“Produzir carne bovina de forma cada vez mais lucrativa e sustentável nos trópicos” foi o objetivo de uma turma de pecuaristas brasileiros, paraguaios e colombianos ao formalizar, em 2015, a associação Cia de Melhoramento, que reúne um rebanho de 68 mil matrizes de 72 criatórios distribuídos nestes três países para apontar os rumos do melhoramento genético. Nesta quinta, dia 09, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com o médico veterinário, mestre em reprodução animal e gerente executivo do grupo, Marcelo Almeida.
“Eu já tenho 20 anos militando especificamente nesta área com programas de melhoramento genético. De 20 anos para cá, o mercado mudou muito, o mercado hoje assimila muito melhor os indicadores de produção, as DEPs dos touros, os índices de seleção e hoje a gente pode dizer que é um insumo real, presente na pecuária. A genética não é mais aquele negócio tão longe da realidade, pelo contrário, no mercado de genética houve uma inversão substancial e hoje lideram as vendas de sêmen os touros provados, aqueles touros que estão bem posicionados no sumário e isso vai trazer para a pecuária um outro nível de produção, vai trazer muito mais resultado para a pecuária nacional e para o Brasil”, resumiu o especialista.
Almeida destacou que uma tendência para os programas modernos de melhoramento genético é equilibrar a qualidade de carcaça com a eficiência reprodutiva, características importantes para o retorno financeiro do criador. “Nós fizemos um estudo recente com relação ao índice Cia Genômico, como ele se relaciona com outros índices, principalmente índices maternais, como o RMAT, o retorno maternal. Nós encontramos uma correlação de .77, ou seja, nosso índice, embora frigorífico, e os resultados têm mostrado isso, ele tem um alto conteúdo de retorno maternal, o que é importante porque nós precisamos produzir cada vez melhores mães para ter os melhores produtos, mães mais eficientes para trazer eficiência à pecuária de cria como um todo”, disse na entrevista.
“Nesse aspecto, hoje, 55% das novilhas Nelore do programa emprenham até os 18 meses, ou seja, mais das metades das nossas fêmeas já expressam a precocidade sexual no nosso ambiente de seleção. E já são identificados touros com predisposição para essa característica, touros que têm 60 até 70% das suas filhas emprenhando precoces em diferentes ambientes, em diferentes rebanhos, mostrando como é a participação da genética é fundamental para mudar de vez esse cenário na pecuária”, revelou o veterinário.
“Nós acreditamos que a questão da precocidade sexual vai ser um novo capítulo do Nelore e isso vai se fixar de uma maneira muito rápida na pecuária. Isso, daqui a alguns anos, nós vamos olhar pra trás e dizer ‘nossa, a gente emprenhava novilhas com dois anos, que ineficiente que nós éramos, não?’, porque existe recurso genético para mudar essa realidade e os números são muito contundentes com relação a isso”, acrescentou. Segundo Marcelo, baixar a idade ao primeiro parto é fundamental para que o Nelore se torne mais competitivo e, consequentemente, torne também mais competitiva a pecuária brasileira.
O veterinário ponderou ainda que é importante que o produtor faça o trabalho de seleção sem priorizar características, mas equilibrando todas as qualidades para a obtenção de um rebanho à altura do desafio da produção de carne bovina. Na Cia de Melhoramento, segundo o gerente executivo, são 13 características trabalhadas simultaneamente no indicador, o que “não diminui a velocidade do melhoramento, desde que (as características) sejam correlacionadas”, indicou Almeida.
Veja a entrevista completa pelo vídeo abaixo:
Foto: Reprodução / Cia de Melhoramento