Usando técnicas da pedagogia, produtora transformou fazenda em referência na gestão de pessoas no PR

Pedagoga Tábata Stock compartilhou experiências como gestora rural e destacou benefícios indiretos que a gestão de pessoas traz para dentro da porteira

Quem é pedagogo e trabalha com agropecuária está atuando em sua área? Segundo a gestora rural Tábata Stock, que é gestora do Grupo Família Stock, com propriedades localizadas no estado do Paraná, sim. Em entrevista ao Giro do Boi nesta quarta-feira, dia 28, a pedagoga que ingressou nos negócios da família há nove anos contou sua experiência de sucesso ao adotar técnicas que aprendeu em sua formação acadêmica para transformar os resultados das fazendas e construir uma referência na gestão de recursos humanos.

“Isso causa bastante estranheza e até todo mundo me pergunta: ‘puxa, mas você é pedagoga, então você não trabalha na sua área?’. É a frase que eu mais escuto e sempre rebato: ‘não, eu trabalho, sim, na minha área’. Aí todo mundo se espanta. Como assim uma pedagoga trabalha na sua área dentro de uma propriedade rural? Como pode existir isso?”, contou Stock.

“Então deixe eu tentar explicar de forma objetiva para o pessoal entender. Eu trabalho diretamente com gestão, fazendo um RH bem vivo no dia a dia da empresa, no dia a dia da fazenda. Tudo aconteceu da seguinte forma: prestes a me formar na graduação, meus pais fizeram o convite, dizendo que queriam entrar num ramo de qualidade, de certificações (dos produtos da fazenda). Na época, isso era uma tendência que se falava muito dentro do agronegócio e precisava de alguém realmente da área de gestão, de RH para efetuar todo esse trabalho. Então eles me convidaram e eu topei, aceitei enfrentar essa rotina junto com eles dentro das propriedades. Mas já digo que de fato foi um desafio gigantesco e não só no início, mas ainda é até hoje porque é muito inovador, o pessoal ainda desconhece como funciona esse sistema, o que realmente eu faço, em que isso agrega. É muito desconhecido tudo isso ainda. É um desafio gigante” revelou a gestora.

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Tábata contou suas origens para chegar até a posição que ocupa atualmente. “Na verdade, eu sou a terceira geração (de agricultores). Nossa história começou com o meu avô paterno, que é europeu. Ele fugiu da Segunda Guerra Mundial e colonizou a região de Guarapuava. Eu moro em um distrito chamado Entre Rios e hoje esse distrito é bem conhecido como uma colônia de alemães. Mesmo depois de tanto tempo a gente conseguiu manter hábitos. Então meu avô começou, depois o meu pai e hoje eu estou ingressando juntamente ao meu pai. Nós trabalhamos juntos. Ele está trabalhando e eu estou nessa fase de aprendizado. Já vai completar quase nove anos que eu trabalho com meu pai”, disse.

Além dos desafios da agropecuária em si, a pedagoga salientou as adversidades impostas pelo processo natural de sucessão familiar. “É bem desafiadora toda essa questão porque esse conflito de gerações existe. O mundo vai se atualizando e o agronegócio tem atualizações contínuas a todo momento. E isso é marcante no nosso dia a dia. É um desafio muito grande trabalhar com família e também é um desafio muito grande ser mulher e trabalhar dentro do agronegócio. Então eu posso dizer que a minha jornada é cheia de desafios, eu acho que o maior deles é trabalhar com gestão de pessoas dentro desse âmbito rural”, analisou.

Ao lado de seu pai e seu filho, Tábata já prepara a próxima geração para o processo de sucessão.

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A produção do Grupo Família Stock está voltada para a produção de grãos, sendo que em uma das propriedades em Guarapuava, a Fazenda Rio do Pedro, a integração lavoura-pecuária-floresta foi adotada.

Quando recebeu o convite para se juntar aos negócios da família, a tarefa e Tábata era formar uma equipe à altura de conquistar objetivos como a obtenção de certificações para os produtos e processos da empresa rural. “Nós começamos, então, com o objetivo de adquirir a certificação do programa 5S. […] Foi aí que eu implementei algumas técnicas pedagógicas, e eu vou citar duas delas. […] A primeira delas […] se chama comunicação não violenta, essa é uma das técnicas que eu utilizo dentro da propriedade. E a outra é a avaliação 360º, tudo bem chocante para quem não é da área”, informou a gestora.

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A partir desta metodologia, Tábata conta como começou cobrir um dos principais gargalos das fazendas do Brasil: a mão de obra qualificada. “O meu foco é trabalhar diretamente com a equipe, com a evolução do colaborador. Eu acredito no seguinte: o mundo pode estar super tecnológico e a gente sabe que tem uma tecnologias de ponta, cada vez maiores, principalmente no agronegócio. Nós sabemos disso, mas ainda assim as pessoas são fundamentais porque são elas quem vão conduzir, manusear todos esses equipamentos, todos esses maquinários. Então por trás de todo tipo de atividade, de todo tipo de serviço, nós precisamos de uma mão de obra qualificada. E eu tenho conversado com muitos colegas do Brasil inteiro que dizem e comentam comigo que uma das maiores dificuldades hoje em dia é encontrar mão de obra qualificada. Não que não seja um problema para nós também, mas a gente tem que começar. Precisa de um começo. E eu fui a pessoa que acreditei nesse começo”, recordou.

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“PIOR DO QUE TREINAR SEU FUNCIONÁRIO E ELE SAIR É NÃO TREINÁ-LO E ELE FICAR”

Stock deixou um recado também para os produtores que têm receio de capacitar os funcionários e perdê-los em meio a um mercado cada vez mais competitivo. “Tem uma frase que eu gosto de usar que é muito legal e diz respeito ao treinamento de funcionários. E eu gosto de falar essa frase porque é exatamente o que eu aplico, é exatamente o que eu penso. ‘Pior do que treinar o seu funcionário e ele sair […] é não treiná-lo e ele ficar’. Essa frase traduz a minha crença sobre investir nos colaboradores”, sustentou a pedagoga.

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Tábata destacou alguns dos resultados que obteve com o trabalho focado na gestão de pessoas do Grupo Família Stock. “Nós somos filiados a uma cooperativa que se chama Cooperativa Agrária, então pela cooperativa, sim, depois de termos adquirido algumas certificações […], selos e ISOs nós tivemos direito a bonificação, ou seja, o nosso produto passou a valer um pouco mais […] Mas sabe que esse não é o grande resultado? […] O resultado maior, a diferença maior, o que nos trouxe de positivo toda essa mudança foi, de fato, o dia a dia. A gente passou a ter menos manutenção de todas as coisas, o funcionário quando tem um senso de pertencimento observa as suas atividades, cuida das coisas que manuseia de outra forma. Então o desperdício é muito menor, o cuidado que o funcionário tem com as coisas é muito maior e a produtividade, de forma indireta, cresce. E, claro, não é assim da noite para o dia, que fique bem claro isso. Isso é uma construção a longo prazo. Quando você investe em pessoas, isso não é o resultado de um mês, dois meses. São anos. Você precisa começar do zero e é gradativo, esse processo é lento mesmo”, ponderou.

Tábata reforçou que o investimento em RH trouxe ainda outros benefícios indiretos para os colaboradores. “Hoje eles sabem se comunicar de uma melhor forma. Quando eu entrei, eles não sabiam nem se comunicar direito. Hoje é nítida a evolução da propriedade. E a gente não pode deixar de relacionar uma boa comunicação com uma boa produtividade. Tem tudo a ver. Então esses tipos de resultados, pequenos no dia a dia, […] fazem toda a diferença”, frisou.

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A entrevista completa com a pedagoga e gestora rural Tábata Stock pode ser vista pelo player abaixo:

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