A primeira etapa da campanha nacional de imunização contra a febre aftosa de 2019, realizada em maio, já trouxe as mudanças programadas para a vacina: retirada da saponina e redução da dosagem de 5 para 2 ml. As alterações, segundo o Sindan, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, foram bem aceitas pelo setor produtivo e contribuiu para que não fossem registradas reclamações de granulomas.
Nesta terça, 08, o tema foi abordado em entrevista com o médico veterinário Enrico Ortolani, mestrado em patologia clínica, doutorado em parasitologia livre docência e pós-doutor pelo Instituto de Pesquisa Moredun, em Edimburgo, na Escócia. Ortolani conduziu um estudo analisando os impactos da vacina no desempenho dos animais, como reações e consequente perda de peso.
Ortolani comparou os efeitos das vacinas antigas, aplicadas em novembro de 2018, com as novas, em maio de 2019, em 40 animais (20 machos e 20 fêmeas entre quatro e 24 meses) em sua pequena propriedade, alternando a aplicação dos 5 ml no lado direito da tábua do pescoço no ano passado e, neste ano, os 2 ml no lado esquerdo. As pesagens foram feitas 15, 30 e 45 dias após os manejos.
As reações menores de 2 cm, consideradas normais, não foram consideradas. As demais eram divididas em categorias entre 2-3 cm, 4-7 cm e acima de 7 cm. No ano passado, 40% dos animais tiveram nódulos, que eram mais frequentes nos animais jovens. 62,5% dos bovinos com reação entre 2-3 cm perderam cerca de 3 kg, 25% com reação entre 3-7 cm perderam 5 kg e 12,5% com nódulos maiores que 7 cm perderam 15 kg.
Já neste ano, com o novo produto, apenas 10% dos animais tiveram nódulos e nenhum deles apresentou reação superior a 2-3 cm. O peso médio, de acordo com Ortolani, não pareceu sofrer interferência entre os bovinos reativos e os não reativos.
A próxima observação do pesquisador será feita durante a segunda campanha nacional de vacinação contra a aftosa que ocorrem em novembro/2019, em meio à estação de monta, para checar se há morte embrionária decorrente do manejo. “Eu acredito que pelo tipo de reação não deva ter grande interferência na reprodução como existia com a antiga vacina”, estimou.
Enrico ponderou que, todavia, a nova vacina não compensa os problemas de práticas inadequadas. Para tanto, pediu que o produtor faça um planejamento para a próxima campanha, contemplando itens como:
– Treinamento de equipe sobre como aplicar a vacina (de preferência chamando um veterinário de confiança);
– Reforçar pontos como puxar o couro da tábua do pescoço, fazer a contenção adequada, trocar a agulha de dez em dez animais antes de limpar em água fervente – caso ainda estejam boas para o uso, bem afiadas e retas -, higienizar o local de aplicação caso haja muita sujeira como barro e fezes;
– Armazenar corretamente a vacina e manter entre 4 e 8ºC: quando o produto está muito gelado, pode favorecer a formação de nódulos, enquanto as que estão quentes demais perdem seu efeito. Prestar atenção neste item em casos em que os currais estão em locais distantes das geladeiras, utilizando isopor com gelo em contato indireto com o produto para o transporte;
– Higienizar a seringa, verificar suas condições de uso;
– Fazer sem pressa para evitar que a retirada da agulha ocorra enquanto a vacina ainda está sendo aplicada, desperdiçando produto e não imunizando adequadamente;
Ortolani lamentou que embora sejam pontos simples para a correção, muitas das situações são comuns em propriedades rurais. “Você tem este tipo de problema que não pode mais ocorrer. O Brasil é um país exportador, tem que ter qualidade de carne para os nossos importadores e para o nosso mercado interno”, frisou.
Veja a entrevista completa no vídeo abaixo:
Dúvidas sobre a pesquisa do veterinário e a respeito de boas práticas em manejo sanitário podem ser enviadas para o e-mail de Enrico Ortolani: [email protected].