Você costuma chamar plantas daninhas presentes em sua pastagem de plantas invasoras? Pois saiba que o conceito está errado. Segundo o mestre em agronomia Alcino Ladeira Neto, pesquisador da linha de pastagem da Dow, a cultivar invasora que não está em seu habitat natural é justamente a espécie forrageira. Por isso é difícil controlar a infestação de outras plantas, que se desenvolvem bem no ambiente em que já estão estabelecidas.
Mas o pasto dá sinais de quando está perdendo a batalha com as “juquiras”. Em entrevista concedida ao repórter Marco Ribeiro, do Giro do Boi, e exibida nesta quinta, 26, Alcino pediu que o pecuarista fique atento ao início da infestação, que pode indicar uma série de fatores. “Quando as daninhas começam a aparecer nas áreas de pastagens, é indício de que alguma coisa está errada”, advertiu.
– Manejo inadequado, com capacidade de suporte além do recomendável;
– Necessidade de reposição de nutrientes (devolver fertilidade ao solo);
– Gramínea forrageira não é a adequada para a região;
“Estes são fatores que fazem com que a produtividade nas áreas de pastagens diminua. No Rally da Pecuária, 42% de 900 consultados disseram produzir entre 1 e 6 arrobas por hectare ao ano. E está decrescendo, ano após ano, a produtividade. Somente 15% dos entrevistados estão em um patamar de produtividade entre 26 e 60 @/ha/ano e ganhando dinheiro”, espantou-se o pesquisador.
AGRICULTURA É O QUE DÁ DINHEIRO?
Em recente palestra a produtores no Encontro dos Encontros da Scot Consultoria, em Ribeirão Preto-SP, o agrônomo disse ter conversado com pecuaristas que estão investindo na agricultura em 60% ou até 80% de toda a sua área. “Criar boi não dá dinheiro? Lógico que dá, é muito produtivo, mas não nesse sistema de pecuária que estão fazendo hoje”, argumentou.
“Criar boi não dá dinheiro? Lógico que dá, é muito produtivo, mas não nesse sistema de pecuária que estão fazendo hoje”.
Um dos itens que exemplificam a maior competitividade da agricultura quando comparada à da pecuária de corte é o fato de que 99,9% das lavouras recebem ao menos uma aplicação de herbicida ao longo da safra, enquanto menos de 10% das pastagens brasileiras passam pelo mesmo trato anualmente. “É muito pouco 14,5 milhões de hectares receberem herbicidas para pastagens. A gente imagina que o restante ou é pasto muito bem formado ou faz o controle na roçadeira, que é método paliativo. São inúmeros problemas. Como vamos fazer uma pecuária produtiva no Brasil?”, preocupou-se o agrônomo, que afirmou ainda que cerca de 6% da área destinada à pecuária de corte no País recebem adubação de pastagens.
Segundo Alcino, o pecuarista desvia a raiz de seu problema e, por isso, não encontra a solução para sua baixa rentabilidade. “Ele culpa a liquidez, a relação de troca que está mais baixa ou mais alta, mas, na verdade, é a produtividade em arrobas por hectare ao ano dele que está baixa”, apontou. “Mas meu questionamento é: por que na agricultura, quando o pecuarista vai plantar a soja, ele vai arar, gradear, aplicar os tratos culturais, tirar os restos de raízes da área de lavoura, corrigir o solo com calcário dolomítico ou calcítico de acordo com a recomendação, escolher o melhor adubo e semente que se encaixe melhor no fotoperíodo de onde se encontra sua fazenda, utiliza todas as técnicas que realmente vão aumentar sua produtividade… E na pecuária não é assim?”, questionou. “Quando eu falo o pecuarista fica bravo, mas ele está muito longe do nível de tecnificação da agricultura, longe de fazer uma pecuária de ponta competitiva em qualquer situação”, acrescentou Ladeira Neto.
Para mudar o cenário que aponta que até 80% das pastagens brasileiras se encontram em algum nível de degradação, Alcino pediu que o pecuarista preste atenção ao início das infestações. “O alerta que faço é que o pecuarista perceba quando estas plantas estão infestando. Ele olha e diz que aquele início de infestação não reflete em nada, mas muito pelo contrário, é ali que tem que começar o controle de pragas. Observe seu pasto, ande pela área, saiba quanto você está ‘colhendo’ de boi, a capacidade de suporte, se está repondo os nutrientes para o solo. Se for o caso, diminua a lotação, vede o pasto, controle as espécies”, pediu.
CONTROLE DE INFESTAÇÕES
Alcino revelou ainda durante seu depoimento ao Giro do Boi que dentro dos próximos dois anos a companhia fará o lançamento de um produto – após oito anos de pesquisa – para controlar entre 50% e 60% das espécies de plantas daninhas que hoje apresentam tolerância à aplicação de herbicidas foliares. “É uma mistura de herbicidas com eficácia para controlar estas espécies como ponto de partida. Teremos esta ferramenta nova para ajudar a pecuária a sair desta situação de até 80% de pastagens em degradação. Vamos dar atenção ao que mais está atrasando a pecuária no Brasil”, concluiu.
Veja a entrevista de Alcino Ladeira Neto ao Giro do Boi desta quinta em duas partes: