Zootecnista revela o "melhor amigo" do boi bem acabado de até 30 meses

Danilo Grandini sustentou que pior decisão seria reduzir a intensificação mesmo em meio a um desafio dos custos de produção: “máquina parada enferruja”, comparou

Em entrevista ao Giro do Boi nesta segunda-feira, dia 14, o zootecnista e diretor de marketing da Phibro Animal Health para o Hemisfério Sul Danilo Grandini confirmou sua projeção escrita em artigo recentemente publicado de que o Brasil precisa dobrar a sua produção de animais terminados em confinamento, saindo do patamar atual de cerca de seis para 12 milhões de cabeças engordadas em sistema intensivo. Para alcançar este número, no entanto, o especialista indicou que os insumos usados no cocho, principalmente o milho, precisam ser melhor aproveitados.

A constatação de Grandini veio da comparação do desempenho da engorda de gado de corte no Brasil com outros concorrentes. “A gente se baseia pelos outros e se comparar é sempre muito importante entender o momento que está hoje e tentar fazer uma previsão para o que vem pela frente”, ressaltou.

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“Até os nossos concorrentes, vamos chamar de carinhosamente assim, entendem que o modelo brasileiro vai mais para o grão e não tem volta. Se nós olharmos a pecuária do mundo, o Brasil é país que menos usa grãos em percentual ao rebanho que tem. […] Se a gente colocar nosso inventário todo, 1% do nosso inventário estaria sob regime grão a qualquer dia do ano. E o segundo colocado é a Argentina com 1,2%. Para ter ideia, África do Sul e Austrália estão próximos de 4,2% do rebanho que estão sob grão a qualquer dia do ano. Quando a gente vai para México e Estados Unidos, são 10%. Então é um caminho sem volta. Esses ajustes de preços que a gente está vendo aqui e ajustes de modelo de produção para ficar na nossa discussão aqui de hoje são até os próximos cinco anos. Mas é um caminho sem volta, na minha opinião pessoal”, comentou.

Grandino recordou que o cenário desafiador de preços dos insumos e relações de trocas não é novidade no Brasil. “Cada vez está mais claro que nesses momentos de ajustes, se você tem o bezerro, se você faz a recria, você mitiga boa parte dos seus problemas. O modelo da pessoa que está comprando o boi magro para engordar, esse cenário que está um pouco confuso agora. Mass se nós buscarmos eficiência, se nós conseguirmos engordar um animal que tenha um custo de produção um pouco menor do que o custo de venda, seja para alargar esse gap entre custo de produção e venda, a gente também entra no caminho bom mesmo para quem compra o boi magro. O que a gente está passando agora é um momento muito delicado, mas é pontual e isso aconteceu em 2011 também. Essas relações de custo e margem muito estreitas, até relação de troca do boi gordo para o bezerro e a relação de troca do boi gordo por saco de milho em 2011 era muito parecido com hoje, então não é novidade. Há dez anos nós já passamos por isso”, lembrou.

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Grandini apontou ainda que este desafio dos custos de produção não acomete somente o Brasil neste momento. “O México é totalmente dependente dos insumos dos Estados Unidos. Boa parte do milho do México vem dos Estados Unidos, e o milho subiu no mundo inteiro. Então o México sai para praticamente 46% da receita do confinamento que vai para insumo, enquanto antigamente eram 30%. O México sempre teve um custo alto em relação à dieta. mas hoje é 46% da receita. A gente vê que o Brasil era na faixa de 20% no histórico de cinco anos para trás, mas esse ano está na faixa de 26%. Então houve também um impacto no custo de produção para nós aqui. O que nos preocupa, de novo, são momentos de ajuste, e o Brasil está passando por isso. A gente vê também a Argentina, outro parceiro que a gente vê que no passado tinha um custo muito baixo para produzir animais, em que perto de 23% da receita eram para comida e hoje são 35%. Então é um momento global, pontual, uma demanda tanto de grão como de proteína a nível global. São momentos de ajuste em que a gente tem que passar esse ano. E talvez não tenha sido uma surpresa tão grande, desde o ano passado isso vem acontecendo e a gente tem que ter calma, saber que passa e nos preparar para o futuro”, tranquilizou Grandini.

MÁQUINA PARADA ENFERRUJA

Segundo o consultor, o pior caminho que a pecuária brasileira pode escolher seguir agora é justamente o de tirar o pé da intensificação, sob a pena de descolar da realidade da pecuária mundial. “Parar é sempre a pior opção porque a demanda por proteína não vai acabar. Então parar nesse momento é a pior opção. Uma máquina parada enferruja. A gente tem que andar para frente, tem que aprender com o modelo, tem que buscar eficiência. Além disso, a conta está no positivo, ela não está no negativo. Ela está inferior do que a gente gostaria que estivesse, mas não que está no negativo”, salientou.

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MELHOR AMIGO DO BOI ABATIDO COM ATÉ 30 MESES 

Segundo Grandini, superar o desafio de aumentar o volume de cabeças engordadas de forma intensiva passa por ajustes secundários, como redução da idade de abate. “Tem muito espaço. Nós temos que trazer o rebanho para ser abatido por volta de 30 meses de idade e isso não acontece ainda. É óbvio que na pecuária do Brasil existe, sim, um movimento nesse sentido, mas na média nós não estamos abatendo boi abaixo de 30 meses, que é como nós vamos tirar o maior proveito da estrutura que nós temos. E o grão é o melhor amigo. Nós podemos fazer muito com o pasto, mas quando chega na fase final de engorda, quando você tem que colocar o tecido gordo, aí é complicado e aí a gente precisa do grão como ferramenta. Ou usar o grão em todo o período de recria com uma quantidade maior, com taxa de 850 gramas por dia do desmame até o abate, o que é muito difícil só com pasto. Mas a gente acredita que o modelo nosso é de inclusão de grão no momento final de engorda se nós quisermos produzir um animal com menos de 30 meses e com quantidade de tecido gorduroso maior, mais bem acabado”, sustentou.

Grandino ressaltou, porém, que o pecuarista brasileiro ainda tem margem para aproveitar mais o “melhor amigo” da pecuária de ciclo curto. “Se a gente olhar a eficiência nossa no uso do milho na engorda, nós somos o país que mais usa energia para produzir um quilo de peso vivo. Se nós olharmos esse gráfico aqui (veja abaixo), em equivalente energia, que a gente transforma toda energia que o boi usa na fase final em milho, […] e nesse caso a gente está retratando em equivalente ao quilo de milho, então o equivalente a energia que está dentro do milho, no Brasil, nós gastamos 7 kg de milho para produzir um quilo de peso vivo. Ao contrário do que a gente vê, por exemplo, na África do Sul e Austrália, onde eles gastam 5,5 kg. Existem tecnologias lá que nós não temos ainda. Mas se nós olharmos nosso vizinho mais próximo, que é a Argentina, ele já está melhor do que nós, está por volta de 6,7, 6,8 kg. E olha que a Argentina mata um animal com uma carcaça muito pequena, com uma eficiência de engorda em termos de quilo de peso vivo até menor do que nós. Então tem espaço em qualidade também, tem espaço em tecnologia. Não é só dobrar de tamanho, é melhorar aquilo que se faz”, justificou Danilo.

O zootecnista detalhou os ajustes que podem ser feitos para melhorar os resultados. “Processo, manejo, processamento do próprio grãos, trabalhar com dietas mais pesadas. No Brasil a gente ainda trabalha com dietas mais leves e cada vez que você concentra a energia, você faz melhor uso da própria energia. A gente até brinca e quando o pessoal fala que o milho está caro, a gente responde: ‘use mais milho. No sentido de que você tem que aumentar a energia da sua dieta para poder usá-la melhor. É como um contra senso, mas faz sentido no ambiente mais caro você até aumentar a quantidade dele para melhor usá-lo”, explicou

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Ainda em sua participação, Grandini projetou que o momento de alta de insumos e desafios maiores para a pecuária intensiva é, de fato, passageiro. “O mercado se ajusta, como a gente viu ano passado. As coisas vão se ajustando para possivelmente no ano que vem a gente ter um cenário pelo menos de custo mais favorável porque a gente vai buscar eficiência e vai conseguir diluir as referências no sistema de produção. E nisso nós somos mundialmente favorecidos”, concluiu.

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A entrevista completa com Danilo Grandini pode ser vista pelo player abaixo:

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