Nesta sexta, dia 08, o engenheiro agrônomo, mestre e doutor em fitossanidade Roni de Azevedo, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, com sede em Belém-PA, concedeu entrevista ao Giro do Boi para falar sobre a dificuldade que os pecuaristas paraenses estão tendo com a infestação de cigarrinha das pastagens.
Segundo Azevedo, é importante informar que existem várias espécies de cigarrinhas e que cada tipo ocorre sobre uma região diferente. De maneira geral, o seu pico de incidência é logo nas primeiras chuvas, quando seus ovos já postados anteriormente eclodem.
O doutor em fitossanidade afirmou ainda que uma das principais características das infestações fora de controle são consequência de um desequilíbrio do meio ambiente. “Esse desequilíbrio pode ser causado por queimadas. Quando a gente tem um ano com muitas queimadas existe a possibilidade de, na estação chuvosa, aumentar a infestação porque o fogo mata muitos dos inimigos naturais que poderiam controle esses insetos”, avisou.
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Segundo o pesquisador da Embrapa, uma das chaves do controle é fazer começar o manejo da praga logo no início da infestação. “A questão é o pecuarista ficar atento, olhar a sua propriedade e fazer uma avaliação semanal logo que ocorrerem as primeiras chuvas”, recomendou. Nesta etapa, a ideia é que o produtor observe nos pastos as espumas brancas, que indicam que em breve nascerão novas ninfas do inseto.
Cigarrinha das pastagens: controle químico
Para descobrir se a infestação é alarmante, o pecuarista pode utilizar uma moldura de madeira de 25 cm x 25 cm e contar ou o número de espumas brancas ou o número de insetos já adultos. Uma rede entomológica também pode ser usada para fazer a contagem dos insetos adultos. “Se por ventura tiver muita incidência, a gente recomenda o controle só dos insetos adultos, que voam e estão superfície. Para isto existem inseticidas químicos e é importante dizer para usar aqueles que são registrados no Ministério da Agricultura”, aconselhou.
Manejo da cigarrinha das pastagens: prevenindo a infestação
“Como no Brasil a gente tem extensas áreas de pastagens, os pecuaristas ainda não consideram pasto como lavoura, como uma cultura. Por isso quando ele se assusta, o dano já está causado. Se ele faz o monitoramento na fase inicial e observar muitas ninfas, existem várias medidas para o controle”, revelou Roni de Azevedo.
Veja algumas cinco dicas
– Utilizar espécies de forrageiras mais resistentes às cigarrinhas (a própria Embrapa e outras empresas do ramo geralmente informam se o capim tem tal característica ou não);
– Lotação animal adequada para a recomendação da forrageira (o pasto não deve ser degradado, mas também não deve haver sobra de pasto, pois os insetos podem se aproveitar do bom ambiente);
– Pastagens bem formadas e bem nutridas, pois têm mais capacidade de suportar possíveis danos;
– Fazer divisão de pastagens em piquetes;
– Formar piquetes com diferentes espécies.
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A adoção destas medidas é essencial por conta de o problema praticamente não ter solução quando o pecuarista nota a morte das pastagens. Conforme explicou Azevedo, o inseto suga a seiva as pastagens e ainda injeta uma toxina. Assim, a folha do capim acaba secando. “Em um nível elevado de infestação, parece que você colocou fogo em cima do pasto, parece uma queima da pastagem”, explicou.
O problema mais se dá porque quando as pastagens estão com esta aparência, não há o que se fazer, já que o ataque da cigarrinha geralmente acontece três semanas antes de o capim ficar com este aspecto. “Quando ele vai ver é muito tarde e a planta está praticamente morta”, acrescentou.
Controle biológico de pragas: fungos versus cigarrinha
Caso a adoção das medidas listadas acima não seja o suficiente, o pecuarista pode usar o controle biológico da cigarrinha, ou o que se chama de manejo integrado de pragas, uma vez que não é possível eliminar 100% a infestação, mas minimizar seus danos. O
pesquisador da Embrapa afirmou uma série de testes feitos pela Embrapa na região de Marabá, no Pará, tem mostrado a eficiência do uso de certos tipos de fungos que ajudam a combater a praga. Mas Azevedo alertou que é preciso ter confiança no fornecedor do produto. “Você tem que saber detalhes da idoneidade de quem fornece o fungo. Ele é um organismo vivo e cabe à empresa ter cuidados no transporte e na aplicação”, advertiu.
Veja a entrevista completa de Roni de Azevedo ao Giro do Boi desta sexta: