Meu boi não está doente, mas não ganha peso. O que acontece?

Inimigo invisível pode fazer boi perder até 60 kg dentro de um ciclo de dois anos e vaca em lactação perder até 183 kg de leite por ano

Ocorre com certa frequência. O produtor cuida da genética, do pasto e, em meio a todo seu planejamento bem executado, o gado não ganha peso. O que está acontecendo? Nesta segunda, 06, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com o mestre e doutorando em medicina veterinária Daniel Rodrigues, gerente técnico de ruminantes da MSD Saúde Animal, para dar dicas de controle destas inimigas que muitas vezes são invisíveis: as verminoses.

Conforme explicou Daniel, a maior dificuldade de controle das verminoses nos bovinos é que os parasitas se instalam em diferentes sistemas dos bovinos, como pulmão, intestino, rúmen e pode acometer até os olhos do boi. “A verminose é um grande desafio da pecuária porque trata-se de agentes causadores de doenças que ficam em diferentes sistemas dos animais”, resumiu.

Para piorar, o produtor tem dificuldade para perceber qual problema atinge seu rebanho. “Na forma subclínica, o animal não apresenta (sintomas da) verminose e, no entanto, não consegue ter uma boa performance e o pecuarista não tem ideia. […] Então o animal está perdendo e o pecuarista não está conseguindo visualizar”, alertou.

Para as vacas em lactação, a perda chega à marca de 183 kg de leite ao longo do ano. No gado de corte, a perda de peso pode variar de 40 kg a 60 kg dentro de um ciclo de dois anos. As verminoses podem também prejudicar a reprodução, uma vez que ao impedir o ganho de peso retardam o desenvolvimento das fêmeas, que podem demorar mais tempo para criar condição reprodutiva e ciclar.

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O mestre em veterinária destacou quais são os animais que estão na faixa de risco para a perda de performance com as verminoses e qual o período do ano é o mais crítico. “O Brasil é um país que tem um arsenal de possibilidade de cuidar das verminoses, reduzir o prejuízo para o pecuarista. Importante lembrar as estratégias de controle. Nós temos vários medicamentos, mas o importante é pensar em estratégia. Hoje nós temos uma vasta cadeia de informações que mostra que em animais mais jovens é necessário realizar vermifugações mais intensivas pensando sempre também na época do ano. Então você tem que olhar dois fatores, a idade do animal e a época do ano. Quanto mais jovem e no período de transição das águas para o período seco é o momento de você intensificar o controle estratégico da verminose. Eu tenho que ter uma avaliação pela categoria animal que eu tenho na fazenda e pela época do ano que eu estou mexendo no meu gado”, recomendou.

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A época do ano pela qual passamos agora, fim das águas para início da estiagem, é quando o rebanho em uma fase em que os animais jovens saem das pastagens mais nutritivas para as de outono e inverno, que apresentam suas restrições. Aí a imunidade pode baixar e abrir porteiras que potencializam a ação dos parasitas justamente no período que a recria precisa ganhar peso para acelerar a terminação ou ganhar escore para uma boa taxa de prenhez na estação de monta, conforme lembrou Daniel.

Por isso, disse o veterinário, a vermifugação é fundamental nesta época do ano. “(Os medicamentos) São ferramentas importantíssimas porque através da utilização de antiparasitários, isto possibilita reduzir a carga parasitária no animal e, desta forma, não deixar que ela cause prejuízo para a cadeia produtiva”, indicou.

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O gerente técnico de ruminantes lembrou que a MSD Saúde Animal tem programas voltados à identificação do perfil do rebanho e do perfil dos possíveis desafios parasitários das categorias de animais para, a partir destes dados, sugerir um protocolo de vermifugação que se encaixa no calendário sanitário da fazenda. Por exemplo, no conjunto vaca e bezerro, a recomendação de produto é uma para a fêmea e outra para a sua cria. O protocolo se difere também de região para região, uma vez que o desafio para os terneiros nos pampas gaúchos são diferentes para os bezerros do Cerrado.

“Isso é fundamental para que ele possa otimizar o seu investimento e, ao mesmo tempo, ele possa usar o vermífugo mais direcionado para o desafio maior de cada categoria naquela hora” explicou Daniel Rodrigues.

O especialista comentou ainda como o desafio parasitário pode variar conforme o sistema produtivo. Na ILPF, em que a produtividade da forrageira aumenta e viabiliza o aumento da taxa de lotação por área, a concentração de animais no pasto aumenta ao risco de a verminose de disseminar pelo rebanho. Também a mudança de microclima tradicional na integração pode facilitar a proliferação dos parasitas no pasto, o que cria um desafio diferente, mas que também pode ser superado a partir de um protocolo específico.

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Veja a entrevista completa com Daniel Rodrigues pelo vídeo abaixo:

Foto ilustrativa: Gabriel Faria / Reprodução Embrapa

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