vem fazendo dentro da fazenda. Por isso nós formamos uma empresa para ter um pouco mais força para lutar por esses produtores junto com as empresas que se relacionam na cadeia com esse produtor”, esclareceu a engenheira ambiental.
A plataforma, ao passo que faz um diagnóstico de sustentabilidade de propriedades rurais, faz a integração da cadeia produtiva levando a questão para além da filantropia, destacou Aline.
“Se a gente não enraizasse de alguma maneira esta sustentabilidade na questão comercial mesmo das empresas que atuam junto com os produtores, seria muito difícil o produtor buscar uma transformação de fato”, justificou.
Por meio de suas ações, a Produzindo Certo atende uma das principais demandas dos produtores, aproximando-os de linhas de crédito e investidores do setor. “O crédito sempre foi uma demanda grande. A gente sempre ouvia dos produtores, desde a nossa época de ONG, que havia burocracia e dificuldade de conseguir acertar uma totalidade de crédito suficiente para a demanda da fazenda. Então a gente constituiu algumas parcerias com empresas do agro para desburocratizar esse crédito e tentar navegar nessa onda”, confirmou.
O modelo de trabalho, conforme reforçou a especialista, é uma forma de valorizar os ativos florestais e estruturar as operações para aproximar agropecuaristas de investidores que buscam não somente o retorno financeiro imediato, mas sintonia de suas próprias empresas com as ações de conservação. “E a agricultura do Brasil casa muito bem com isso. Os produtores estão obviamente produzindo e estão preservando florestas como em nenhum outro lugar do mundo”, salientou.
Aline listou algumas das conquistas relevantes da empresa para as fazendas que integram a plataforma.
“Na Unilever, toda a soja feita para a maionese Hellmanns vem de propriedades que estão na plataforma Produzindo certo. A gente dá todo esse apoio para o produtor para que ele continue melhorando a sua performance ambiental e a Unilever valoriza isso. Então os produtores recebem uma adicional pela soja produzida com respeito ao meio ambiente e às pessoas”, revelou.
“No caso do programa do Rubia Gallega, a gente apoia também os produtores que fazem essa carne da raça, dando apoio para os produtores continuarem e sendo, de alguma maneira, valorizados por isso”, acrescentou.
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Em 2016, um estudo da UFMG apontou ainda que as fazendas que integram a plataforma têm também menos chances de serem consumidas pelo fogo. “Nesse apoio que a gente dá para o produtor, um dos itens que é foco do diagnóstico que a gente faz para a fazenda, que é um documento que a gente entrega para o produtor e nada mais é que um ‘raio-x’ da fazenda nos aspectos sociais e ambientais, o fogo é um dos pontos. A gente faz treinamentos para os funcionários nas fazendas, trabalhos de prevenção, tem orientações técnicas sobre onde esta fazenda deveria fazer os aceiros, então tem toda uma orientação em torno do tema fogo. E, sim, a Universidade Federal de Minas Gerais fez esse estudo, comparou fazendas da plataforma com fazendas próximas que não fazem parte da plataforma e viu uma redução de pelo menos 30% nos incêndios em fazendas que fazem parte da nossa plataforma, demonstrando que essa orientação tem efeito na prática”, celebrou.
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Entre os motivos do sucesso do projeto, conforme observou Aline, está o fato de que a companhia, de certa forma, “sente a dor” do produtor rural. “Ele tem que ser parte das discussões. A gente vê muitas soluções mirabolantes, mas que não chamam o produtor para discutir isso junto. Quando a gente fala de respeito ao homem do campo é muito nesse sentido”, sustentou.
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Assista a entrevista completa com Aline Maldonado Locks no vídeo a seguir:
Foto ilustrativa: Fazenda Roncador / Reprodução Produzindo Certo