No Giro do Boi desta quarta, 28, o engenheiro agrônomo e doutor em ciência animal Flávio Portela, professor do Departamento de Zootecnia da Esalq/USP. Ele falou sobre como aumentar o aproveitamento energético do milho nas dietas de animais confinados ou semiconfinados, tendo em vista a recente valorização do grão na comparação com o preço do ano passado.
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“O milho é o principal alimento energético nas dietas de confinamento do Brasil e nos outros países grandes confinadores também. O milho é a base energética das dietas. E 70% do grão de milho, ou de qualquer cereal praticamente, é amido, carboidrato de alto valor energético. E nesse momento do preço do milho atual, essa disparada de preço, fica mais relevante a gente conseguir fazer o animal usar esse grão com a maior eficiência”, explicou Portela.
“Isso significa, em primeiro lugar, perder o mínimo (de amido) nas fezes. E para que você possa ter uma ideia, quando você fornece milho apenas quebrado, ou moído, o aproveitamento desse amido é na casa de 88% a 92%. Se perde às vezes 10% nas fezes. E nós temos técnicas de processamento, como por exemplo a silagem de grãos úmidos e a floculação”, sugeriu Portela, indicando formas de adequar o milho para dietas intensivas de engorda.
No Brasil, no entanto, a floculação não faz parte da realidade da grande maioria das fazendas confinadoras por depender de máquinas específicas importadas e muito caras. “No Brasil hoje vem crescendo a utilização de silagem de grãos úmidos, em que a gente consegue aumentar a digestão de amido até a casa dos 99%. Isto significa um aumento muito grande do valor energético do milho com impacto imenso no desempenho animal, podendo resultar em incrementos de 10% a 20% na eficiência alimentar do animal em quilos de ganho por quilo de matéria seca ingerida”, quantificou.
Para o pecuarista interessado em aumentar a eficiência da digestão do milho pelo bovino, Portela apresentou a técnica. “Consiste basicamente em você comprar ou colher o milho úmido, quando ele está próximo de 35% de umidade. Aproximadamente esse seria o ponto ideal. Então você quebra esse milho, mói, e tem um tamanho adequado de partícula para evitar partículas muito finas. Geralmente se faz em moinhos de rolo. Depois você ensila esse material, põe no silo e compacta. Outra forma é pegar o milho seco e moer e adicionar água ao mesmo tempo e ensilar. Chama reconstituição”, ensinou.
Segundo o agrônomo, o ponto ótimo da digestão do amido se dá por volta de 60 dias após a ensilagem, e é quando o alimento estará pronto para consumo pelos animais confinados ou semiconfinados.
O professor da Esalq/USP, no entanto, alertou para possíveis efeitos negativos do aumento da digestibilidade do amido pelo animal. “A maior degradação de amido no rúmen também aumenta o risco de acidose, portanto isso exige um manejo muito bem conduzido, um trabalho muito bem feito de adaptação dos animais à dieta de confinamento e de condução diária de confinamento, principalmente com leitura de cocho e fornecimento correto dessa dieta para os animais”, disse Portela sobre como garantir que não haja problemas no desempenho do lotes.
“Um ponto que é bastante desafiador é a questão de compreender os aspectos do crescimento animal, de deposição de carcaça, acabamento de gordura. São todos aspectos muito importantes porque hoje o mercado é cada vez mais exigente, pois ele bonifica e penalizada carcaças de qualidade adequada e de baixa qualidade, respectivamente. Então é necessário que os técnicos, os confinadores, os gerentes de confinamento conheçam e entendam o processo de crescimento”, declarou.
Veja abaixo a entrevista de Flávio Portela na íntegra: