Inspirada em Temple Grandin, pesquisadora testa benefícios da desmama lado a lado

Bezerros ganharam 5 kg durante a desmama já no primeiro ano do estudo realizado na Embrapa Pecuária Sudeste

Motivada por uma das passagens de Temple Grandin (pesquisadora referência mundial em bem-estar animal) pelo Brasil em 2014, a mestre em zootecnia e doutora em ciências biológicas Cintia Marcondes, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, animou-se para iniciar pesquisas com a desmama lado a lado. Quem contou a história em reportagem da série Embrapa em Ação exibida no programa desta sexta, 24, foi a própria Cintia.

“Inspirados pela vinda da Temple em 2014, quando ela veio para um evento em Ribeirão Preto (SP), do qual a gente participou, e também com depoimento de alguns criadores que naquela época já aplicavam nas fazendas a desmama racional, eu resolvi trazer pra cá esta prática e a gente está adorando, achando muito bacana e tendo bons resultados”, relatou.

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“O principal evento que traz estresse na pecuária de corte é a desmama. Traz estresse tanto para a vaca, e ainda mais se a gente pensar que ela está prenhe, não é?, quanto para o bezerro. Isto vai afetar o ganho de peso dele da desmama até os 12 meses”, disse a zootecnista, explicando a dimensão do problema.

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Cintia lembrou que os problemas da separação abrupta dos bezerros de suas mães com o método de desmama tradicional na Embrapa Pecuária Sudeste, ainda em 2013, foram superados logo no ano seguinte, e a nova técnica já surtiu efeitos que impressionaram os pesquisadores.

“A gente adotou a desmama lado a lado. São dois piquetes próximos, com um corredor no meio e isso permite que a vaca e o bezerro mantenham comunicação, vocalização e olfato inclusive, um berra e o outro responde. […] Eles ficam neste piquete por 15 dias mas ali na primeira semana eles já começam a explorar a área e cada um vai seguir sua vida. A gente deixa por 15 dias, mas também cada fazenda sabe como incorporar esta prática, em que pasto e que estrutura tem pra poder fazer isso”, explicou.

“Aqui no nosso sistema, que é um sistema mais rústico, a pasto e sem suplementação, normalmente na desmama tradicional os bezerros, na média, não ganhavam peso nesse período devido ao estresse e às condições ambientais. E quando a gente adotou esta prática, no ano seguinte a gente já observou que a média de ganho de peso dos bezerros foi de cinco quilos, ajustando aí para macho e fêmea”, informou.

Além da cria, outras duas categorias também são beneficiadas pelo sistema: a vaca e o seu feto que já está em desenvolvimento. “A vaca quando está prenhe neste período vai ter menos estresse na gestação. E a gente já sabe todos os efeitos do estresse na gestação e no desenvolvimento do feto”, ressaltou.

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Segundo a pesquisadora, a tarefa pode ser incorporada facilmente dentro da realidade de grande parte das fazendas de cria no Brasil. “A ideia é, na data da desmama, fazer tudo que precisa ser feito: vermifugação, vacina, pesagem, e já trazer (os animais) para estes piquetes próximos e ali eles mantêm este contato e têm esta redução deste período que é o mais estressante mesmo”, enalteceu.

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Conforme adiantou a zootecnista, os próximos passos do estudo conduzido na unidade vão buscar efeitos da desmama com a vaca madrinha e da suplementação ao longo do processo.

Veja a reportagem sobre a desmama lado a lado na íntegra no player a seguir:

 

Foto: Gisele Rosso / Reprodução Embrapa

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