Por Jerry O’Callaghan, diretor de Relações com o Investidor da JBS
O Brasil começou a fornecer carne bovina de forma relevante no início dos anos 1980. Havia disputa entre Argentina e Inglaterra pelas Ilhas Malvinas e a postura tida como agressiva da Argentina prejudicou suas exportações. Os sul-americanos amargaram um tipo de bloqueio para carne enlatada, cozida, congelada e cortes nobres. Oportunidade para o Brasil. A indústria, após domínio de multinacionais (Swift, Armour, Wilson e Anglo) e liderada pela primeira vez por brasileiros (Bordon, Mouran, Sola e Kaiowa), estava preparada. Países como Nigéria, Iraque e Hong Kong aumentaram a demanda e logo a Europa se mostrou promissora, pois lá se produzia carne inferior por domínio de raças leiteiras.
Crescia a demanda para carnes superiores e o Brasil conquistou espaço. Mas veio a vaca louca e modificou a mentalidade dos consumidores. Além disso, a Europa restringiu sua produção de sorte a não premiar volume, mas conservação ambiental. Menos subsídios e mais controle eram a ordem. Enquanto a renda do produtor diminuía, crescia a preocupação com importações.
A rastreabilidade virou arma para limitá-las e o Brasil, alvo de legislação draconiana, diminuiu o volume exportado para quem mais comprava carnes nobres: de 350 mil toneladas em 2007, a Europa passou a comprar perto de 50 mil toneladas em 2009. Então, cresceu a demanda para nossa carne em países menos preocupados com qualidade e mais com preço, como no Norte de África, Oriente Médio e União Soviética. Os preços da carne de qualidade e da commodity se aproximaram, pois faltou opção para vender cortes nobres.
Hoje podemos ter abertura de mercados como China e EUA, mas ainda não temos solução para escoar cortes nobres em volumes que trariam valor para a cadeia, com premiações para o gado jovem e bem acabado, condizente com o custo de produzi-lo.
Coincidência ou não, em abril, a Europa mudou a legislação. Cotas que limitavam rebanho e produção de leite foram abolidas e mais gado leiteiro implica menos gado de corte. O Brasil, que não devia aceitar aquela legislação de 2008, tem oportunidade de revisitar a questão para corrigir a injustiça. Com pecuaristas informados e equipados para produzir o boi de sucesso, que merece um preço condizente, podemos servir quem está disposto a pagar. É necessário abrir acordos bilaterais com urgência. Temos vocação para produzir alimentos baratos e de qualidade e não devemos restringir a união com vizinhos do Mercosul. Temos estatura para falar por nós e o caso da carne para Europa seria um bom começo.