Em entrevista ao Giro do Boi nesta quarta-feira, dia 10, o professor titular do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, Mário Arrigoni, falou sobre a construção do boi com marmoreio, que pode ser lucrativo ao pecuarista que busca mercados específicos para a sua carne de qualidade. “É um tema muito importante hoje, principalmente no mundo gourmet, em que os custos de produção às vezes são compensatórios, compensam em função dessa diferenciação de preço, desta bonificação que recebe a carne com destino gourmet”, reforçou.
De acordo com o especialista, o marmoreio no gado de corte tem componente genético forte e uma relação expressiva com estímulos ambientais, como a nutrição do próprio animal e da programação fetal, ou seja, a nutrição da vaca com o feto em formação.
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Na escolha da genética, Arrigoni lembrou que já existem diversas raças selecionando reprodutores pelo seu potencial de produção de carne de qualidade e marmoreio. “Existem raças que são já naturalmente selecionadas, ou pelo menos demonstram esta habilidade que é desejável hoje. Que eu possa enumerar, são Wagyu, Angus, que vêm já trabalhando com DEPs para poder identificar touros que dão mais marmoreio, e também o Nelore, que começa agora a fazer a sua caminhada. Então eu acho que as pesquisas estão interagindo neste universo de conciliar, de fazer as estratégias alimentares e encontrar a genética certa”, projetou Arrigoni.
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Arrigoni falou sobre a importância de, uma vez escolhida a genética, dar condições para a vaca desenvolver o feto da melhor forma possível. “Um dos desafios que estamos enfrentando e tentando conhecer, talvez explorar com maior eficiência, é a programação fetal, entendendo que estratégias de alimentação na formação do feto durante a gestação podem impactar positivamente para quem tem o gene, para os animais que têm a genética expressarem esta marmorização com mais intensidade”, informou.
O professor fez recomendações sobre a nutrição adequada desta matriz durante sua prenhez. “Eu acho que a ideia é modificarmos um pouco o trabalho dentro deste período de gestação, uma vez que coincide, de maneira geral, […] o final do inverno, que é quando tem menos disponibilidade de alimento, vamos dizer assim, com o maior crescimento fetal e maior demanda de energia pela vaca. Então a estratégia é tentar suplementar as vacas – o ideal seria desde o início da gestação. Mas é algo que às vezes é inviável economicamente, então estrategicamente, depois do terço inicial da gestação, mais ou menos com 80 ou 90 dias, é recomendável entrar com uma suplementação”, acrescentou.
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O especialista disse que a construção do boi com marmoreio pode passar também pelo creep feeding. “Nesta construção nós vamos ter fator genético, vamos ter que fazer uma programação para o crescimento contínuo, quer dizer, pode ser que tenha que fazer uma estratégia de creep feeding, de suplementação dos bezerros durante a amamentação”, acrescentou. Arrigoni mencionou que o objetivo do pecuarista é fazer com que a nutrição seja cada vez mais intensiva conforme o animal vai crescendo, incluindo terminação em confinamento. Para Arrigoni, esta intensificação do sistema de produção vai depender da estratégia do pecuarista.
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“Depois que eu estou construindo um animal bom, eu posso ter alguns destinos. E são importantes estes destinos conforme a economicidade da estratégia que você vai explorar, na tomada de decisão de castrar ou não um animal […] e confinar o animal”, ponderou. As decisões, conforme sugeriu Arrigoni, devem estar atreladas ao valor agregado para o produtor. “Esta bonificação é muito atrativa no momento que você decide fazer uma criação de qualidade para atender o mercado diferenciado e vai ser remunerado por isso. […] Eu acho que hoje está chegando este resultado, 6%, 7%, 9% de bonificação fazem uma grande diferença na hora que a gente tiver receitas e despesas para poder fechar as contas do confinamento”, salientou.
Arrigoni também teceu comentários a respeito da decisão de castrar ou não o animal. “A castração tem que ser muito estratégica, tem olhar muito que grupo genético que eu tenho, qual que predomina em cima de cruzamento ou não e fazer esta prática com uma tomada de decisão certeira”, disse. Para o especialista, é possível obter carne com marmoreio a partir de um animal inteiro desde que sua dieta seja concentrada – usando normalmente mais de 80% de concentrado na dieta do confinamento. “É possível ter animais também que marmorizam sendo inteiros, desde que a gente tenha uma grande energia, uma grande disponibilidade de amido, principalmente, na dieta, nas rações com porcentagem de concentrado, como a maioria dos confinamentos hoje usam acima de 80% de concentrado”, ilustrou.
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No entanto, para os mercados de carne gourmet, Arrigoni destacou que de fato a preferência é para os produtos feitos a partir de machos castrados e que a escolha entre as opções deve estar alinhada ao objetivo final do produtor, uma vez que deve levar em conta a perda de volume de carne na comparação do desempenho do boi inteiro e do castrado (cerca de 18% menor).
Arrogoni falou ainda sobre os impactos da zootecnia de precisão na produção do boi com marmoreio. Uma das tecnologias citadas foi a ultrassonografia de carcaça. “Zootecnia de precisão envolve tomadas de decisão sempre mais precoces, como com o uso da ultrassonografia. Quanto mais cedo você conhece o quanto animal tem de marmorização, você pode projetar os dias no cocho, os custos da diária (em confinamento), se vale a pena formar lotes diferentes por exigência e crescimento muscular e ainda saber a quantidade de gordura subcutânea, que também vai servir para a tomada de decisão”, ressaltou. Segundo o professor, a ultrassonografia pode também ajudar na identificação de linhagens genéticas com mais propensão a gerar animais com marmoreio.
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Veja a entrevista completa com Mário Arrigoni pelo vídeo a seguir: