Capim pode ser a diferença entre quebrar e colher bem

Após consolidação de benefícios da cobertura do solo, produtores conseguem colher até quatro safras por ano em sistemas integrados

Em uma das regiões mais difíceis do Mato Grosso do Sul, possivelmente uma das mais complicadas do Brasil para a prática da agricultura, o produtor rural encontrou um caminho para a alta produtividade e está colhendo até quatro safras por ano. No município de Maracaju, o trabalho para usar o potencial da natureza da melhor forma possível começou na década de 1960, com os produtores que se instalavam na região buscando superar desafios como a quantidade de alumínio no solo, que demandam altas doses de correção, e ainda os veranicos que prejudicam as lavouras.

Quem relembrou esta história ao Giro do Boi da sexta, 17, foi o biólogo, mestre em biologia vegetal e doutor em agronomia, Alex Melotto, diretor executivo da Fundação MS, empresa privada sem fins lucrativos que atua na pesquisa e difusão de tecnologias agropecuárias no estado. “Desde a década de 60 o produtor já brigava com isso, e buscou por si só, inicialmente, um modelo de trabalho que pudesse ajudar na agricultura. E esse modelo foi a inserção da palha no sistema, que se deu por meio da integração lavoura-pecuária, que foi inicialmente pesquisada pelos próprios produtores e depois a Embrapa já estava instalada em Mato Grosso do Sul e outras instituições de pesquisa ajudaram. E aí só na década de 90 que a Fundação MS foi criada com o intuito de aperfeiçoar a técnica. O título de capital nacional (da integração) se deu porque a integração começou aqui em Maracaju, obviamente pelo maior de todos os pesquisadores, que é o produtor rural”, detalhou Melotto.

O doutor em agronomia reforçou que a descoberta e o avanço das pesquisas foram determinantes para o sucesso das colheitas ano após ano. “O que a gente tem visto nos últimos dez anos, e o Showtec 2020 vem para provar isso, é que a integração não sai de moda. Ela ajuda todo mundo. É óbvio que depende da possibilidade de cada um, afinal você depende dos animais, de ter ou não ter, de ter cerca, de ter água, mas seja como for, a contribuição dos capins para o sistema de produção agrícola é infinitamente comprovado, e é muito grande. É a diferença entre quebrar e colher bem”, sustentou o executivo da Fundação MS.

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De fato, o Mato Grosso do Sul se consolida como o estado com a maior área de adoção de sistemas integrados e enquanto o país conta com cerca de 11,5 milhões de hectares inseridos nestes sistemas, o MS tem cerca de 2,7 milhões de hectares.

Em sua participação, Melotto indicou como o produtor que ainda não adota alguma forma de sistema integração pode iniciar o processo de transição. “O primeiro passo é entender o sistema, saber onde você está e onde você quer chegar. Eu vejo muitos produtores acomodados com a baixa produtividade e o primeiro passo é ele se incomodar com isso. Ele não pode ser acomodado, tem que ser incomodado, e aí aceitar a integração como uma alternativa e avaliar as possibilidades de fato. Porque a gente percebe que tem regiões, e o Mato Grosso do Sul tem crescido muito no sistema de produção agrícola por conta da integração, que vem sendo adotada especialmente na impossibilidade do milho safrinha. O produtor rural planta a soja e no inverno, ao invés de fazer o milho por conta do alto risco, ele faz capim e usa para os animais, então é um sistema sistema extremamente produtivo”, indicou o biólogo.

Segundo Melotto, a integração está viabilizando aos produtores até quatro safras por ano. “A integração faz além da segunda, uma terceira e talvez até uma quarta safra. Você tem o o sistema agrícola como primeira safra, a forragem como segunda safra, as raízes como uma terceira safra, que poucas pessoas consideram, e o que a gente tem estudado bastante nos últimos três anos é a quarta safra, que é a safra de carbono, que se transforma em matéria orgânica – e quem vai colher isso é a soja no próximo ano”, esclareceu.

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Os trabalhos de pesquisas da Fundação MS e de empresas do setor estarão reunidos na própria sede da instituição em Maracaju-MS nos próximos dias 22 a 24 de janeiro, no Showtec 2020, evento realizado anualmente que apresenta novas tecnologias e tendências aos produtores rurais da região. Além das dinâmicas de apresentação das novidades, a programação técnica de palestras contará com paineis como “Encontro de jovens”, “Encontro de mulheres do agronegócio”, “Criando super raízes”, “Safrinha de alto desempenho”, “Sugadores em soja/milho: Pare de perder pra eles!” e “Preparando fazendas para o Agro do futuro”. A programação completa está disponibilizada pelo site oficial do evento, o portalshowtec.com.br.

Veja a entrevista completa com Alex Marcel Melotto pelo vídeo abaixo: