A pecuária de corte brasileira possui uma taxa de desmama média de 65%, ou seja, a cada 100 vacas que estão aptas à reprodução, apenas 65 desmamam um bezerro por ano. Como uma fazenda pode começar um trabalho para passar desta média, considerada baixa por especialistas? E como alcançar mais do que quantidade, qualidade dos bezerros desmamados?
+ Taxa de desmame no Brasil é de apenas 65%, confira dicas para elevar os índices
Uma vez que o Brasil pecuário está se preparando para a estação de monta, que começa junto à primavera e o retorno das chuvas, o Giro do Boi desta segunda, 08, tratou do assunto em entrevista com o médico veterinário e mestre em reprodução João Barbuio, gerente técnico da MSD Saúde Animal. Ele falou sobre os principais desafios do criador e como ele pode superá-los.
O primeiro manejo a ser melhorado é o da nutrição, fator essencial que impacta no desempenho reprodutivo de uma fazenda. “É o fator mais importante de todos. Não adianta a gente ter o melhor protocolo do mundo de IATF se as vacas não tiverem condição corporal, condição nutricional adequada. Lembrando que o primeiro sistema do bovino que se interrompe na deficiência nutricional é o sistema reprodutivo, então se nós não cuidarmos bem da nutrição dos animais, nós consequentemente teremos muitos insucessos no resultado final da reprodução”, explicou o veterinário.
+ Baixo escore corporal é principal causa de resultado negativo na reprodução
Barbuio afirmou também que como a pecuária está cada vez mais intensiva por conta da competitividade de atividades concorrentes, como a agricultura, o maior número de animais por área acaba dificultando também o manejo sanitário. Por isso a vacinação destinada a prevenir doenças reprodutivas é um dos pontos e que podem acarretar em aumento da produção de bezerros, seja por evitar abortos, natimortos ou nascimento de bezerros fracos que falham em sobreviver até a desmama. “Vale lembrar que o custo da sanidade hoje de uma fazenda gira em torno de 2% a 3% do custo total”, reforçou. “Se não tivermos bezerros, não teremos vacas, nem bois e não chegaremos ao objetivo da pecuária de corte, que é produzir carne de qualidade”, afirmou.
Barbuio detalhou o protocolo sanitário para vacas em reprodução. “Em se falando de vacinas reprodutivas, vale lembrar que se o animal nunca foi vacinado na vida dele, ele precisa obrigatoriamente receber duas doses em um intervalo entre 20 e 30 dias. Na primovacinação, como a gente chama, o ideal é que a gente faça isso antes de iniciar a vida reprodutiva da fêmea, desta novilha. Quando estiver no início do protocolo (de reprodução), ela já deve ter recebido estas duas doses com antecedência, e aí a partir da primovacinação, é uma dose por ano. Nós podemos ampliar para duas doses, dependendo do desafio, mas desde que seja feito logo no início, até antes da gestação para que a gente consiga proteção total dos animais”, aconselhou.
Com bom escore corporal e protocolo sanitário em dia, assegurando que os esforços em reprodução não serão desperdiçados, Barbuio disse que é hora de o produtor programar a sua estação de monta. “Como nós dependemos diretamente de uma boa nutrição, então os protocolos começam a ser estabelecidos a partir da volta das águas, quando há melhoria da qualidade e quantidade de forragem, e aí, sim, tem condições de para atingir bons resultados de prenhez. […] O ideal, por incrível que pareça, considerando vacas paridas, é começarmos logo após o parto, ou seja, respeitando os 30 dias pós-parto, isso é obrigatório, então quanto mais cedo nós começarmos, melhor é o resultado de prenhez por protocolos da IATF. No Brasil, de modo geral, a gente costuma começar (o protocolo) a vaca entre 30 e 60 dias de parida, aí consegue os melhores resultados”, informou.
+ Como transformar sua fazenda em uma máquina de colher bezerro – e dinheiro?
Segundo Barbuio, a inseminação artificial traz uma série de benefícios para as propriedades, como produção de carne de qualidade, facilidade para o cruzamento industrial e aceleração do melhoramento genético, porém a modalidade tem seus fatores limitantes: o período de anestro, ou seja, de inatividade sexual das matrizes, o que pode variar de 60 a 120 dias nas vacas zebuínas, com a baixa disponibilidade de forragem podendo impactar negativamente, e também a observação do cio, que nas fêmeas zebuínas é curto, dificultando a detecção com o uso de rufiões, por exemplo.
A IATF – Inseminação Artificial por Tempo Fixo, entretanto, solucionou estes gargalos da IA. “Hoje a MSD Saúde Animal busca facilitação de manejo, então esse protocolo que vocês veem na tela é um protocolo de manejos até você realizar o serviço propriamente dito (veja em detalhes na palestra em PDF disponível abaixo). No dia que você começa o protocolo, que nós chamamos de dia zero, nós fazemos a administração de um fármaco, mais inserção de um implante intravaginal, deixa esse implante por oito a nove dias na vaca para depois levar novamente os animais para o curral. Você tira o implante, faz administração de alguns fármacos e a realização da inseminação ocorre 48 horas após, ou seja, no terceiro manejo. Então hoje nós enxergamos que quanto mais fácil a administração do protocolo, melhor é para todo mundo na fazenda, para os funcionários, para o produtor, para o veterinário. Nós optamos em desenvolver protocolos mais curtos e mais condensados para que a gente consiga otimizar o resultado e também aumentar o número de protocolos e a realização de protocolos por animal, que seriam as famosas ressincronizações, hoje muito em evidência”, instruiu.
Baixe pelo link abaixo a mini palestra do médico veterinário João Barbuio:
+ Como IATF viabiliza produção de bezerros em quantidade e qualidade
As ressincronizações são aplicadas nas vacas que não tiveram prenhez confirmada com um determinado protocolo da IATF. Dependendo da duração da estação de monta e de quão cedo nesta estação de monta foi aplicado o primeiro protocolo, uma mesma vaca pode ter até três chances de receber protocolo e emprenhar. “Nós podemos ter o orgulho de sermos referência mundial hoje nessa parte de sincronização de cio. A inseminação artificial em tempo fixo vem crescendo muito, nós temos muito tempo já com essa tecnologia em andamento, em desenvolvimento. […] Os protocolos da IATF hoje são muito previsíveis, então importante para que a gente tenha aquele resultado esperado é um planejamento prévio para que quando chegar a hora da estação de monta tudo esteja correndo bem dentro da fazenda e a gente atinja os nossos objetivos, que são altas taxa de prenhez. […] Quando a gente lança mão da IATF para realizar dois ou três protocolos seguidos, a gente pode atingir até 90% de prenhez em situações a campo em gado de corte”, destacou.
+ O que é bezerro do cedo, como produzir e por que ele é melhor pra fazenda?
Antes de concluir sua participação, o veterinário fez um convite para um webinar a ser realizado pela MSD Saúde Animal nesta segunda, 08, às 19h, com o tema “Bem-estar animal dentro da porteira: Implementação e resultados na prática”. Veja abaixo a programação completa, que inclui apresentações de Mateus Paranhos, Janaína Braga, Junior Caetano e Antony Luenenberg, que serão transmitidas pelo canal da MSD Saúde Animal no YouTube:
+ Boi estressado esconde doença e dificulta diagnóstico
+ Cuidado com o cão na lida campeira; ele pode transmitir doenças para o gado
Veja no vídeo abaixo a entrevista completa com João Barbuio ao Giro do Boi desta segunda, 08: