PESQUISA

Bagaço da maçã pode ser alternativa para pecuária de corte em SC

Pesquisadoras da Epagri estudam viabilidade do resíduo na alimentação do gado

Bagaço da maçã pode ser alternativa para pecuária de corte em SC
Bagaço da maçã pode ser alternativa para pecuária de corte em SC

A Estação Experimental de Lages, unidade da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), está conduzindo um estudo inovador sobre o uso do bagaço da maçã como suplemento alimentar para bovinos de corte.

O projeto busca aproveitar a enorme oferta da fruta na Serra Catarinense e oferecer uma solução sustentável para produtores e indústrias.

A pesquisa é liderada pelas zootecnistas Vanessa Ruiz Fávaro e Ângela Fonseca Rech, que analisam os potenciais nutricionais e logísticos do resíduo, considerando seu impacto na engorda de bovinos.

O estudo foi motivado pelos bons resultados já obtidos com subprodutos agroindustriais, como bagaço de laranja, uva, abacaxi e até resíduos de cervejaria, que têm demonstrado benefícios na nutrição animal.

Benefícios nutricionais e conservação do bagaço

A zootecnista Ângela Fonseca Rech, pesquisadora da Estação Experimental em Lages. Foto: Pablo Gomes/Epagri

O bagaço da maçã, subproduto do processamento industrial da fruta, é pobre em proteína, mas rico em energia. Ele contém carboidratos solúveis e de fácil digestão, proporcionando uma liberação rápida de nutrientes para os animais.

No entanto, as pesquisadoras alertam que a inclusão desse resíduo na dieta deve ser feita de maneira equilibrada, combinando-o com outras fontes proteicas, como farelo de soja ou ureia, para garantir um regime alimentar adequado aos bovinos.

Outro fator importante analisado no estudo é a forma de armazenamento do bagaço. Devido à sua alta umidade, aproximadamente 80% de seu volume, o resíduo se deteriora rapidamente quando exposto ao ar.

Para evitar perdas e garantir um uso eficiente, as pesquisadoras recomendam a conservação na forma de silagem. Segundo os testes já realizados, o bagaço pode ser armazenado em silos fechados por no mínimo 40 dias, mantendo-se em boas condições por até um ano.

Há expectativas de que esse prazo possa se estender para dois anos, desde que o ambiente de armazenamento permaneça sem oxigênio, prevenindo fermentações indesejáveis.

Uso estratégico na suplementação do gado

A zootecnista Vanessa Ruiz Fávaro, pesquisadora da Estação Experimental em Lages. Foto: Pablo Gomes/Epagri

A pesquisa foca especialmente no gado criado em regime de pastejo, onde há oscilações na disponibilidade de forragem ao longo do ano.

No outono, período crítico de escassez de pastagem, o bagaço da maçã pode servir como suplemento estratégico para manter o desempenho dos animais.

A recomendação das especialistas é que os produtores aproveitem a colheita da maçã, que ocorre entre fevereiro e abril, para armazenar o bagaço em silos e utilizá-lo durante os meses de menor disponibilidade de pasto.

Essa estratégia pode garantir um melhor aproveitamento dos recursos alimentares e reduzir a necessidade de ração comercial, diminuindo os custos da propriedade.

Oportunidade econômica para produtores e indústrias

A zootecnista Ângela Fonseca Rech analisando a silagem de bagaço de maçã. Foto: Pablo Gomes/Epagri

Além dos benefícios nutricionais e estratégicos para a pecuária, a utilização do bagaço da maçã também representa uma oportunidade econômica para a indústria de processamento de frutas.

Atualmente, esse resíduo é considerado um problema ambiental, pois, quando descartado de forma inadequada, pode poluir o solo e a água.

Transformá-lo em alimento para bovinos, portanto, não apenas reduz os impactos ambientais, mas também permite que as indústrias lucrem com a comercialização do subproduto.

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Os pecuaristas, por sua vez, podem ter acesso a um alimento energético a um custo reduzido, quando comparado a ingredientes tradicionais como o milho. Entretanto, como o bagaço não tem um padrão fixo de qualidade, sua composição pode variar de acordo com o processo industrial pelo qual passou.

Assim, as pesquisadoras recomendam que os produtores realizem análises bromatológicas antes de incluí-lo na dieta dos animais. Esse tipo de avaliação pode ser feito em laboratórios particulares ou na própria Estação Experimental de Lages, que presta esse serviço em Santa Catarina.

Pesquisa financiada e perspectivas futuras

O projeto da Epagri conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e tem parceria com a empresa TC Agronegócios, fornecedora do bagaço de maçã para os testes.

As pesquisadoras planejam lançar um boletim técnico até 2026, com um guia detalhado sobre o uso correto do resíduo na alimentação de bovinos.

A publicação trará informações sobre as melhores práticas de armazenamento, proporções adequadas na dieta e indicações específicas para diferentes categorias de animais. Dessa forma, os produtores poderão adotar essa solução com maior segurança, aproveitando ao máximo o potencial do bagaço da maçã.

Com essa pesquisa, a Epagri contribui para o avanço da pecuária de corte em Santa Catarina, promovendo a sustentabilidade e agregando valor a um subproduto que, até então, era tratado apenas como descarte industrial.

O estudo reforça a importância da inovação na pecuária e destaca o potencial de novos insumos para a alimentação animal, beneficiando tanto os criadores quanto a indústria frutífera da região.

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