De gota em gota o carrapato enche o papo – e esvazia o bolso do pecuarista. Nesta segunda, segunda, 17, em entrevista concedida ao Giro do Boi, o médico veterinário, mestre em patologia e doutorando pela Universidade Federal de Goiás Daniel Rodrigues, gerente técnico da área de ruminantes da MSD Saúde Animal, afirmou que a cada carrapato graúdo preso no boi, o animal perde um grama de carne.
É por isso que especialistas calcularam que o prejuízo causado pelo ectoparasita à pecuária brasileira chega na casa dos R$ 15 bilhões. “Quando nós olhamos esses números, assustadores, R$ 15 bilhões, por que tudo isso? E aí nós começamos a entender alguns detalhes. Pesquisadores importantes do Brasil mostraram que uma vaca em produção de leite, por exemplo, chega a perder durante o período de lactação até 90 litros de leite. Como o Brasil é um país de população bovina muito grande, quando eu pego 90 litros de leite de lactação com o volume de animais em lactação que eu tenho dentro do Brasil, isso em reais vira um valor muito alto. E na carne nós chegamos a perder em torno de um grama para cada carrapato maior desses que observamos”, quantificou Rodrigues.
O problema se agrava também com a intensificação da pecuária de corte. Com o aumento da taxa de lotação nas pastagens, as chances de a larva de carrapato encontrar o animal ficam maiores. Um fêmea adulta, a famosa “jabuticaba”, uma alusão ao modo como fica presa ao corpo do boi, gera entre 2.000 e 2.500 ovos no pasto, onde se encontra 95% de toda a população de carrapatos de uma fazenda, sendo que somente 5% são visíveis ao produtor.
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Com toda esta representatividade, o produtor precisa saber qual é o momento certo de tratar o parasita, conforme destacou o veterinário. “Quando eu vou tratar, qual é o momento que eu devo tratar? […] O importante para a tomada de decisão do pecuarista é como está o carrapato nos seus animais. ‘Como eu faço pra observar?‘ E uma coisa bem simples e didática é começar a observar o tamanho do carrapato no meu animal”, esclareceu.
O especialista fez um alerta para o produtor para que ele torne um hábito observar seus animais sempre que puder para identificar a gravidade da infestação, se possível passando a mão nos animais, indo contra o pelo para ver a quantidade de parasitas, e entre as pernas também, encontrando aqueles chamados “animais de sangue doce“, mais suscetíveis.
“Se eu tiver carrapatos em diferentes momentos, ou seja, um pequeno, um médio e um grande, isso indica que eu preciso de intervenção e tratamento muito rápido porque o ciclo do carrapato naquele ambiente não está controlado. Eu tenho um que subiu hoje, um que subiu semana passada e eu tenho uma que está quase descendo. Então eu preciso intervir? Os tratamentos com banho trazem resposta muito imediata, então geralmente eu faço o banho hoje, espero efeito de dois a três dias na maioria dos produtos. No entanto, com quatro a cinco dias, esse produto já não está mais fazendo efeito. Então se eu quero efeito rápido, é o banho, ele vai ser mais local e rápido”, ilustrou.
“Quando o pecuarista começa a visualizar, na maioria das vezes, o carrapato já está na segunda semana de idade, então ele tem uma janela de mais ou menos sete dias para ele fazer o combate, a intervenção. Passou disso, ele já começa a deixar fêmeas adultas no pasto. E este é um ponto importante, que nós, da MSD, estamos trabalhando muito. É identificação. E para facilitar este processo, nós desenvolvemos um material didático de fundo bem simples pra que a pessoa lá no campo consiga, através da observação de um disco do ciclo do carrapato, olhar seu animal, ver o tamanho do carrapato e entender quantos dias ele vai levar pra chegar na fase adulta. E aí ele vai saber se está ou não no prazo para fazer uma intervenção”, respondeu.
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O veterinário reforçou a importância do uso de EPIs – equipamentos de proteção individual – pelos aplicadores dos produtos, principalmente as máscaras com filtro de carvão, indicadas para este manejo sanitário por filtrar as moléculas. O horário da aplicação também é relevante, pois usar os produtos em momentos de muito sol pode causar irritação nos animais e nos peões. Por isso, os primeiros momentos da manhã ou o fim de tarde são os horários mais recomendados.
O conhecimento sobre o prazo de carência de cada medicamento também é fundamental para garantir a credibilidade da cadeia produtiva da pecuária, seja de leite ou de corte. Os prazos, segundo Rodrigues, são facilmente observados nas embalagens dos produtos.
O veterinário destacou que a companhia disponibiliza seis produtos voltado ao controle destes ectoparasitas, que são ferramentas eficazes e disponíveis para o tratamento. No entanto, Rodrigues frisou que o pecuarista precisa usá-las como a partir de uma estratégia bem formulada. “Nós temos muitas ferramentas boas. O que nós precisamos é utilizá-las de forma correta e isto a MSD, nos últimos tempos, está focando muito com sua equipe. […] O pecuarista hoje, em diferentes locais do Brasil, pode procurar as revendas e pedir, através das revendas, o apoio da equipe da MSD porque ela está qualificada para ir até a propriedade e, através das ferramentas de análise e avaliação, nós vamos introduzir na propriedade as melhores combinações de fármacos. Então (vamos responder) que horas que vai usar um pulverizador, que horas vou usar o injetável, o momento que ele posso trabalhar com pour on, qual pour on vai usar. Isto tudo porque o carrapato é muito esperto, ele está aí desde a época dos dinossauros”, declarou o gerente da MSD Saúde Animal.
Veja a entrevista completa com Daniel Rodrigues no vídeo abaixo:
Foto: Acervo pessoal / Daniel Rodrigues