Ela foi reconhecida pela FoodTank, uma organização sem fins lucrativos com sede em New Orleans, no estado da Louisiana, nos Estados Unidos, como uma das 28 fazendas mais inovadoras do mundo no sentido de moldar o futuro da produção de proteína animal. No Brasil, foi listada também como “caso de sucesso a ser multiplicado no bioma Mata Atlântica pela Rede ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta)”. E além do modelo sustentável de produção reconhecido nacional internacionalmente, seu faturamento é mais de três vezes superior à média brasileira. Esta é parte da história da Fazenda Triqueda, localizada no município mineiro de Coronel Pacheco, próximo a Juiz de Fora, na Zona da Mata.
Nesta quarta, 15, o sócio e gestor da propriedade, o administrador Leonardo Resende, falou ao Giro do Boi sobre o caminho traçado pela propriedade de 380 hectares (sendo 100 ha de sistema silvipastoril, outros 100 hectares de silvicultura de eucalipto e o restante composto por reserva legal e APPs) para alcançar o reconhecimento que tem atualmente por meio de seu sistema produtivo, inspirado em um modelo de pecuária regenerativa.
“A gente dividiu a fazenda em quatro áreas e 25% da pastagem foram manejados a cada ano. A gente reduziu o estoque dos animais, porque a gente tinha uma pastagem degradada inicialmente, lá pelo ano 2000, 2004, […] e ao mesmo tempo que a gente deu uma folga para a pastagem, a gente colocou as árvores e manejou a parte que precisava de uma atenção, precisava de uma adubo pontual aqui e ali, precisava de a gente cuidar da matocompetição… E a gente foi criando ações personalizadas para cada parte da pastagem”, contextualizou.
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Resende explicou como funciona a sinergia entre os componentes do sistema – solo, animais, pastagens e árvores. “É importante a gente entender que cada piquete neste processo, para que a gente torne ele mais produtivo o possível e desenvolver esta sensibilidade para pressão dos animais na pastagem, não adianta a gente só adequar a parte de lotação. O herbívoro é um animal seletivo, vai comer primeiro o que ele gosta e onde ele gosta de estar, então a gente compõe um ambiente que a gente consegue ter andares dentro desse micro ecossistema produtivo e que vai potencializar uma sinergia tanto abaixo do solo, com troca de nutrientes, tanto acima do solo”, detalhou.
Na sequência, na conversa com a equipe de reportagem do programa, o gestor falou dos benefícios desta composição para a propriedade. “Por exemplo, a galhada do eucalipto cai no solo e se decompõe ali. As folhas também. Então é mais um componente gerando matéria orgânica, mais um componente diminuindo a temperatura. E menor temperatura significa conforto térmico, significa menor evaporação de água no solo, significa maior infiltração de água da chuva, recarga do lençol freático e mais nutrição”, ilustrou.
Por outro lado, o administrador advertiu quanto aos problemas causados de maneira geral quando não há esta cobertura no solo. “A pecuária perde serviço ambiental e passa a degradar quando a gente perde a cobertura vegetal. A gente começa a ter manchas de erosão no solo, a gente começa a ter manchas de invasoras e, por evolução desse quadro, essas manchas vão se conectando. A gente para de ter a fonte principal da nutrição desses animais e começa a ter uma vegetação pobre – pobre abaixo e acima do solo. E aí a gente tem um sistema que não funciona e chega a ser um passivo ali. Então a pecuária regenerativa é uma forma de baixo custo de investimento, ela não contempla um pacote tecnológico caro, ela envolve a mudança cultural do pecuarista e dos seus colaboradores em termos de desenvolver uma sensibilidade maior para os sinais que aquela pastagem passa, melhora aqueles sinais e entender o microecossistema produtivo”, resumiu.
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Acreditando nestes princípios, Leonardo, em conjunto com outros gestores de fazendas referência neste tipo de sistema produtivo, criaram o Projeto Pecuária Neutra e Regenerativa, uma instituição que “apoia e incentiva a expansão de sua proposta através da multiplicação dessa iniciativa”, conforme consta em seu site oficial. Entre os benefícios da adoção do sistema estão aumento da receita por hectare, melhora do desempenho da pastagem e do rebanho e a incorporação das boas práticas de manejo e bem estar animal.
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Na própria Fazenda Triqueda, por exemplo, tais resultados já ficaram bastante evidentes, como contou Resende. “A média do Brasil hoje é de R$ 350 por hectare ao ano. Hoje na fazenda (Triqueda) a gente está receitando R$ 1.000,00 a R$ 1.100,00, próximo do milho e da soja. Então por que a pecuária vai ficar marginalizada, por que ela não pode ser tão competitiva? Marginalizada economicamente, que eu quero dizer. É a margem de receita, de um lucro maior, e ela passar a ser estrela do agro em termos de lucratividade. Esse que é o nosso desafio e parte deste conceito todo vai para ter produtos diferenciados com certificações, com selo, uma comunicação direta para o consumidor que a carne, o leite, o couro que ele está produzindo está ajudando o planeta”, justificou.
“A produção sustentável é uma longa escada. Não existe um modelo que te falo que é o melhor. A gente está olhando sempre o próximo degrau, então faça pecuária regenerativa. Se eu já estou com a base da minha escada toda pronta, aí pode ir acrescentando um degrau a mais aqui, outro ali e a luta não para. Ela deve contemplar o contexto, a ecorregião desta fazenda está e os inputs locais”, comentou.
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Veja a entrevista completa com Leonardo Resende no vídeo a seguir:
Foto: Arquivo / Leonardo Resende