Nesta quarta, 20, o destaque do Giro do Boi foi para os cuidados que ajudam a evitar a incidência da raiva dos herbívoros, doença que pode ser passada por morcegos para o rebanho de gado de corte, para a tropa de equinos, em casos mais raros para suínos, ovinos, caprinos, cachorros e até para as pessoas, levando à morte. Quem falou sobre o tema foi o médico veterinário Paulo Fadil, gerente do programa de controle de raiva dos herbívoros da Coordenadoria de Defesa Agropecuária de São Paulo, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado.
O assunto ficou em evidência neste ano no país por conta da morte de ao menos 12 pessoas no estado do Pará, em uma comunidade denominada Melgaço, na ilha de Marajó. Segundo o veterinário, a zoonose não tem cura e é repassada por meio do contato direto com o morcego portador do vírus.
O ataque de morcegos hematófagos, ou sugadores de sangue, se dá geralmente em regiões com alterações em seu habitat, quando ocorre diminuição da população de presas naturais. Os morcegos, então, passam a atacar outros animais, como cavalos, bovinos e até cães e as pessoas durante a noite, entrando, por exemplo, por janelas sem proteção. “Tudo parte de um desequilíbrio ambiental”, alertou Fadil.
A transmissão da doença se dá quando o morcego que se alimentou do sangue de sua presa está infectado com o vírus, e a morte é quase certa quando a vítima não é vacinada. Nos animais, é possível perceber o ataque quando listras de sangue se espalham pelo dorso, situação característica pela substância anticoagulante presente na saliva do morcego, que faz com que o sangue escorra por mais tempo.
O contato com os animais que foram infectados pelos morcegos não é fonte de transmissão do vírus, mas indica que os morcegos, os verdadeiros transmissores, têm abrigo próximo e podem atacar. Como este tipo da raiva (dos herbívoros) não é como a tradicional, aquela conhecida por deixar os infectados furiosos, não há risco de contaminação por mordidas. Em geral, os sintomas dos animais doentes são problemas de coordenação motora, até que se deitam e vão à óbito.
Somente no estado de São Paulo, reforçou o médico veterinário, são 4.600 abrigos de morcegos conhecidos e catalogados. Duas vezes por ano, estes locais recebem visitas de equipes do programa de controle para checar se a população está aumentando em demasia, o que aumenta o risco de contaminações incomuns.
Paulo Fadil orientou os pecuaristas que perceberem que ataques estão acontecendo em sua propriedade a procurarem os programas estaduais de controle de raiva dos herbívoros, geralmente coordenados pelas secretarias de agricultura, pecuária e abastecimento. Nestes casos, não é aconselhável tentar fazer o controle por conta própria pelo risco de contaminação. No estado de São Paulo, os produtores podem acionar a coordenadoria do programa pelo e-mail [email protected].
Além disto, o veterinário reforçou a importância da vacinação na prevenção da doença. Em animais primovacinados, devem ser administradas duas doses, sendo a segunda 30 dias após a primeira. Depois disso, a vacina é anual e pode ser aplicada, por exemplo, junto ao manejo da aftosa. O custo, de acordo com o veterinário, é de menos de R$ 1,00 por cabeça.
Veja as recomendações completas na entrevista abaixo: