Embrapa estuda tecnologia para fortalecer 'calcanhar de Aquiles' do agro brasileiro

País importa até 90% do potássio e 60% do fósforo que consome como fertilizantes, mas pesquisa pode transformar problema ambiental em solução sustentável

Em episódio inédito da série Embrapa em Ação que foi ao ar nesta sexta, 12, o engenheiro agrônomo Vinícius Benites, mestre e doutor em solos e nutrição de plantas e pós-doutor pelo CSIRO Land and Water, na Austrália, falou sobre as pesquisas da Embrapa que visam transformar resíduos produção animal de um problema ambiental em solução sustentável para um dos pontos mais fracos do agro brasileiro – a importação de fertilizantes.

Como o Brasil importa até 90% do potássio e até 60% do fósforo que consome, este pode ser considerado um “calcanhar de Aquiles’ para o alto desempenho da agropecuária nacional, já que o país torna-se dependente de fatores externos, como variação cambial.

“É o cenário que nós temos e não vai mudar no curto nem no médio prazo. O Brasil é realmente dependente de fertilizantes. No caso do potássio, a gente importa mais de 90% do potássio que a gente consome. No caso do fósforo, em torno de 50% a 60%. Mas esse cenário é questão geológica, nós não temos reservas. Então nós vamos ser dependentes por muito tempo, mas não significa, por nós sermos dependentes, que nós vamos deixar o assunto de lado. Nós temos que usar tecnologia para minimizar os impactos disso”, garantiu Benites.

O pesquisador falou sobre as pesquisas da Embrapa envolvendo a produção de fertilizante organomineral granulado produzido a partir de dejetos de suínos e aves no Brasil. “Os organominerais são uma tecnologia que já existia há algum tempo, mas nós temos trabalhado no nosso laboratório com muito afinco porque isso está relacionado com a bioeconomia, economia circular, em que você recicla nutrientes e também é uma tecnologia que vem ao encontro das nossas necessidades de diminuir os impactos da dependência externa de fertilizantes”, informou.

“O nosso grande apelo foi principalmente em relação a suinocultura e avicultura. É importante colocar que se você considerar o resíduo que é produzido por suínos e aves no Brasil hoje, anualmente, a quantidade de nutrientes contida nesses resíduos representa em torno 20% da demanda nacional de fertilizantes. Nós estamos falando de 1/5 do fertilizante que nós usamos. […] O Brasil é um protagonista da produção de aves, de carnes de forma geral. Se nós somarmos a bovinocultura ainda, esse valor vai ser maior. Então o mínimo que nós temos que fazer são tecnologias para aproveitar melhor esse resíduos”, exaltou.

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O agrônomo lembrou que seu trabalho com pesquisas a respeito dos organominerais pela Embrapa começou em 2006. A tecnologia começou a ser testada pela alta produção destes resíduos no estado de Goiás, forte produtor de aves e suínos. Depois de anos de testes em bancadas, a tecnologia foi levada a campo e atualmente já se tornou comercial por meio do processo de transferência de tecnologia da própria Embrapa para o setor privado.

Foto: Reprodução / Embrapa Solos

Benites revelou que o Brasil é hoje referência em tecnologia da produção de organominerais a partir de dejetos de aves e suínos, lembrando que quando esteve em capacitação na Austrália, alguns dos maiores pesquisadores de fosfato do mundo ainda não tinham conhecimento da possibilidade. “Era um assunto novo para eles, eles não conheciam muito do organomineral. Então eu posso dizer para você que o Brasil é um dos grandes protagonistas mundiais neste tipo de tecnologia”, confirmou.

Conforme informou o pesquisador, a primeira versão comercial do produto disponível é um granulado feito de uma mistura de cama de frango com fosfato monoamônico – MAP, com uma formulação final de NPK 5-20-2. Pelo seu formato, ele pode ser usado em máquinas que fazem o plantio direto de soja e milho, por exemplo.

Mas a Embrapa quer descobrir e validar novas fórmulas do composto. Benites estimou que o mercado que ainda está em desenvolvimento vai ganhar relevância dentro do país nos próximos anos. “Sem medo de errar, é um mercado que vai expandir muito no Brasil nos próximos anos. Já tem várias indústrias de organomineral e o que nós estamos fazendo aqui na casa é trazer ciência para esta nova tecnologia, entender melhor os funcionamentos, os mecanismos de ação, que tipo de tecnologia que pode agregar ao que existe hoje para tentar produzir um produto mais viável técnica e economicamente”, sustentou. Entre as novas tecnologias sendo testadas está o acréscimo de micronutrientes, além de cálcio, magnésio e enxofre.

Além de oferecer uma solução relevante para o cenário de importação de fertilizantes, os organominerais reforçam ainda a bioeconomia nacional, ou seja, criando soluções com sustentabilidade porque encontra destino para resíduos que poderiam contaminar o meio ambiente. “Você trabalha de forma racional com resíduos e trabalha com reciclagem. São técnicas bem vistas pelo mercado e isso agrega valor ao sistema de produção. A ideia de você produzir um organomineral e ter sistema de produção que utilize este produto vai trazer maior chance deste produto ser considerado produto verde e agregar valor via bioeconomia. O mercado a cada dia mais pede isso”, valorizou.

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Benites afirmou que a Embrapa está trabalhando com coleta de dados para quantificar a redução de impactos ambientais que os organominerais trazem às cadeias produtivas em relação a estoque de carbono, não contaminação do meio-ambiente e outras vantagens. “Nós já fizemos um ensaio em Rio Verde (Goiás) mostrando que quando transformamos resíduos da suinocultura em organomineral granulado, você zera essa emissão (de gases de efeito estufa), então falta agora isso ser computado e adicionado no sistema para gerar valor e agregar valor ao sistema de produção”, ilustrou.

O pesquisador deixou à disposição de produtores ou potenciais investidores interessados na transferência de tecnologia o SAC – Serviço de Atendimento ao Cidadão – da Embrapa e também seu próprio e-mail, vinicius.benites@embrapa.br.

+ Acesse aqui o estudo da Embrapa “Produção de fertilizante organomineral granulado a partir de dejetos de suínos e aves no Brasil”

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Veja a entrevista completa com Vinícius Benites no vídeo a seguir:

 

Foto em destaque: Vinícius Benites / Embrapa Solos

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