Nesta segunda, 1º, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com o médico veterinário pela Universidade Federal Fluminense Lauro Fraga, gerente de melhoramento genético da ABCZ, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, e coordenador do programa Pró-Genética, da mesma entidade.
Fraga lamentou o fato de que 75% das 80 milhões de fêmeas bovinas em idade reprodutiva, ou cerca de 60 milhões de matrizes, são cobertas na estação de monta por bois comuns, ou seja, machos “ponta de boiada” sem qualquer avaliação genética.
“75% das fêmeas bovinas são cobertas por bois comuns. São bois sem qualidade genética, sem pais e mães conhecidos. Então, para nós da pecuária, é gritante esse número porque a gente fica muito preocupado. Como nós vamos concorrer com a nossa agricultura, que ano a ano cresce, que ano a ano se faz mais de precisão, com maior tecnologia, com maior produtividade visível a olhos nus? Como nós vamos concorrer com países desenvolvidos, já estabilizados em termos de pecuária, continuando a utilizar boi comum? Aquele que você não decide se capa ou ou não capa, fruto do cruzamento do ‘tatu com cobra’, como a gente costuma dizer na roça?” indagou o gerente da ABCZ.
“Tem que recomendar um touro PO para cobrir a vacada. Esse touro hoje é acessível, várias contas que a gente faz mostram a lucratividade dele, o rápido retorno feito sobre ele”, reforçou Fraga.
Além de classificar como condição essencial o reprodutor ser fruto de um programa de avaliação genética, o veterinário destacou durante a entrevista concedida ao programa os quatro principais pontos de atenção para a escolha de um bom touro reprodutor a partir de um ponto de vista prático:
Bons aprumos: “Começamos pelos cascos, pelos aprumos. É a primeira parte. O nosso país é grande, as fazendas são grandes e o touro precisa andar e para andar ele precisa ter bons aprumos. Nós temos que analisar qualidade de casco, qualidade de pernas, como esse touro anda, porque ele precisa andar atrás de vacas para fazer filhos”, explicou.
Aptidão reprodutiva: “O segundo aspecto é a parte reprodutiva. O direcionamento de bainha, a bolsa escrotal. Nós temos no Brasil algumas raças que a bolsa escrotal desce muito com a idade. Com três, quatro, seis anos anos a bolsa já desceu, fica a nível de jarrete e quando o animal anda, ele chuta o testículo. É óbvio que o testículo não é algo para ser chutado e quando ele sofre esse traumatismo do jarrete batendo no testículo, ele diminui a capacidade de produção de espermatozoide e automaticamente diminui a vida útil desse reprodutor. Então a gente tem que buscar muito animais que tenham um bom direcionamento do vergalho e que tenham uma bolsa escrotal acima do jarrete”, detalhou Lauro, dizendo ainda que assim aumenta-se a vida útil do animal e diminuindo as chances de o touro se machucar, evitando sobrecarregar os demais animais na relação touro:vaca, recomendada dentro de uma média de 25 a, no máximo, 30 matrizes por reprodutor.
“Falando de reprodução, se ele tiver essa parte de DEPs reprodutivas, como idade ao primeiro parto, stayability, perímetro escrotal, ele vai poder transmitir isso aos seus filhos também porque a gente não pode pensar no touro apenas para fazer um bezerro pesado, nós temos que pensar no touro que vai produzir bezerras que vão ser as futuras matrizes do rebanho, as mães dos próximos bois de boiada”, complementou.
Capacidade de adaptação: Fraga recomendou a busca por um animal que consiga suar, ruminar ao meio dia, no sol quente, o que dá a ele uma maior vida útil e uma maior produtividade ao longo de sua vida.
Aptidão para a produtividade: “Depois temos que buscar a parte de carcaça. Animais que tenham equilíbrio entre músculo e osso. Esse fenótipo, o que a gente vê no reprodutor, tem que ser algo que a gente busque através de um programa de melhoramento a confiança de que ele vai transmitir isso, que ele tenha DEPs para peso à desmama, para peso ao sobreano, quer dizer, a parte de desempenho”, sustentou.
Fraga ainda lembrou de aspectos não ligados diretamente à reprodução que fazem diferença na qualidade da estação de monta. “Não se esquecendo a parte de parte manejo, de bem-estar animal, de manejo sanitário, com vacinas e prevenções, e com a parte nutricional. Nós temos a grande vantagem no Brasil de ser um país continental, temos muita área de pastagem, nós não podemos esquecer. […] Toda essa capacidade de sermos hoje os maiores exportadores mundiais de carne, de ser um grande produtor de leite, se deve às raças zebuínas, se deve aos produtores rurais brasileiros que conseguem se adaptar e produzir em condições adversas”, acrescentou ainda o veterinário, mencionando também o uso de confinamento como ferramenta de terminação para melhorar a qualidade da carcaça.
“Se a gente usa um touro ruim, a única certeza que a gente tem é que a bezerrada não vai ser boa”, concluiu.
Confira a entrevista completa abaixo:
Foto: Maurício Farias / Divulgação ABCZ.