Valorização da fêmea atrai criadores para cruzamento com Simental

Criador destacou ainda que variedade de linhagens da raça faz com que cruzamento possa ser utilizado nas diferentes regiões e climas do País

“A raça surpreende! A gente percebe a cada dia que é uma raça que tem muitas características e quando você usa, mede e compara, você se apaixona pelo resultado”, resumiu assim o pecuarista Carlos Gomes, titular da Agropecuária Rodomeu, em Piracicaba, expoente criatório do Simental PO brasileiro.

“Estamos com gado puro já há uns 12 anos e com o cruzamento industrial há quase 30 anos”, lembrou Gomes. O produtor contou em entrevista ao Giro do Boi nesta segunda, 19, que aprendeu ainda durante a faculdade de zootecnia na Unesp de Botucatu-SP sobre os benefícios do cruzamento industrial. “Lá eu aprendi que o cruzamento industrial faz toda diferença na produtividade do rebanho de corte e venho aplicando isso há quase 30 anos no rebanho da família”, recordou.

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Gomes contou que no primeiro impulso do cruzamento industrial no Brasil, ele optou por restar diversas raças, com o Simental se destacando. No entanto, introduzir e persistir com o cruzamento industrial na cria, recria e engorda de gado de corte não foi sempre um caminho fácil. “Como toda tecnologia nova, quando ela é introduzida, nós temos aquele boom que todo mundo quer fazer, todo mundo se atira no negócio, mas cometem-se muitos erros. Eu acho que no passado, no início do cruzamento industrial, foram cometidos muitos erros, até mesmo por desconhecimento, por falta de estudos com esses animais e manejos adequados para esses animais. Tudo era novidade e o Brasil é muito grande, é um país muito plural nesse sentido. Então hoje já tem 30 a 35 anos que houve esse boom, muitos estudos foram feitos, as universidades trabalharam com isso, a Embrapa teve um desenvolvimento importante em manejos de capim, o próprio manejo da IATF facilitou demais, porque não é toda raça europeia que você consegue fazer o touro ir lá e cobrir”, ponderou.

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“Cerca de 80% do rebanho nosso ainda não usam inseminação artificial, mas a IATF veio para mudar muito isso porque você consegue, através da inseminação – e agora nós estamos naquela fase de ajustar o cruzamento industrial – corrigir os pequenos probleminhas que ainda temos. Por exemplo, não são todas as raças que cobrem a campo para fazer o repasse desses animais que são inseminados. É aí que entra o Simental Brasileiro e o Simbrasil, que têm dado resultados. Quer dizer, é mais uma ferramenta para o produtor ter mais um percentual de gado que é muito importante. Apesar de a arroba do boi hoje estar muito valorizada, os custos também estão muito altos, então nós não podemos nos dar ao luxo de perder nenhuma fatia de ganho potencial. Mas a heterose é de graça, ela está aí, é simplesmente […] colocar um touro europeu que você já tem um ganho de 15 a 20% na produtividade do seu rebanho. Isso por si só já justifica o cruzamento industrial”, opinou Gomes.

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Entre os trunfos que a raça tem no Brasil, segundo o selecionador, está o fato de que dentro das suas diversas linhagens existem animais aptos para as diversas realidades do País. “O Simental tem várias linhagens e essa é uma grande qualidade da raça. De vez em quando ele acaba sendo mal usado, até gerando problemas porque a gente precisa ser muito técnico e orientar o criador com aquilo que realmente vai trazer resultado para ele. Mas hoje nós temos a linhagem Simental brasileiro, que teve origem lá no Espírito Santo, que é o que a gente cria na Agropecuária Rodomeu. É um animal bastante rústico, bastante adaptado. A gente vem vendendo touros para o Pará, Rondônia, Tocantins já há alguns anos e sempre temos bons resultados. Nós não tivemos nenhum problema com adaptabilidade desses animais”, revelou.

Para a cobertura a campo em regiões com clima mais exigente em relação ao calor, o pecuarista salientou ainda a alternativo do uso do Simbrasil. “Hoje nós temos tanto o Simental brasileiro quanto o Simbrasil, que é o híbrido feito com a nossa raça. São animais que cobrem a campo tranquilamente, em qualquer condição hoje no Brasil. Nós estamos já vendendo touros para diversas regiões do Norte, no Nordeste, no Centro-Oeste como um todo e esses animais estão adaptados a estas temperaturas. São animais de pelo curto, com precocidade sexual, com libido sexual muito forte. A fertilidade é uma característica marcante do Simental. São touros que correm atrás da vacada. Em programas de IATF, por exemplo, cujo uso vem crescendo a cada dia, se você usar o touro Nelore pra fazer o repasse você perde o fator híbrido em um percentual importante no nascimento dos seus bezerros. Mas ao usar os touros tanto Simbrasil quanto Simental brasileiro, eles vão cobrir, vão te dar esse resultado de prenhezes com o híbrido – o F1 -, que é bastante importante economicamente para o produtor. Isso faz muita diferença e só essa diferença de valor paga o touro com sobra”, observou.

Tourinho Simental cobrindo vacas Nelore a campo.

Carlos ressaltou quais são os primeiros impactos do cruzamento com a raça dentro da porteira. “Os grandes diferenciais da raça Simental são a sua velocidade de ganho de peso e a fêmea. Nós estamos falando em F1, no bezerro que vai nascer do pecuarista que tem a vaca branca e vai usar o Simental como touro. O macho dispensa apresentações: o ganho de peso do Simental é muito forte, a velocidade desse ganho de peso… Você vai abater esse animal mais cedo, vai tratar dele por menos tempo. Mas a fêmea também é muito valorizada no mercado. A fêmea F1 é uma excelente mãe! Ela desmama um bezerro bastante pesado porque tem mais leite e ela é muito fértil. […] E, principalmente, a fêmea hoje vem sendo muito valorizada no gado de corte, como no confinamento, em produção de carne. Você produz hoje uma novilha com tanta qualidade como se fosse um macho, com tamanho de peças. Tanto é que se você vai ao mercado hoje ver o valor da arroba da novilhas, ela paga só de 2 a 3% abaixo do preço do macho, então ela é muito procurada. Eu tenho vendida fêmeas meio-sangue Simental pelo mesmo preços dos machos meio-sangue Simental nas categorias de bezerros e garrotes e isso por si só já vale o investimento na raça. Acho que essa é a grande justificativa para se usar o Simental hoje”, enalteceu.

Exemplo de cruzamento industrial: touro Simental em vaca Nelore.

Velocidade de ganho de peso é uma das características da raça.

O selecionador também exaltou a importância da qualidade de carne para rentabilidade do produtor. “Todo diferencial que você tem, seja ele em rentabilidade ou facilidade de venda do teu produto, isso vai fazer com que o pecuarista invista para conseguir aquele bônus, aquele benefício. Produzir uma carne de qualidade há alguns anos no Brasil era muito mais difícil porque você não tinha certeza de venda para esse mercado mais valorizado. Você não tinha o consumidor conhecendo este produto, então todo esse trabalho feito pelos frigoríficos no Brasil, focado neste mercado de qualidade, focado na carne mais nobre, isso valoriza o trabalho do produtor e a ferramenta do cruzamento industrial vem justamente para te dar isso. O boi europeu tem no seu gene a característica de maciez e de suculência que muitas vezes o Zebu não traz. É a forma mais rápida e melhor de se fazer esta carne de qualidade. Isso eu acho que não tem mais volta, caiu no gosto do brasileiro, caiu no gosto do mercado. A gente já vem exportando carne desse padrão e tudo isso traz rentabilidade para o produtor, para a cadeia toda, na verdade”, complementou.

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Assista a entrevista completa com o criador e empresário Carlos Gomes:

 

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